Outrora esta paisagem, que não era bem a mesma, apaziguava-me. Ficava horas, não sei bem quantas, enquanto esperava o autocarro, a olhar para o rio Tua e para as suas margens. Como o tempo fluía suavemente. Por vezes, acompanhada de um bloco, desenhava ou escrevia trechos narrativos ou poemas. Nessa altura, já me sabia só. Nessa altura, buscava a solidão. Nessa altura, era jovem e sonhava.
Hoje a paisagem ainda me fascina. Sobretudo o rio. Assim como os jardins e as zonas verdes, que nasceram de um lado e do outro das margens. Mas tudo o resto é doloroso. Fugi dali antes da tragédia, porém ela cairia sobre nós implacável, mudando, para sempre, o nosso sentir.
Minha mãe saiu daí por essa altura. No entanto, acabaria por regressar. Entendo-a. É o seu berço natal. Tem ali as irmãs e os irmãos. Tem também a sua casa. Todavia, como não foi o meu berço, não consigo encontrar-me aí.
Lugares de eleição transformam-se em paragens de desencanto e dor. Evitam-se para esquecer tudo o resto: a tortura, o desespero, a mágoa.
Não, não fiz as pazes com o norte transmontano, que desconhece o meu sentir tudo e o meu desejo de esquecimento.
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