quarta-feira, 22 de agosto de 2018




DIA DE VERÃO         


O dia nasceu azul, azul.
É verão.
Faz muito calor.
Sabe bem mergulhar na água do mar
e nadar, nadar, nadar.
Sentir a água no corpo é uma maravilha.
De tão transparente
vê-se o fundo
e até alguns peixinhos.

O dia nasceu azul, azul.
O sol brilha com intensidade
e o melhor é mesmo mergulhar,
na água fria do mar
nesta água transparente.

O dia nasceu azul, azul.
Busca-se uma sombra debaixo do chapéu
depois dos mergulhos repetidos
sempre a convidar a outras idas ao mar 
para aplacar o calor que está.
Sabe tão bem!


NOITE DE VERÃO


A noite cai tranquila,
o pôr do sol já aconteceu
deixando na linha do horizonte
tons de laranja, amarelo e vermelho.
A lua já chegou
vestindo-se de quarto crescente bem cheio
e espelha-se nas águas do rio Tejo,
deixando um caminho de luz.
O silêncio é total
nada se ouve a não ser o próprio silêncio
A tranquilidade que se sente é incomensurável.
Reina a paz por estes sítios
tão naturais e cósmicos.
O milagre de se ser continua
por todos os recantos deste reino
tão próximo do mar selvagem.
Sente-se a energia do universo onde quer
que estejamos.
A grandeza destes sítios tão únicos e singulares
mostram-nos que a vida existe
e que um novo dia há de nascer.



sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Alcatejo

É bom estar à beira rio e molharmo-nos nas suas águas frescas. Faz uma brisa aprazível. Embora esteja muito calor, está-se bem aqui, assim, sem nada fazer a não ser desfrutar desta frescura do rio.
Observo que sob o sol quente e abrasador ondula no rio, de mansinho, a fragata Alcatejo. Já foi dar o seu passeio habitual levando jovens veraneantes rio abaixo e rio acima. Encheu-se de risos e gritarias juvenis e soube bem seguir o caminho de outras viagens.
Observo-a de longe e sinto que também vou embarcar nela para mais um passeio nas águas prateadas do Tejo. Imagino que vou até ao cais de embarque onde se encontra, entro e dou o bilhete antes de me ir sentar num dos bancos laterais. Entram outras pessoas. A viagem inicia-se. As velas são içadas e dá-se início a viagem rio abaixo bem perto ainda do casario branquinho da margem esquerda. Depois afasta-se gradualmente até atingir o meio do rio. Aí parece que quase paramos para observar as aves que cruzam os céus e os outros barcos de recreio ou que andam na faina da pesca.
A fragata Alcatejo navega em águas profundas ansiosa de mostrar a sua beleza e a beleza da paisagem ribeirinha. Segue calma e sem pressa ao sabor do vento . Depois retoma a subida do rio para voltar à sua casa, em Alcochete.
Todos estão animados e a conversa generaliza-se. Contam-se histórias que são as histórias de outrora e que animam os passageiros até à chegada ao cais.  
Depois do desembarque, a Alcatejo fica atracada ao largo do cais ondulando gentilmente sob o céu azul esperando a noite cálida e a chegada de um novo dia para retomar os seus passeios turísticos.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Um dia de calor


Esta sou eu num dia normal de calor.
Estava numa esplanada e corria uma aragem fresca.
O mesmo não se aplica a hoje.
Nem de casa saí.
Está um calor insuportável.
Está um calor insano.
Está um calor impaciente em deixar um rasto de destruição.
Está um calor indefinível de tanto calor fazer.
Está um calor impossível de suportar.
Está um calor de mais.
Está muito calor!
Amanhã e depois o calor vai ainda aumentar.
Por favor, calor, vai-te embora.

Rio Tejo


As águas do rio Tejo estão intranquilas porque a maré está a subir. Os barcos ondulam abruptamente para baixo e para cima parecendo cascos frágeis. Não há ninguém a navegar. Não é a hora. Logo pela madrugada ou ao fim do dia são os momentos mais propícios para a faina da pesca e para ir apanhar o marisco.
Homens, mulheres, crianças e jovens chafurdam na lama para o marisco vir à tona para ser apanhado. Vão de barco até meio do rio e onde não há água, bem longe da berma protegida, largam o barco para iniciar a apanha do marisco. São horas de costas curvadas a remexer no lodo durante a maré baixa. É assim que obtêm o seu sustento todos os dias do ano e de acordo com a época do peixe e do marisco.
O Tejo sobe e desce indiferente à luta deste povo ribeirinho que sabe bem até onde ir. Como já alguns morreram afogados, todo o cuidado é pouco. É preciso estar atento à corrente, aos baixios, às marés, para não ser apanhado desprevenido.
A vida de pescador e mariscador é uma vida dura e nem todos querem deixar a sua vida nas águas turvas do Tejo. Os que têm este modo de vida são constantemente postos à prova pela natureza, mas todos são corajosos e cuidadosos. Prezam a vida mais que tudo. Só um descuido os apanhará desprevenidos.
O Tejo é sustento, vida e morte. De tão largo e fundo tudo pode acontecer num ápice, por muito cuidado que se tenha. Viver do Tejo é arriscar a vida todos os dias.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

O BELO


As palavras dizem que o belo existe aqui, agora, além, além de nós que a nossa existência é breve e termina inexoravelmente na morte. Depois da morte fica-nos a expressão do belo das mais variadas formas.
As palavras dizem o amor como os amantes dizem que se amam de alma e coração. As palavras contam os momentos de felicidade e de tristeza nas telas que o pintor quis pintar. As palavras narram belas histórias de outrora que fazem parte da tradição oral de um povo e de todos os povos. As palavras aparecem sempre que a voz do poeta se ergue para cantar o seu fado ou o fado de outros.
Gosto das palavras porque elas dão forma ao belo em poemas, narrativas, ensaios, peças de teatro, guiões, e ficam para sempre no andar lento dos séculos. O belo existe nos escritos assim como existe na policromia dos quadros, na polifonia das composições musicais, na grandeza das esculturas, na grandiosidade dos monumentos, na inexplicável e sempre harmoniosa Mãe Natureza.
O que é o belo senão o que existe à nossa volta seja obra do Homem ou do Universo? O belo é intemporal e também sempre novo porque tudo existiu, existe e existirá. Nós não, como disse.
O meu olhar apreende o belo que me cativa sem razão, nem explicação. Pode ser um momento breve, leve, passageiro mas fui eu que o senti meu por instantes. Pode ser um tempo longo, artístico, pleno de significado para mim. Pode ser um dos meus livros, sim. Também pode ser um dos quadros que pintei há anos, pode. O belo sente-se. O belo é enamoramento por tudo o que fazemos e somos. O belo ama-se acima de ódios e querelas. O belo sabe bem o momento de se manter sempre entre nós. O belo diz e diz-nos. O belo é maior que tudo na vida e na morte. O belo fica. Sempre. Sempre. Sempre.