terça-feira, 30 de junho de 2009

Tertúlia

Foto de Fernando Cardoso
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Parque dos Poetas
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Numa tertúlia muito agradável com o escritor José Fanha, já lá vão muitos meses, retive certas frases que ainda hoje fazem eco dentro de mim. As primeiras, que muito me marcaram, dizem respeito aos escritores em geral.
Um dos seus grandes amigos de José Fanha, também escritor, cujo nome não me recordo neste momento, partilhou com ele o seguinte pensamento «Todos os escritores são crianças doentes». Fiquei a pensar. Intimamente concordei. Lembrei-me imediatamente de Fernando Pessoa.
Depois acrescentou. Alguns ficaram órfãos muito cedo e tardiamente ou nunca superaram a perda do familiar querido, ficando a sua infância marcada pela saudade de quem foram; outros entraram em conflito aceso com os seus progenitores; outros ainda entraram em conflito consigo mesmos. Ainda há aqueles que não superaram nunca essas perdas e esses confrontos e disseram precocemente adeus à vida. Nessa altura pensei em Antero de Quental, Florbela Espanca e em Mário de Sá Carneiro.
José Fanha não se ficou por aqui e deu alguns exemplos falando de autores e declamando os seus textos. “Hoje já não festejam o dia dos meus anos”, de Fernando Pessoa; “Poema à mãe” de Eugénio de Andrade; “O Palácio da Ventura” de Antero de Quental e muitos, muitos mais poemas de Ary dos Santos, Alexandre O’Neill, Mário Viegas, Sophia de Mello Breyner Andresen, Miguel Torga.
Há obras e textos felizes, porém nem sempre quem os escreve é feliz. O verdadeiro escritor tem a sensibilidade à flor da pele e o sofrimento inscrito no mais fundo do seu ser!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Olhares




Foto de Fernando Cardoso


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Manhã clara e transparente
de sóis e de brisas leves e tranquilas
que trazem da distância do mar da palha
os sons estivais de sinfonias sem pauta
escritas nas nuvens que aparecem ao acaso
num esperado céu azul

Horas de passos sem pressa e curiosos
nas ruas da calçada que levam ao moinho do ontem
na marginal recém construída e já antes apetecida

Nos olhos vigilantes, a atenção de sempre
ao mínimo movimento da natureza marítima
aos artefactos humanos que ondulam ao sabor da maré
num movimento esperado e conhecido
tantas e tantas vezes repetido

Dali há a expectativa de uma partida
rumo a qualquer lugar
onde se possa perder a terra à vista
e apenas sentir nas ondas em alto mar
a magia de se ser
e de se sonhar de novo e só com o olhar

domingo, 28 de junho de 2009

Cinco sentidos





O dia ameaçara chuva desde o início do dia, embora não viesse a chover ou a fazer frio. Havia umas nuvens que corriam no céu, ao sabor do vento, em busca de outras paragens. De vez em quando o sol fazia a sua aparição banhando de luz a capital francesa.

O fim de tarde estava agradável e, apesar de cansados de visitar algumas galerias do Louvre, sentíamo-nos bem. Tínhamos andado muito, mas tínhamo-nos preparado para que assim fosse.

Em Paris há muitos locais mágicos. Um deles é o espaço em frente ao Centro Nacional de Arte e Cultura Georges-Pompidou: uma praça.

Nessa Piazza Beaubourg, com um ligeiro declive, sentámo-nos, como tantos outros turistas e franceses, para ouvir um grupo que tocava músicas que evocavam a Austrália aborígene. Ali permanecemos algum tempo, pois as notas da música espalhavam-se por todo o espaço. Os sons ancestrais pareciam rodear-nos, envolver-nos e tranquilizar-nos.



De algumas crêperies ali bem perto vinha o aroma dos crêpes acabadinhos de fazer, que se misturam com outros aromas de outros cafés.

Dali fomos ver de perto a Fonte Stravinski, que simboliza a música (com repuxos de água sonora e com diferentes estruturas metálicas coloridas ou não ali construídas no local).

Foi um fim-de-tarde muito agradável e de muitas aventuras culturais e gastronómicas.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Cosmogonias



Foto de Fernando Cardoso

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Há momentos que se definem, mas sem aparente definição! Saber a verdade é saber que a verdade não existe, em absoluto. Porque tudo é questão! Porque tudo é devir.
Há momentos repentinos, profundos, de interrogação e de busca de respostas, como se isso constituísse uma fórmula original. Ninguém duvida que a procura de respostas para as questões que o Homem se coloca conduzem-no, sempre, a outras questões, pois o mistério das coisas não pode permanecer sem resposta.
Ora, encontrar as respostas é uma busca continuada das causas, dos efeitos, de Deus ou deuses, do mistério do Universo, por milénios e milénios.
O Universo é a voz primordial. Só depois se lhe segue o Homem – o Homem que usa o pensamento, a linguagem, a arte para se expressar e explicar o Universo, bem como a sua aparição no mundo.
Tudo tem existência. Tudo tem de ter existência para que o Homem possa atribuir-lhe uma significação. O seu pensamento não lhe permite não pensar no que o cerca, não pensar em transformar o mundo, não pensar em pensar-se; dos sumérios ao homem do século XXI.
A prová-lo basta atentarmos na diversidade de mitos e lendas que procuram dar sentido ao sentido único do ter-se sido outrora, agora e, quem sabe, amanhã.
E fica tudo dito. Assim – até um dia.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Palavras solares


Foto de Fernando Cardoso

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Perdi palavras. Muitas palavras. As palavras doentes e moribundas por estarem sempre a dizer a dor do meu sentir; as palavras angustiadas por saberem a minha solidão e eu já a ter aceitado como definitiva; as palavras silenciadas, pensadas e escondidas no desespero de um silêncio fundo e atroz, povoado por lágrimas e por desejos de aniquilamento. A pouco e pouco, a noite foi-se tornando menos tenebrosa. Essa era uma perda que teria de acontecer um dia!
Não obstante tratar-se de uma perda, que é sempre conotada com tristeza, dor e sofrimento, hoje estou feliz por tê-las perdido. Porque esta é a melhor e mais inesperada das perdas! Palavras como desassossego, desespero, abismo, desencontro, estado febril, ausência andam agora por aí, soltas. Deixo-as ir nas asas de qualquer brisa, de encontro a qualquer sol, porque era já tempo de empreenderem uma outra viagem. Para bem longe do meu outro sentir, que só me trazia momentos de um silêncio liso e afastamento de tudo e de todos.
Apareceram-me outras palavras. As que eu escrevia imaginariamente nas páginas brancas dos meus sonhos e do tempo que passava. Apareceram-me as palavras harmonia perfeita de sentires, sintonias inesperadas, coincidências felizes, enamoramento. Ou seja, as palavras são agora de luz, como pequenas estrelas que brilham no firmamento. Todas elas são sentires muito diferentes. Palavras como tranquilidade, encontro, paz, encantamento habitam o meu ser e sou feliz. Todas estas palavras se desencarceraram da prisão que era eu mesma e que não as deixava fluir. Sorvia-lhes a energia com o meu sentir nocturno e desesperado.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

"Au Rendez-Vous Des Artistes"


Adoro os cafés de Paris! Todos diferentes e todos iguais... Esta expressão parece-me familiar! Porque será? Por causa das campanhas de luta contra o racismo, que, infelizmente, também existe em Paris e noutras cidades de França de uma forma bem agressiva e explosiva. Presenciá-mo-la através da televisão o ano passado, talvez.
Mas eu escolhi essa expressão para traduzir o encanto de todos os cafés, todos bem decorados, cada uma com um toque de charme diferente, confortáveis e com "gançons" solícitos e simpáticos. O que os torna semelhantes é o facto de todos eles terem esplanadas, que a partir das dezassete horas ficam cheias. Nesta altura do ano, claro que é natural. Mas se lá forem no Outono ou Inverno constatarão que também existem e têm aquecimento. Um luxo!
Adorei sentar-me nessas esplanadas nos dias que lá estive. Não só por poder descansar um pouco depois das longas caminhadas culturais, mas também para poder tomar um café, comer um "crêpe" ou beber uma imperial, pois o calor chamava à bebida.
Mas esta foto foi tirada com outro propósito. Por causa do nome. Torna-se até difícil de traduzir! "Encontro de Artistas", será? Pode ser.
Talvez seja pretensão minha, mas um dia gostaria de ser conhecida pelo que escrevo e ser, assim, uma "artista". Neste caso, da palavra. Gostava de ser escritora, assumo. Sei que é um sonho, mas há sempre sonhos que se realizam! Este pode realizar-se... quem sabe.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Museu do Louvre


Este foi o último trono de Napoleão III. Na verdade, um dos mais pequenos, como referiu a guia que explicava a um grupo de turistas o seu significado.
Eu, que ficara para trás no grupo, fiquei um pouco a ouvi-la. Napoleão já não tinha a mesma influência e poder de outrora, daí este trono representar simbolicamente, pelo seu tamanho, essa perda de importância.
A tapeçaria representa também um dos símbolos de Napoleão. Bem ao centro temos uma águia gigantesca símbolo da grandeza e do poder de mais um membro da família de Napoleão Bonaparte.
O apartamento é todo ele sumptuoso: imperam os tons carmim, azul e dourado, as tapeçarias são gigantescas e repesentam várias cenas ao ar livre ou no interior, há candelabros enormes nos tectos das salas, há salas e salas, até se lhes perder a conta.
Tudo está na ala Richelieu! É só ir até ao Louvre e ver com os seus próprios olhos não só esta ala, mas todas as outras. Claro está que são necessários vários dias... e calçado confortável.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Moulin Rouge

Todos os que se aventuram por Paris, depois de verem o "Sacré Coeur" e Montmartre, descem as ruas que levam a Pigalle. Este nome ficou a dever-se ao escultor Jean-Marie Pigalle, que viveu no séc. XVIII.
O bairro de Pigalle é conhecido pelas suas sex-shops, cabarets e outras salas de espectáculo. De entre as mais conhecidas, no mundo, temos o "Moulin Rouge", que, este ano, parecia emergir e brilhar como no séc. XIX.



No interior do "Moulin Rouge", o hall de entrada é atapetado de vermelho e as paredes têm fotografias dos espectáculos, onde a nudez é já, natural.
Os espectáculos passariam a causar escândalo, no século XIX, quando num desses espectáculos "Cleópatra", completamente nua, é carregada por quatro homens jovens, seguidos de outras jovens nuas, deitadas em camas de flores. Estava-se em 1890!

Os dez primeiros anos do "Moulin Rouge" foram anos de perfeita loucura: havia espectáculos circences, bailes que começavam tardíssimo, às 22 horas. Os proprietários Joseph Oller e Charles Zidler apelidaram-no de o "Palácio das Mulheres".
As bailarinas para além de belas e elegantes, tinham a elasticidade de ginastas. Se assim não fosse, como poderiam dançar o Cancan?

Toulouse-Lautrec é um dos pintores da época que mais de perto seguiu e retratou o que viu e sentiu no "Moulin Rouge". A atestá-lo temos dezassete obras inspiradas neste cabaret e nos seus espectáculos. Ele era, no fundo, uma das muitas personagens deste cabaret e, com certeza, que Toulouse-Lautrec não seria o mesmo Toulouse-Lautec se não tivesse vivido neste meio "feérico".
Depois vieram os escândalos, a competição entre artistas e as guerras. Mas o "Moulin Rouge" sobreviveu a tudo!
Hoje, completamente restaurado, pode-se passar um bom serão onde se janta e se assiste a um espectáculo inigualável!



terça-feira, 16 de junho de 2009

Digressões II


Dir-me-ão que sou repetitiva, sobretudo nas minhas viagens. O que não deixa de ser verdade, de facto. Mas o coração fala sempre mais alto e lá vou eu mais uma vez a Paris. Foi o que aconteceu na semana passada, que se transformou numas mini-férias para muitos portugueses.

Passeei pelos lugares do costume e que já conheço mais ou menos bem, todavia descubro sempre um ou outro pormenor diferente. Tudo é grandioso e diferente em Paris. Ou sou eu que o sinto assim.
Como esses dias eram dias de trabalho para os franceses ,apeteceu-me observá-los, atentar nos seu quotidiano. Não é muito diferente do nosso e porquanto é diferente do nosso. Mesmo nestes tempos de crise.
Os condutores são civilizados e, nas horas de ponta, não há a loucura ensurdecedora das businadelas, não há radares a limitarem a velocidade, muitos deles usam a bicicleta, que retiram do parque de bicicletas com um cartão electrónico. Para alguns de nós, os sinais de trânsito podem parecer algo confusos, mas não para um parisiense.
As famílias saem à rua ao fim do dia para passearem os filhotes (dois, três e mesmo quatro) e o cão ou cães. Outros fazem compras nos supermercados de rua, no talho, na peixaria que se prolonga até à rua, na padaria e nos mercados de rua. A baguette, como já todos sabem, vai apenas embrulhada num mini-papel que transportam na mão ou debaixo do braço. Alguns até a vão comendo pelo caminho. Já na minha infância tudo era assim! A ASAE francesa tem tudo a ver com a nossa, não acham?
O que mais me enterneceu também foi ver casais de diferentes idades, nos mais diferentes locais, de mãos dadas e a beijarem-se em plena luz do dia. Essas demonstrações de afecto provam, efectivamente, que Paris é a cidade do amor.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Paris, mon amour





Je pars à Paris... une ville oú je veux toujours aller... oú je me sens à l' aise et complètement moi même.

Chaque retour est une rédécouverte de Paris... de ses lumières, avenues, monuments et gens.

Au contraire d' autres voyages, je pars à Paris avec toi dans mon coeur.

domingo, 7 de junho de 2009

Neptuno


Foto de Fernando Cardoso
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Quantas vezes, inúmeras vezes
hei-de contar
humildemente
o que a tua divindade e grandeza
me sussurrar

Dizes-me que és infinito
e que o melhor para qualquer Ser
é ser perto de ti
nas manhãs
ou fins de tarde de poesia marítima

E eu por sentir esse encantamento
aproximo-me de ti
deixo que me beijes os pés
para logo te abandonar com os pés frios
e deixar os meus passos
escritos na areia
que tu vais beijar e apagar em plenitude

sábado, 6 de junho de 2009

Viagens


Foto de Fernando Cardoso
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O ser humano vive em constante digressão. Esta é uma exigência do seu carácter errante e curioso. Há um apelo que lhe é inato: o de ir além fronteiras, conhecer o desconhecido para melhor se conhecer a si, para construir o seu reino. Desde os Antigos até à actualidade! Por conseguinte, podemos também dizer que as gerações futuras continuarão a longa saga dos descobrimentos.
Ontem como hoje, essas digressões continuarão a ser reais ou ficcionadas. As narrativas de viagens atestam a existência de viagens de descoberta do globo terrestre e do universo. Já as ficcionadas, narram aventuras imaginárias, fantásticas, fantasiosas. Algumas delas são a antevisão de outras viagens. Viagens ao interior do Ser! Viagens ao interior da terra! Viagens no tempo!
Há viagens surpreendentes! São viagens dentro de outras viagens, para evocações, reflexões, divagações. Almeida Garrett fá-lo em Viagens na Minha Terra! Há outras que são a voz da dispersão, de quem anda perdido e não se encontra nunca. Fernando Pessoa sabe-o e di-lo através de Álvaro de Campos: “Viajar! Perder países! / Ser outro constantemente, / Por a alma não ter raízes/ De viver de ver somente!”
Em suma, são inúmeras as viagens possíveis e impossíveis! As primeiras são as que vão sendo realizadas, as segundas são as sonhadas ou realizadas nas viagens pelo mundo das palavras.

Concurso Nacional de Leitura

DA VÃ GLÓRIA DOS ORGANIZADORES AO DESCONTENTAMENTO DOS PARTICIPANTES

O Concurso Nacional de Leitura já decorre há três anos e, ao contrário das expectativas criadas, nos alunos, pais e encarregados de educação, professores, de que se tratava de um evento que premiava o mérito dos jovens leitores, isso não aconteceu. A acrescer a este facto, outro viria a juntar-se-lhe, a desorganização do evento e o desrespeito por todos os participantes que vêm de todos os pontos do país.

A 1.ª edição do concurso foi no ano lectivo de 2006/2007. A final nacional estava agendada para o dia 16 de Junho e os concorrentes deveriam chegar à Reitoria da Universidade Nova de Lisboa por volta das 9:00h, com os seus acompanhantes (pais, para ceder o direito de imagem e receberem um prémio pecuniário pela deslocação, amigos e professores).
Os elementos da equipa da Mandala Produções faziam a chamada e até dado momento tudo correu bem. Depois esses elementos desapareceram.
Todos aguardavam o seu reaparecimento ou da organização do PNL. Nada. As gravações tardavam a começar. O nervosismo dos alunos (concorrentes), o descontentamento geral foi-se instalando. Ninguém da organização do PNL dava explicações.
Elas viriam muito mais tarde. Havia problemas técnicos, porque o programa, que viera do estrangeiro, tinha sido adaptado para o caso português, mas, pelos vistos, não testado com a devida antecedência. Pais e professores manifestaram a sua indignação.
As gravações iniciaram-se já a meio da tarde e logo num dos primeiros painéis, uma das perguntas feitas permitia duas respostas. A resposta do concorrente foi considerada falsa, todavia a professora que o preparara foi ter com os jurados e fê-los ver que a questão permitia as duas respostas. A pontuação foi atribuída à resposta e o aluno foi o 1.º classificado desse painel.
Nessa altura fez-se um intervalo de mais de uma hora para que o júri pudesse rever todo o jogo. Regressou-se depois ao anfiteatro e as gravações prosseguiram.
Seguiram-se outros painéis. Todavia os problemas técnicos persistiram. A pergunta não aparecia no ecrã, as pontuações finais de cada painel apareciam completamente trocadas. Então, a equipa do PNL e alguns elementos da Mandala, anunciaram que, uma vez que não estavam reunidas as condições para gravar o programa, teria de se marcar nova data para que tudo fosse revisto e aperfeiçoado. 30 de Junho foi a data escolhida.
Os protestos foram muitos, pois estava-se a 16 de Junho, final de ano lectivo, com avaliações dos alunos do 3.º ciclo e a preparação para os exames nacionais dos alunos do ensino secundário. Eram 20:00h quando de lá saímos.
Dia 30 de Junho o programa decorreu sem grande percalços, mas houve ainda demonstrações de descontentamento. Os concorrentes não gostaram que a organização tivesse ignorado as classificações da primeira participação.



A 2.ª edição do concurso foi no ano lectivo de 2007/2008, também na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa. Mas nesta edição o PNL decidiu alterar o regulamento da Final Nacional. Assim, no dia 31 de Maio os concorrentes participaram numa semi-final para apurar os 12 concorrentes do 3.º Ciclo e do Ensino Básico e os 12 do Secundário, que estariam presentes na final, logo no dia 1 de Junho.
Houve alguns momentos de pausa e espera, mas nada comparável ao ano anterior. Mas algo indignou, tal como no ano anterior, pais e professores. O formato do programa que fora criticado no ano anterior mantinha-se. Não avaliava, nem distinguia os melhores concorrentes, pois bastava ser-se rápido a clicar num botão que accionava uma luz e permitia, ao concorrente, responder.
Constatava-se que todos estavam bem preparados, mas como se tratava de um jogo que primava pela rapidez com que se tocava no botão e no cumprimento de regras a que alguns concorrentes não obedeciam, como colocar os braços cruzados atrás das costas e só responder quando a apresentadora dissesse tempo, houve muitos protestos, sobretudo de pais e professores. O apuramento dos concorrentes para a finalíssima revelou-se injusta.


Depois de tantas queixas sobre o formato do programa, neste ano lectivo de 2008/2009, a organização do PNL, com o contributo de sugestões que lhes foram enviadas via mail ou transmitidas pessoalmente, foi alterado.
Todos os concorrentes participaram e foram avaliados em todas as provas e os jurados avaliaram a prestação dos concorrentes. A semi-final decorreu no dia 30 de Maio e a semi-final dia 31.
Neste ano foram várias as competências avaliadas: “Compreensão e conhecimento”, “Leitura e expressão” (expressividade, digo eu), “Escrita e criatividade” (referindo-se sempre aos conteúdo das obras), isto na semi-final. Já na final avaliaram a “Leitura e expressão”, a “Escrita e criatividade”, a “Argumentação e raciocínio”. Parecia um formato mais justo e mais de acordo com os princípios e objectivos do PNL.
Mais uma vez nada correu como previsto. Dia 30 de Maio foi um dia muito duro para todos e, mais uma vez, houve um grande desrespeito pelos concorrentes, pais e encarregados de educação e professores.
Os concorrentes foram chegando à Associação Recreativa e Cultural da Encarnação às 9:00 horas. Os pais e os alunos foram recebidos pela produção, para assinar o termo de recolha de imagens, receber o diploma de participação e um prémio pecuniário, pela deslocação. Foram também distribuídos uns sacos com alimentos aos concorrentes (ao contrário dos anos anteriores onde havia um buffet à discrição para todos).
Às 10:00 horas deviam começar as gravações. Mas isso não se verificou. As horas foram passando e nada de haver um esclarecimento, uma palavra de estímulo. A comunicação chegou por vota das 12:00 horas. Foi dito que havia um problema técnico com os computadores. As respostas que os alunos deviam escrever numa das questões não chegavam aos computadores dos jurados e que os técnicos informáticos ainda não tinham conseguido resolver, mas que, em breve, tudo estaria pronto. Mas não foi isso que aconteceu.
Perto das 12:30 horas, um dos organizadores das Produções Mandala, deu novas explicações. Era melhor almoçar-se mais cedo, às 13:00h (?), numa sala no exterior da Associação, seguindo-se a ordem dos painéis. Em primeiro lugar, o 1 e o 2, o 3 e o 4, e assim por diante, porque as gravações começariam às 13:15, 13:30 no máximo.
Como o espaço da Associação Recreativa e Cultural da Encarnação era pequeno, as pessoas foram-se sentando nas escadas, no chão, nos poucos sofás que havia. Ia-se perdendo a paciência. Iam-se ouvindo protestos. Ia-se ouvindo que o melhor era ir embora!
Comeu-se numa espécie de pardieiro (que pertence à associação), ao contrário dos anos anteriores. Devia ser o local de ensaios das marchas populares, porque havia os enfeites no telhado. Como não havia lugares sentados para todos, havia quem comia em pé, outros sentados uns em cima dos outros.
Concorrentes, pais e encarregados de educação, amigos e professores regressaram ao espaço da associação e, tal como antes, não se viu nenhum membro da organização. As horas foram passando. A indignação aumentou, pois ninguém dizia nada. Fazia muito calor e o espaço era efectivamente pequeno para tanta gente! Eram umas centenas de pessoas!
Vieram novas explicações, que tudo começaria por volta das 15:00h e que às 19:30h tudo estaria já concluído. Mas não foi assim. As portas do cine-teatro só se abriram às 16:00h e ainda todos aguardaram uma hora para os testes finais de som. O calor era muito, pois a sala não tinha ventilação nem ar condicionado.
Com os intervalos pelo meio, a semifinal do concurso terminou às 22:30.
É um facto que a estrutura do concurso e as provas testam o conhecimento de todos os participantes, mas também é verdade que a avaliação é subjectiva. Se no 1.º e no 2.º painéis o júri foi mais rigoroso na atribuição das classificações, com o passar do tempo passou a sê-lo menos.
Foi isso que indignou os pais da Inês Rocha, a Inês e me indignou a mim (em representação da Escola EB 2,3 El-Rei D. Manuel I, de Alcochete). Especialmente na classificação da frase da Inês, que escreveu uma frase complexa com a palavra resistência tendo obtido 61 pontos, enquanto outros de outros painéis escreveram frases simples. Um concorrente de um dos painéis finais escreveu uma frase curta com a palavra fantasia e teve 66 pontos.
A Inês Rocha ficou em 13.º lugar com 141 pontos. Como boa miúda que é, acabou por levar tudo na desportiva. Já os pais nem tanto. A mãe da Inês ainda foi falar com o júri e o rigor voltou no último painel, o 7.º.
Por tudo isto, creio que muitos concorrentes, pais e professores vão repensar se devem ou não participar. No meu caso pessoal não voltarei a envolver-me no Concurso Nacional de Leitura. Não vale a pena tanto esforço. Assisti sempre à insatisfação dos pais, à sua desilusão e indignação pela forma como eles e os seus filhos foram tratados. Dou-lhes razão!
Não esqueçamos que estes alunos são bons alunos e que para além do cumprimento dos compromissos escolares, ainda vêem o seu trabalho acrescido com a leitura e preparação para este Concurso Nacional de Leitura que começa no início do ano lectivo e só termina no final, passando por várias provas eliminatórias (1- Fase Escolas; 2- Fase Distrital; Fase Final). Para terminar, além das obras de leitura obrigatória na escola, a Inês Rocha leu e analisou mais seis obras: História Breve da Lua, de António Gedeão;O Mundo em que Vivi, de Ilse Losa; Em Nome do Amor, de Megg Rosoff; Diário de Anne Frank, de Anne Frank; O Fo e Cinzas, de Manuel da Fonseca; A História Interminável, de Michael Ende, tal como deve ter acontecido a outros colegas pelo país fora.
Uma última palavra para o Júri Nacional presidido por Isabel Alçada (comissária do Plano Nacional de Leitura), Alexandra Lorena (Ministério dos Assuntos Parlamentares), Maria Carlos Loureiro (representante da DGLB – Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas) e Fernando Pinto do Amaral (coordenador do Concurso) não é assim que se formam futuros leitores! Na verdade, estes alunos já são futuros leitores. Só se pretenderem dissuadi-los!
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Nota: Foto da Inês Rocha pouco depois das 9:00 horas. O seu sorriso é de felicidade! Parabéns Inês! Portaste-te muito bem.



Rostos de ontem, hoje e sempre


Foto de Fernando Cardoso
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Adolfo Correia da Rocha nasceu em S. Martinho da Anta, Vila Real, Trás-os-Montes. Teve uma vida difícil, plena e longa. Tal como merecia!
Licenciou-se em medicina, em Coimbra e além de médico, foi também escritor. Assinava as suas obras com um pseudónimo: Miguel Torga.
Se ainda estivesse entre nós teria mais de cem anos. Todavia apesar de não estar mais connosco, está-o cada vez mais. De tantas formas! Porque o evocamos tantas vezes!
Há homens assim! Estão connosco sempre, ainda que não fisicamente. Deixam-nos as suas palavras, o seu mundo interior, a sua essência. E, como sabem, a essência permanece além do que um dia fomos. Atravessa a implacável intolerância do esquecimento. Fica o sublime, aquilo que eles foram até à vertigem!
Adolfo Correia da Rocha ou Miguel Torga, o escritor, aparece-nos sempre que lho permitimos. Infinitas vezes… nas suas palavras poéticas, que nasceram dos encontros com a sua sensibilidade, com o seu sentir pleno, artisticamente. Mesmo que, por vezes, esse nascimento-renascimento tenha sido mais ou menos penoso.
Miguel Torga era um perfeccionista: procurava a palavra perfeita e sofria se não a encontrava! «Um poema, Senhor!», implorava, por vezes, como se este não aparecesse, como se se tivessem gasto as palavras ou perdido no eco que as fragas teimavam em repetir. Mas não. Ele soube colhê-las e torná-las em frutos perfeitos. Na verdade, há sempre, um «Tempo de Poesia», único, inigualável, como nos diz outro poeta de que gosto, António Gedeão.
Noutros momentos, o coração também teve de se pronunciar. Não é bom calá-lo, porquanto muito do que somos e queremos está «realmente no coração». Não importa quem, nem o quê, pode ser claridade ou um sentimento nocturno. Pode ser até que seja «Uma emoção pequenina/ [que] me vem do lado de lá», num regresso às origens.
Miguel Torga é Trás-os-Montes. O mundo da grandeza do norte, da plenitude telúrica, do anúncio da sua humanidade. Miguel Torga, despido de preconceitos, mostrou-se no amor, na tristeza, na dor, na ausência, na busca da liberdade e da justiça pelo ser humano! E, por isso, o eu chorou. São poucos os que sabem e compreendem esta aparição do sofrimento do outro a este eu atento. Talvez, porque lhes seja difícil ou mais fácil ignorá-lo. É que amar «sem tréguas» é provavelmente de mais. É pedir muito.
Se os homens se derem uma oportunidade, inevitavelmente encontrarão o seu reino para além das fragas, para que nada nem ninguém possa ter razão sobre eles. Só assim os homens podem ser maiores que tudo, reinventando-se, a cada palavra, ao sabor desta voz que, de forma miraculosa, ainda nos permite encontrar a nossa «Pedra Filosofal» (poema de António Gedeão), ou quem sabe no «Surdo murmúrio do rio» Douro ou de qualquer outro caminho!
O existencialista Vergílio Ferreira apresenta uma certeza inabalável: a morte não tem razão contra a vida. Não, de facto, não tem. Adolfo Correia da Rocha/Miguel Torga ilumina o mundo, fá-lo reaparecer e deslumbra-nos sempre – em absoluto.

Dueto mágico



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O que as novas tecnologias podem fazer? Milagres!!! Quem diria que este dueto Nat King Cole e Natalie Cole fosse possível?

A música estava com eles: neles desde que passaram a ser! Pai e filha juntos depois de ele ter deixado de existir.

Momento mágico, terno, de beleza impressionante... Inesquecível... Inigualável e inimitável.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Digressões I


Foto de Fernando Cardoso
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Ainda é e será Primavera por mais algum tempo. É a estação clara e límpida onde tudo renasce.
Para captar esse renascimento e a beleza da Natureza, ele sai do seu retiro, do seu reino e procura outros no exterior. Leva sempre, ou quase sempre, a objectiva, porque o seu olhar de artista atento, perspicaz, cáustico pode encontrar um quadro ou momento único e digno de registo.
São passeios muitas vezes solitários, como atestou num dos seus testemunhos escritos. Sai para as suas deambulações sem rumo ou lugar predefinido. Para quê fazê-lo? É muito mais gratificante e surpreendente nada planear!
Deixa-se pura e simplesmente guiar, ainda e sempre no comando, numa viagem de descoberta interior. É a sua demanda pessoal. A busca do EU. O que se sabe aqui, agora, até um dia. Desse Eu que se afirma existindo através da Arte!
Vejo-o , à distância, a entregar-se a três formas de expressar o que o habita: a fotografia, a pintura e a palavra.
Não vale a pena negar que não é assim. É-o! E fica tudo dito.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Palavras nocturnas

Foto de Fernando Cardoso

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http://sebentadonando.blogspot.com/

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Há momentos em que me supero. São poucos, bem sei. Muito poucos....
São aqueles em que uso a palavra escrita. Sempre que a inspiração me sagra de grandeza, no mais inesperado dos momentos!

Elas, as palavras, dizem-me por inteiro! Bom, quase por inteiro. Porque há-as que não mostro a ninguém. Uma vez, por descuido meu, o meu irmão teve acesso a elas, leu-as e chorou. Viria a contar-me muito mais tarde. Chorámos juntos.

Fernando Pessoa escreveu o Livro do Desassossego e eu continuo a escrever, desde 1995, as minhas Digressões pouco Líricas. São viagens fundas e dolorosas ao meu interior.

Creio que, como todos os escritores, as palavras são o nosso maior alimento e paixão. Com elas conto o que sou, sinto, sei, imagino, sonho, quero, desejo e penso. Que importa tudo o resto? Nada.

Nunca me peçam para calar tudo isso. Seria matar o que há de mais nobre e autêntico em mim…

Regresso






Este fim-de-semana evoquei paisagens de outrora. São paisagens de um outro tempo, de um outro lugar, muito distante deste onde me encontro. Era tudo tão mágico, tão de sonho! Tão de mais!
Foi muito simples reabilitar esse passado. Creio que foi a paisagem do filme Wicker Park que me fez ressuscitá-lo. Como sinto falta da paisagem branca, branca. Ver os flocos de neve descer do céu ininterruptamente, vê-los cair uns sobre os outros até cobrirem tudo com um manto imaculado.
Mais belo e inesquecível ainda é andar nas ruas brancas e sentir no rosto o frio cortante. Sabia tão bem fazê-lo! Mesmo quando os trilhos por onde todos passavam se transformavam numa lama aguada e acastanhada.
As roupas quentes que somos obrigados a vestir aconchegam-nos nesses passeios a pé. As luvas, os cachecóis, os gorros, os casacos compridos, as botas são de um conforto extraordinário. Tal como entrar numa chocolaterie e pedir um chocolate bem quentinho. Que aroma!
Depois retomava o passeio sozinha ou acompanhada, tanto fazia. Quando sozinha, apreciava a neve nos telhados das casas, nas copas das árvores, nas margens dos lagos. Observava as pessoas na sua rotina diária. Quando acompanhada, gostava sobretudo de respirar fundo, encher o peito de ar frio e de me ver, depois, a expirá-lo como se de vapor se tratasse.

(ùltimo dia de Outubbro de 1995)