terça-feira, 30 de junho de 2009

Tertúlia

Foto de Fernando Cardoso
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Parque dos Poetas
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Numa tertúlia muito agradável com o escritor José Fanha, já lá vão muitos meses, retive certas frases que ainda hoje fazem eco dentro de mim. As primeiras, que muito me marcaram, dizem respeito aos escritores em geral.
Um dos seus grandes amigos de José Fanha, também escritor, cujo nome não me recordo neste momento, partilhou com ele o seguinte pensamento «Todos os escritores são crianças doentes». Fiquei a pensar. Intimamente concordei. Lembrei-me imediatamente de Fernando Pessoa.
Depois acrescentou. Alguns ficaram órfãos muito cedo e tardiamente ou nunca superaram a perda do familiar querido, ficando a sua infância marcada pela saudade de quem foram; outros entraram em conflito aceso com os seus progenitores; outros ainda entraram em conflito consigo mesmos. Ainda há aqueles que não superaram nunca essas perdas e esses confrontos e disseram precocemente adeus à vida. Nessa altura pensei em Antero de Quental, Florbela Espanca e em Mário de Sá Carneiro.
José Fanha não se ficou por aqui e deu alguns exemplos falando de autores e declamando os seus textos. “Hoje já não festejam o dia dos meus anos”, de Fernando Pessoa; “Poema à mãe” de Eugénio de Andrade; “O Palácio da Ventura” de Antero de Quental e muitos, muitos mais poemas de Ary dos Santos, Alexandre O’Neill, Mário Viegas, Sophia de Mello Breyner Andresen, Miguel Torga.
Há obras e textos felizes, porém nem sempre quem os escreve é feliz. O verdadeiro escritor tem a sensibilidade à flor da pele e o sofrimento inscrito no mais fundo do seu ser!

5 comentários:

F Nando disse...

Felizes aqueles que têm a capacidade de ACREDITAR e não desistem de SONHAR...
A prosa é o arrumo das letras a poesia são o som das palavras...
Que importa os outros e por um momento voltarmos a ser crianças que brincamos com as palavras?
Beijos

Teresa Diniz disse...

Isso é uma carga pesadíssima. Quero acreditar que é possível escrever bem e ser (razoavelmente) feliz. Já quanto à sensibilidade à flor da pele, concordo plenamente. É preciso ser sensível ao mundo para o deixar imprimir-se em nós e depois deixá-lo escapar-se devagarvagarinho (como diria Pepetela) através das palavras.
Beijinho

Teresa Diniz disse...

Só para te fazer um desafio, que está no meu blogue.
Bjs

entremares disse...

O escritor... o que faz o escritor? Pega em meia dúzia de palavras e constrói um cenário. Com os mesmos tijolos, o poeta elabora poesias, o jornalista relatos frios e imparciais.

Os tijolos são os mesmos, as serenas palavras.

Mas afinal, não faz o pintor a mesma coisa? Não precisam de ser pessoas infelizes, creio.

Acredito sim que, pessoas mais solitárias, mais "viradas para dentro" consigam descobrir mais e melhores maneiras para dispôr os tais "tijolos" em cenários que todos os outros, os despreocupados, nem pensam...

Boa semana...

☆Fanny☆ disse...

Concordo, Nathalie!

"O verdadeiro escritor tem a sensibilidade à flor da pele e o sofrimento inscrito no mais fundo do seu ser!"

O poeta sofre (sim, na maioria das vezes) , é nostálgico, é solitário... e quando ele escreve versos tristes e consegue imprimir neles tanta beleza, eu diria que é abençoado. Uma dádiva que nem todos conseguem.

O poeta precisa da solidão para se acompanhar das palavras!
Eu que não sou poeta, mas gostaria de ser... tenho saudades da minha solidão, do encontro com as palavras.

SONHAR é VIVER!