segunda-feira, 12 de novembro de 2012

XXII Naquele dia...


Foto de FNando

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Logo pela madrugada, os homens saíram para caçar na reserva da quinta. Aperaltados em cima da sua montaria e seguidos pelos cães que não paravam de ladrar e latir, a caçada durou algumas horas. De regresso a casa, foram tomar um duche para se juntarem às senhoras para, finalmente, tomarem o petit-dêjeuner
Croissants, chausson aux pommes, baguettes, queijos, compotas, café e leite, diferentes chás, sucos naturais e fruta foram servidos. Depois foram dar um passeio pelos jardins. Logo a seguir os mais jovens foram andar a cavalo.
Émilie escolheu o cavalo que costumava montar, um pouco arisco, todavia um belo exemplar. Paulo quis ajudá-la a montar, mas ela riu-se e disse que não, indo juntar-se a Pascal que se afastara um pouco. Susy seguiu o conselho de Paulo e montou um cavalo mais dócil. 
Saíram os quatro pelos campos verdejantes, calmamente, a conversar. Falavam da beleza da quinta, do dia luminoso, da elegância das suas montarias. Entretanto, Pascal sugeriu que fizessem uma corrida. Susy não disse nada, mas sentiu um friozinho no estômago. Paulo, prevendo o receio da namorada, disse-lhes  que preferiam andar apenas.
Pascal e Émilie despediram-se e saíram a galope. Pascal, que ia à frente, saltou riachos, pequenos fossos e embrenhou-se no bosque evitando os ramos das árvores. A dada altura surgiu uma clareira e Émilie passou-o à frente na corrida. Foi nessa clareira que se apearam, deixando os cavalos pastar. Caminharam lado a lado e conversaram sobre tudo e sobre nada, pois também se conheciam desde a pré-adolescência.
- Estás cada vez mais linda,sabias? - disse ele.
- Continuas o mesmo dandy de sempre.
- Olha que mudei muito...
- Ah, ah, ah. Tu? Tinhas de nascer outra vez para seres diferente.- ironizou Émilie. - Que achaste da namorada do teu primo? - perguntou tentando desviar a conversa.
- Linda! Mas não é para ele! Não vai durar muito!
- Que estás para aí a dizer?
- Que o meu primo se cansa depressa.
- És tão mau!
- Não, minha querida Émilie. Apenas realista.

domingo, 11 de novembro de 2012

XXI Naquele dia...


Foto de FNando

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Quando Susy e Paulo entraram na ante-sala ouviram várias vozes. Dirigiram-se, então, para a salinha da avó onde Susy foi apresentada a um casal septagenário muito simpático e a mais dois, um pouco mais jovens, que elogiaram a beleza e graciosidade de Susy, que corou ao ouvi-los Enquanto conversavam com os amigos da avó, uma empregada serviu água lisa a Susy e um pernod ricard a Paulo. A avó de Paulo não podia estar mais feliz, pois reunia por um lado os amigos e, por outro, o neto e a namorada. Da forma como lhe fora a presentada, parecia oficial. Nada a deixava mais orgulhosa. Queria que o neto assentasse antes de ela partir para o outro lado.
Estavam quase a ir para a sala de jantar quando apareceu Émilie e mais dois casais, amigos desta e da avó Laura. As apresentações foram breves, porquanto todos estivessem com fome. Passaram então para a sala das refeições onde os lugares estavam marcados. Do lado direito da avó Laura estava o neto, do lado esquerdo estava Émilie. Susy estava sentada em frente ao namorado e não lado a lado como acontecia com os outros casais.
Como entrada comeram terrine de canard et salade verte, com vinaigrette, seguiu-se saumon à la crème fraiche, frites et endives au four, de seguida steak au poivre et légumes cuits. Como bebidas havia água lisa e com gás, vinho tinto e branco da região de Bordéus, assim como sumos. 
O almoço decorreu bem e a conversa generalizou-se antes da chegada das sobremesas e da tábua de queijos e compotas. De entre as sobremesas, alguns comeram creme caramel, crême brulê, fondant de vanille et fraises, macarons; outros preferiram  baguette e pain de campagne para se deliciarem com os queijos e as compotas. A variedade também era por demais tentadora: brie, roquefort, fromage frais, chèvre, camembert, bresse bleu.Em suma, o almoço tinha sido um verdadeiro e lauto banquete. A avô Laura sempre recebera bem, assim como toda a sua família!
Depois os homens foram para a sala de jogos fumar e beber digestivos. Alguns atreveram-se mesmo a jogar uma partida de bilhar. As senhoras decidiram-se a dar um passeio pelos jardins circundantes à casa. Paulo e Susy, Émilie e Pascal, um primo de Paulo, foram ver os cavalos e escolher os equídeos para montarem na manhã seguinte. A conversa foi a apresentação dos que não se conheciam e assuntos de caráter geral. A tarde passou depressa. 
O grupo voltou a reunir-se para o lanche, seguindo-se um mini concerto. A avó Laura tocava piano e o neto juntava-se a ela para alguns duetos. Depois foi a vez de dançarem um pouco algumas danças de salão. Susy não sabia dançar, mas Paulo dançou um tango com a sua amiga de infância. No fim todos bateram palmas. Susy fê-lo contrariada porque sentiu uma certa cumplicidade entre o  namorado e Émilie.
Naquele dia o dia terminou com o jantar, a música e os jogos.

XX Naquele dia...



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A avó Laura foi para a quinta com duas amigas. Iam muito animadas e, por vezes, pediam opinião ao motorista sobre o que fazer no fim-de-semana. Quando chegaram à quinta, o mordomo e as três criadas já estavam à sua espera.
Uma delas instalou a avó na sua suite e as outras duas instalaram as amigas da avó Laura nos quartos de hóspedes. Tomaram um duche antes de descerem para o rés-do-chão, instalando-se na biblioteca que era simultaneamente a salinha de estar e de receber as visitas.
Uma hora antes do almoço, chegaram Paulo e a sua namorada Susy. Por muito que o namorado tentasse pô-la à vontade para conhecer a avó e as amigas, Susy sentia-se apreensiva. Como seria recebida? Era uma jovem sem berço. Eram receios infundados.
Paulo entrou na casa de mão dada com Susy e seguiu as vozes que o conduziram à salinha predileta da avó. Susy foi-lhe apresentada assim como às suas amigas. No entanto, Susy não se sentiu à vontade. Pelo contrário, sentiu-se observada.
- Bem vinda, minha querida. Fizeram boa viagem? - perguntou a avó.
- Obrigada. Sim, fizemos boa viagem. A sua casa é linda e enorme!- disse Susy.
- Herança de meus avós, querida.
- Como disse que se chamava? - perguntaram Magalie e Sílvie, as amigas da avó Laura.
- Susy.
- Inacreditável! Os nossos nomes rimam: Magalie, Silvie e Susy. - disse Magalie, sorrindo.
- Ainda falta um pouco para o almoço - explicou a avó Laura - Paulo, leva Susy a ver os jardins e o lago. Não se afastem muito.
- Com certeza avó. - Concordou Paulo dando-lhe um beijo na testa. - Até já minhas senhorass.
Naquele dia, não choveria. O sol teimava em aparecer timidamente. Paulo e Susy aproveitaram aqueles momentos a sós para conhecer os jardins, o lago, os pomares e, claro, para namorar.
- Achas que a tua avó gostou de mim?
- Por que não deveria gostar? És encantadora e linda e meiga e doce...
- E que mais? Diz!
- E amo-te!
- O quê? Acho que não ouvi bem!
- E amo-te.
-Também te amo muito! Ah, Paulo, meu amor, quanta felicidade. Estou sem palavras.
- Não são necessárias... - disse beijando-a doce e longamente e abraçando-a com carinho.
No caminho de regresso ainda passaram pelas cocheiras. Um dos cavalos pareceu simpatizar com Susy.
- Como se chama?
- Crinas ao Vento.
- Achas que poderei montá-lo logo ou amanhã?
- Tem de ser um cavalo mais dócil para te habituares. Esse é arisco!
- Está bem! Não posso arriscar muito por causa da próxima passagem de modelos.
- Isso mesmo, menina sensata! Vamos voltar?
- Claro, "mon amour"!
- Os amigos das quintas vizinhas da minha avó já devem ter chegado. Antes que bebam aperitivos demais, é melhor aparecermos.

sábado, 3 de novembro de 2012

XXIX Naquele dia...


Foto de FNando

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Paulo pegou no telemóvel e saiu da divisão para atender. Era Susy, a sua mais recente namorada. Uma modelo da Casa Chanel.
- Olá, Susy, minha querida, onde estás?
- Como estás? Liguei para o teu escritório e disseram-me que estavas doente.
- Não é nada de grave. É uma simples gripe. Não te preocupes, "chérie".
- Simples? - repetiu Susy.- Ficares em casa não é nada bom. Tu és dos que nunca faltam.
- É verdade. Acordei febril e mandei chamar o médico.
- Que te mandou ficar em casa a repousar.
- Isso mesmo, amor.
- Ótimo. Aprovo a cem por cento. Nada de ir à rua, à varanda, ao jardim.
- Que me querias quando telefonaste para o escritório?
- Estou a fotografar na Torre de Montparnasse e como trabalhas aqui liguei para te convidar para almoçarmos no restaurante.
- Que pena não poder, minha querida. 
- Não faz mal Paulo, fica para quando ficares bom. Desafio aceite?
- Claro. Mas nada de viagens nos próximos tempos!
- Amor, isso não depende de mim, mas da minha profissão. A juventude passa depressa.
- És linda e hás de sempre sê-lo.
- Fofo! Bem,tenho de regressar à sessão fotográfica. Beijinhos.
- Beijinhos, Susy. Fica bem.
- Melhora depressa.
- Com uns beijinhos e miminhos teus melhoraria com certteza.
- Não me tentes. Tchau.
- Tchau. - repetiu Paulo. 
Regressou à salinha onde a avó estava e fizeram alguns planos para o fim-de-semana prolongado. Iriam para a Quinta do Luxemburgo onde recebiam os amigos. Havia os caçadores, homens e mulheres; os jogadores de ténis, os homens mais jovens; as senhoras ficavam dentro de portas a jogar gamão.
Paulo pediu permissão para convidar Susy e a avó Laura convidou Emilie. O neto queria apresentar a namorada à avó. Coisa rara que talvez quisesse dizer que a relação era séria.