sábado, 31 de março de 2012

Quand le chat n' est pas là...

Charles de Gaulle - Paris

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As ilustrações, os grafittis, os cartoons são bons contadores visuais de histórias, que retratam uma situação ou um momento, tantas vezes, político e/ou humorístico. Este foi um dos que foi fotografado num dos aeroportos de Paris. Andávamos às voltas quando demos por ele e o fotógrafo captou-o com a sua objectiva.

«Quand le chat n' est pas là...», dado tratar-se nas terras da Gália, talvez sugira que quando o chefe de estado não está no país, tudo pode acontecer. Sarkozy tem uma obsessão de estimação: reunir-se mês sim, mês não com a sua homóloga Angela Merkel. Mas o mesmo não se passa no país do Astérix. Organizam-se manifestações, fazem-se greves capazes de parar o país, perseguem-se os manifestantes...
O que quer dizer então o aforismo? "Quand le chat n' est pas lá... les souris dansent!» Bem, não dançarão dada a conjuntura, mas farão o seu melhor... para provocar o caos!

Já por terras lusas, não são os gatos que nos abandonam.... São os patrões e sabe-se lá quando é que o fazem, porque nunca há um comunicado ao povo de que vão ausentar-se para tratarem dos nossos interesses, o que não é de todo verdade! Todos sabemos! Os destinos são muitos e variados e mesmo que se desloquem ao Parlamento Europeu para pedir ajuda, condescendentemente, pouco ou nada conseguem! Apelidam-nos tão e só de «bom élève»! E para quê!? Nada muda para melhor, antes pelo contrário... Que interessa ser-se bom aluno, se a qualquer momento o "chumbo" está à vista.

No entanto, não podemos interpretar o aforismo francês com o seu equivalente em português: «Patrão fora, dia santo na loja.» Não me parece que por cá alguém faça tanta algazarra como por lá. Fica tudo muito quietinho, no seu local de trabalho, não vá perdê-lo de um momento para o outro. E não é nada bom fazer parte da percentagem de pessoas desempregadas.

Bem vistas as coisas, prefiro a astúcia dos ratos franceses...


sexta-feira, 30 de março de 2012

Jardins









Fotos: Fernando Cardoso, Paris 2011

sábado, 24 de março de 2012

Artista da imagem


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Fotos a preto e branco! Fotos de fotógrafo qualificado. Fotos de fotógrafo amador. Ambos apaixonados pela arte de retratar. Procura da luz pura, que não ofusca mas que ilumina. Procura da postura correta que é corrigida com pequenas indicações ou alguns movimentos até à composição humana estar perfeita. Escolha de paisagens naturais marinhas... Encontro com a vida agitada e apressada da cidade...
O fotógrafo é o artista da imagem. A sua arte traduz a sua filosofia de vida e o seu amor pelo belo. Munido da sua máquina fotográfica, que leva sempre onde quer que vá, capta o real. Esse real que nos cerca: os nossos familiares e amigos, um evento social, uma exposição, um cenário de paz ou de guerra. E fá-lo sem receio, pois a palavra censura não faz parte do seu rolo fotográfico (quando ainda existiam...), da sua objetiva atenta e perspicaz, da sua eterna busca da autenticidade.
Onde quer que os seus passos o conduzam, não deixa nunca de se deixar seduzir pelo ser humano e os seus comportamentos, os seus artefactos... Depois de um número significativo de instantâneos tirados avidamente, sabe bem revelá-los aos seus olhos de artista. É um momento de alquimia...
Antes as fotos eram reveladas em papel fotográfico e nenhum erro podia ser corrigido. Hoje, graças às novas tecnologias, basta tirar o cartão da máquina, inseri-lo no computador e transferir as fotografias para uma nova pasta. Pode-se optar por não revelar as fotos, eliminar imediatamente aquelas de que não se gosta e gravar as melhores e até partilhá-las. É tudo tão mais simples!...
Ainda somos do tempo, como se esta expressão fosse importante neste momento e neste texto escrito nas horas nocturnas, em que temos registos pessoais, sobretudo retratos nossos e de família, a preto e branco. Sempre gostei dos álbuns de fotografia, dos albúns de família... Não pelas pessoas, porquanto não as conhecia todas, mas pelo álbum em si. As capas de veludo ou de pele trabalhada eram a primeira porta para uma viagem ao passado, por vezes, distante. Eram uma porta mágica que, uma vez aberta, me conduzia a um verdadeiro tesouro de poses estudadas, sorrisos discretos nas senhoras, extremamente solares nas crianças. Cada fotografia contava uma história ou histórias. Quase sempre a preto e branco.
Gostava sobretudo de voltar as páginas porque entre elas havia uma folha fina a separá-las e nelas podia sentir o perfume dos lilases e das violetas que se encontravam em pequenos saquinhos, nas gavetas dos armários e cómodas. Era todo um mundo de rostos e histórias...


PS: A foto de elétrico é da autoria de F Nando

quinta-feira, 15 de março de 2012

FLORBELA



Descobri os escritos de Florbela Espanca ainda na minha adolescência. Insatisfeita com os poemas que constavam do manual, fui adquirindo a obra aos poucos. Anos mais tarde, algumas amigas ofereceram-me uma Fotobiografia da poetisa.
Escusado será dizer que devorei os livros e que li e reli a sua Fotobiografia. Naquela altura, as sua palavras exerciam um estranho fascínio no meu ser. Identificava-me com a sua tristeza, o seu desalento, a sua desasperança, a sua procura vã do amor verdadeiro, a incompreensão a que se sentia votada.
Quanto mais lia Florbela, descobria que o seu desalento era o meu. E o vazio cresceu. Cada vez mais... Até às várias tentativas de suicídio: de Florbela e minhas. Ela partiu. Eu, por mais que tentasse, fiquei.... para escrever banalidades...

segunda-feira, 12 de março de 2012

E tudo

Foto de F Nando

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Brindemos às palavras que ainda estão por vir...
Brindemos às palavras esmagadas sob a força dos cavalos a galopar na praia...
Brindemos aos livros já escritos, mas nunca lidos...
Brindemos às árvores que plantamos numa qualquer primavera...
Brindemos aos filhos que não tivemos ou não pudemos ter...
Brindemos ao império dos sentidos...
Brindemos ao ar, à terra, ao fogo e à água...
Brindemos à natureza...
Brindemos ébrios de vida, de amor, de sonho, de vontade de se ser outros...
Brindemos...
... e bebamos poesia, literatura, natureza, vida e amor e tudo.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Subitamente


Há muito que não me acontecia. Há muito tempo que este sentimento não me invadia e paralisava tão avassaladoramente. Num momento estava bem, noutro senti uma espécie de mau estar que me tirou o sorriso dos lábios e me roubou a sensação de conforto e segurança. Seguiu-se um vazio enorme e uma profunda sensação de perda. Tudo o que antes me parecera certo, torna-se uma sombra ameaçadora.
Não havia como partilhar esta dor que me habitara durante longos e sofridos anos. Pensava que tinha desaparecido. Enganara-me, como noutras ocasiões. Parecia que um paul me engolia. Via-me novamente entregue a pensamentos sombrios. Subitamente... e sem razão aparente. Sentia-me inevitavelmente só.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Comer...

Ratatouille (França)
















Sabores da Clau (Brasil)

















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Nos primeiros anos de vida, podemos não identificar as texturas, mas reconhecemos odores: o leite materno, a papa, a sopa, a fruta em boião ou carinhosamente triturada com o garfo. São estes primeiros aromas que estimulam e despertam os sentidos.
Creio que estas descobertas mais ou menos odoríferas vão formando o gosto pela comida. Além de se despertarem os sentidos, estes são educados para as escolhas futuras, pois tudo é escolhido pela frescura e qualidade dos alimentos. Há tanto amor e preocupação nessas escolhas! Pois se alguns se deliciam com quase todas essas iguarias , outros há que têm muita dificuldade em apreciar o quer que seja.
Comer pode mesmo ser um prazer. Uma verdadeira paleta de cores e sabores e texturas. Um banquete para todos os sentidos. O doce, o ácido, o salgado, o picante hão-de satisfazer o paladar. O cru, o crocante, o estaladiço, o borbulhante serão bons para a audição. O cozido, o assado, o frito, triturado falam diretamente com o tato. O perfume dos morangos acabados de colher, do caril, do açúcar caramelizado serão sempre uma perdição para o olfato. O verde, o vermelho, o amarelo, o violeta, o dourado dos alimentos farão as delícias de qualquer olhar. E todos eles juntos serão, sem dúvida, uma policromia que apetecerá sempre.
Na fim semana passada, o meu irmão, sempre bom observador de comportamentos, disse-me que nunca me vira comer deliciada, porquanto sempre fora um sacrifício para mim alimentar-me. Reiterou-me que gostava de me ver comer com prazer. Concordei com ele. Hoje não só cozinho com prazer, como também me delicio a comer. Hoje a viagem pelos paladares e sabores é uma descoberta deliciosa.


sábado, 3 de março de 2012

Caminhada


Foto de FNando
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Era um solarengo mas frio dia de inverno. Não lhes apetecera ficar em casa, por isso decidiram dar uma caminhada pela praia. Ambos gostavam de ver o mar, de caminhar bem à beirinha, de sentir o sol no rosto, de respirar a maresia.
Sempre de mãos dadas, atravessaram o extenso areal até se aproximarem do mar. Aproximaram-se o mais que puderam como num desafio ao elemento água. Não obstante, nenhum deles se molhou. Correram ou afastaram-se rapidamente sempre que o mar parecia vir ter com eles. Não havia ali uma medida de forças. Apenas um jogo.
Caminharam pela praia ao longo do mar. Sentiam o vento brincar nos cabelos e nos cachecóis. Os aromas do mar entravam-lhes pelo nariz. Quando aspiravam fundo, maior era a quantidade de ar húmido e frio que aspiravam, todavia adoravam fazê-lo. Era bom. Fazia bem.
Ela era a primeira a deixar-se vencer... Depois de andar alguns quilómetros, as suas pernas acusavam um certo cansaço, enquanto a sua respiração se tornara mais ofegante. Ele incitava-a a continuarem. Mas ela, exausta, dizia-lhe com voz melíflua, que preferia voltar. E regressavam, refazendo o caminho que já tinham feito. Paravam para dar atenção a uma concha, a uns restos de rede, para observar uma arriba segura. E tiravam fotos.
Depois, regressavam a casa tão mais felizes!