domingo, 9 de dezembro de 2007
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
Paris
Ainda não há muito tempo, fui passar um fim-de-semana a Paris. Encantou-me voltar lá depois de tanto tempo.
Naqueles dias, que correram num ápice, lembro-me sobretudo de um evento que decorreu durante essas noites na capital francesa.
Em cada espaço da cidade, fosse ele sagrado ou simplesmente nas ruas, aconteceram as "nuits blanches". A cidade da luz reafirmou-se como a cidade da luz.
À noite, várias expressões artísticas inundaram a cidade de luz, som e cor. Numa catedral, um dos artistas encheu vários balões que se elevaram a uma certa distância e, quando as luzes se apagaram, ficaram apenas iluminados os balões que desenhavam, no espaço, um ponto de interrogação luminoso. Numa das praças, havia uma estrutura metálica que cuspia fogo, cuja intensidade variava, de acordo com o sopro de uma jovem cuspidora. Havia encenações em línguas imaginárias, constituídas por sons e alfabetos imaginários. Outros artistas faziam pantomima. Outros ainda declamavam poesia.
Paris encheu-se de arte e magia, horas e horas consecutivas... pela noite dentro.
Nunca o pulsar nocturno de uma cidade me impressionou tanto. Talvez seja apenas um sentimeto meu, que me identifico com as diferentes expressões de arte e, ainda mais, com Paris e com a França!
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
A Fernanda Azevedo
habita a magia e o (im)possível
na paleta fantástica
nas mãos da criadora
Representam-se imagens aladas
na folha neve de hoje
e contam-se histórias de amanhã
em policromias concretas
na limpidez preciosa e clara
do mundo do belo
Nessas ondulações artísticas
nascem poções
de cores encantadas
de seres mágicos
num espaço onírico
de gestos atentos e tranquilos
na invenção do ser
sábado, 3 de novembro de 2007
Centre Georges Pompidou
Les collections du Musée, nouvelle présentation
Après deux accrochages thématiques, le Musée offre aux regards ses chefs-d'oeuvre au sein de deux nouveaux parcours chronologiques, occupant à nouveau l'ensemble des 4e et 5e étages. Les collections modernes - plus de 1 300 œuvres, près de 500 revues, sont présentées dans un parcours densifié et diversifié pour mettre en valeur les artistes et les œuvres de la première moitié du 20e siècle et présenter les dernières acquisitions réalisées dans ce domaine. Les 500 œuvres des collections contemporaines s'organisent autour d'un principe chronologique, choisi comme fil conducteur, qui laisse régulièrement la place à des ensembles thématiques et présente les acquisitions récentes. En 2007, le Musée national d'art moderne retrouve sa plénitude.
terça-feira, 23 de outubro de 2007
na esplanada do café Le Quai
papéis dispersos
despertaram
o olhar verde escuro do serveur
Uma voz respondeu à pergunta silenciosa
Sou a poesia que a imaginação dos seres
livres como tu
adivinham inocentemente o belo
Um sorriso ondulou no seu rosto tranquilo
e ainda sem dizer nada
sentindo apenas
afastou-se iluminado
Ler
Sempre que se abre um livro
No seu rumoroso e tranquilo silêncio
É já uma forma de antecipação
Do escrito mas ainda por decifrar
Que a leitura não é uma ingénua descodificação
Mas viagem deliciosa e iluminada ao mundo recriado
Pelo leitor-(re)escritor
O sempre iniciado-intérprete da palavra
Gravada na página anjo
Onde ser e sentir se dizem
Um distante dia de Outubro
Este fim-de-semana evoquei paisagens de outrora. São paisagens de um outro tempo, de um outro lugar, muito distante deste onde me encontro. Era tudo tão mágico, tão de sonho! Tão de mais!
Foi muito simples reabilitar esse passado. Creio que foi a paisagem do filme «Wicker Park» que me fez ressuscitá-lo. Como sinto falta da paisagem branca, branca! Ver os flocos de neve dançar do céu ininterruptamente, vê-los cair uns sobre os outros até cobrirem tudo com um manto imaculado.
Mais belo e inesquecível ainda é andar nas ruas brancas e sentir no rosto o frio cortante. Sabia tão bem fazê-lo! Mesmo quando os trilhos por onde todos passavam se transformavam numa lama aguada e acastanhada.
As roupas bem quentes que somos obrigados a vestir aconchegam-nos nesses passeios a pé. As luvas, os cachecóis, os gorros, os casacos compridos, as botas são de um conforto extraordinário. Tal como entrar numa chocolaterie e pedir um chocolate bem quentinho. Que aroma! Que sabor aveludado e doce.
Depois retomava o passeio sozinha ou acompanhada, tanto fazia. Quando sozinha, apreciava a neve nos telhados das casas, nas copas das árvores, nas margens dos lagos. Observava as pessoas na sua rotina diária. Quando acompanhada, gostava sobretudo de respirar fundo, encher o peito de ar frio e de me ver, depois, a expirá-lo como se de vagas de fumo se tratasse.
chambreado
no esconderijo sagrado
dos dedos voluntariamente duplos
Olhos de paisagem passeiam
pelos telões
inventadamente0
oásis do ser
Encontros cromáticos
nascem
no espaço carmesim
no mais fundo estado
de lucidez
Corpos
erguem-se beijam-se possuem-se
nos nocturnos abraços
do álcool
Fremem no atelier
palpitações desejos transbordantes
quentes
de tão pele na pele
nas mãos do mestre-amante
Sabe o ar a vinho tinto
chambreado
no esconderijo sagrado
dos amantes sem hora
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
A F. P.
Ler para ser
Para Michel Tournier a leitura é um milagre de que se sente “testemunha e actor várias vezes ao dia”, porque participa e se enreda completamente nos textos, nas aventuras, como se delas fosse participante. O “maço de folhas de papel enegrecidas de sinais” transformam-se e no seu espírito de leitor e recriador da palavra desenrolam-se uma série de aparições com as quais se emociona.
Este milagre é sempre passível de ser sentido por todos aqueles que não resistem a um bom livro, a uma boa história, a um momento de fruição pura. Porque ler não é maçada. É descoberta do outro e de todos os outros que não estando aqui e agora in presentia o estão nas suas palavras.
Os livros ensinam, divertem, encantam, provocam. Os livros fazem-nos sentir emoções contraditórias, repensar a nossa conduta e a nossa condição, questionar o descoberto e o ainda a descobrir.
Ler é e será sempre para o leitor verdadeiro, o leitor implicado, um acto de amor. Daniel Pennac sabe-o bem. Segundo ele “O verbo ler não suporta o imperativo”. É uma aversão que compartilha com outros: o verbo “amar”, o verbo “sonhar”…”. Sem dúvida! Da obrigação nasce sobretudo a aversão, a indiferença, o repúdio, o desamor. Não há imposição que seja bem aceite.
Porque lemos? Que livros lemos? Quantos livros lemos? Quantos lemos em simultâneo? Não teremos com certeza de explicar porquê. Diremos apenas “porque sim”, porque gostamos, porque é uma necessidade como tantas outras. Talvez tão urgente e premente como a sede e a fome.
Lemos sempre e cada vez mais, este, aquele e outro autor, lusófono, estrangeiro, traduzido ou não, para sermos o que somos: leitores apaixonados.
Páginas da infância
São fotografias de recém-nascidos até à criança, já com memórias. O dia do baptismo, em que nos vestiram um lindíssimo vestido de cerimónia; os aniversários ao colo do pai ou da mãe, para apagar a vela ou as velas do bolo de aniversário; as reuniões de família, sobretudo no Natal; o primeiro dia na escola; os primeiros amigos que nos deixaram receber em nossa casa; as brincadeiras no parque, no jardim, na rua, na praia. O pai e a mãe, às vezes, sobrepõem as suas vozes, narram os episódios de cada uma delas.
Aquelas imagens cristalizadas, de um tempo que ficou lá atrás, contam a história pretérita de cada um. Esses testemunhos são importantes. Quem os ouve, segue as palavras com atenção, fica suspenso nas palavras desses fiéis narradores, para se reconhecer.
Ali estão os momentos cristalizados, estáticos, mas de uma infinita inocência e pureza. Como são belas! Quantas vezes são (re)visitadas! Para recuperar essa identidade; a primeira, a que viria a definir-se. Quantas esperanças depositadas que, tantas vezes, não se concretizaram.
Eles, nossos progenitores, emocionados e agradecidos por esse recuo no tempo, que só assim recuperam, descrevem, em pormenor, as roupas, a escolha dessas e não de outras, os comportamentos, as brincadeiras desse dia. E a luz espalha-se nos seus rostos. Também eles eram outros!
Contudo, a emoção de outrora não é a de hoje, que as emoções não se repetem. Tal como esses dias, esses meses, esses anos.
14 de Maio de 2007