quinta-feira, 12 de julho de 2012

XXIII Naquele dia...


F Nando

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Na manhã seguinte, a caminho do trabalho parou numa patisserie, bebeu um café e deliciou-se com alguns macarons. Eram estaladiços, leves, doces e desfaziam-se na boca. Pediu â empregada que colocasse uma dezena numa caixa para levar. Pagou e saiu.
Entrou no carro e acomodou a caixa para que não chegassem todos partidos. Saiu sem pressa pois ainda tinha muito tempo. Tivera um sono desassossegado, povoado de pesadelos, fazendo-a acordar em sobressalto. Há quanto tempo isso não lhe acontecia! 
Assim que chegou ao escritório, colocou a caixa em cima da sua secretária e a mala em cima da cadeira. Depois encaminhou-se para a sala de reuniões porquanto tinha convocado uma reunião de equipa. Tinham ganho mais um negócio de design importante. Uma famosa empresa de móveis nacional queria uma linha de móveis modernos, confortáveis e com linhas arrojadas.
Quando entrou já lá estava a sua secretária. Os elementos da equipa foram chegando sem grandes atrasos. A reunião demorou toda a manhã e prolongou-se para a tarde. Mas os resultados foram bastante satisfatórios. Os designers ocupar-se-iam dos esboços e dos materiais a usar, os publicitários da promoção desse produto e Emilie das diferentes reuniões com o cliente. A estratégia de trabalho e intervenção estava delineada.
Emilie foi a última a sair da sala de reuniões. Estava satisfeita. Cada vez gostava mais do seu trabalho. Era bom, tão bom trabalhar no que se gostava. Seguiu para o seu escritório a pensar nos macarons. Hoje sentia-se tal qual Marie Antoinette, que os mandara criar, pois ia deliciar-se sem pressa com esses bolinhos coloridos. Que doce tentação!
Entrou no escritório com um sorriso nos lábios que logo esmoreceu. Os seus macarons tinham desaparecido, em vez disso havia um grande bouquet de rosas amarelas. Ao lado do ramo, um bilhete: Tive de os levar comigo. Pardon. Ia atirar com o ramo ao lixo quando um bilhete caiu no chão. Apanhou-o, mas ficou indecisa se deveria lê-lo ou não.


quarta-feira, 4 de julho de 2012

XXII Naquele dia...


F Nando

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Naquela sábado à tarde Emilie decidiu passear. Melhor dizendo, fundir-se com a turba de turistas que visitavam o Louvre. Conhecia bem todas as alas do palácio. Visitara-as todas em momentos como aquele. Em momentos em que se sentia vazia, só, angustiada. Escolheu a galeria de Napoleão. Aquela era uma bela ala. Gostava do mobiliário, das tapeçarias, das porcelanas, dos dosseis, das diferentes salas. Ao visitar esta ala pensou em Napoleon e Faby. Deveriam estar felizes e ela sentia-se felizes por eles. Um dia visitá-los-iam.
Depois de muito andar no majestoso Louvre, sentiu-se cansada. Foi até à cafetaria e comprou uma fatia de tarte de mirtilo e um café. Como não havia lugar nas mesas, esperou um pouco. Logo depois sentou-se, comeu e repousou. Estava pronta para continuar.
Não estava muito longe da ponte onde vira o seu nome num cadeado. Então, decidiu caminhar até lá e sentir o ar da rua. Só que o cadeado já não estava lá. "Que teria acontecido?" - pensou. "Será que tinha sonhado?" - questionou-se. Na vida de Emilie não havia nada de misterioso ou assim parecia, porque nos últimos tempos estava mais do que rodeada em mistérios!

domingo, 1 de julho de 2012

XXI Naquele dia...


F Nando

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Emilie retomou a sua rotina. No regresso ao trabalho, tudo estava na mesma. Os colegas mostraram-se curiosos em relação à viagem a Itália, porém a conversa ficou adiada para o almoço. E que almoço divertido foi aquele!
Certa noite, já em casa esticada no sofá a ver televisão, Faby telefonou. Devia ter novidades, pois só costumava ligar quando tinha algo novo para dizer. Ficou surpreendida com o que ela lhe contou. Depois do regresso de Itália, Napoleon tinha vindo passar uns tempos em casa dela. Continuavam a sentir-se atraídos um pelo outro, a bem da verdade sentiam mais do que atração, porque ele lhe tinha proposto para viverem juntos em Itália. 
- Tens a certeza? - perguntou Emilie. - Não estás a arriscar de mais?
- Tenho a certeza, amiga. 
- Pode ser um risco muito grande.
- Tudo é um risco e o que eu quero é não me arrepender um dia por ter tido receio de não ter vivido uma paixão.
- E o emprego? O apartamento? Os teus pais?
- Se um dia regressar arranjarei outro. Alugo o apartamento. Os meus pais querem a minha felicidade. E tu, Emilie, que me desejas?
- Também desejo que sejas feliz. Se é isso que queres, vai. 
- Assim tens uma boa desculpa para me visitares.
- Não precisas de me convencer, Faby. Quando vais?
- Amanhã!
- Já? Isso é que é pressa.
- Não vale a pena adiar o inevitável.
- Claro. Boa viagem, amiga. Dá notícias.
- Obrigada. Claro que darei notícias!
E Faby desligou. Emilie estava surpreendidíssima. Nunca imaginara que a amiga tinha tomado uma decisão tão impensada. Mas Faby era mesmo assim: mais coração que razão. Já ela era o contrário. 
Uma tristeza inesperada tomou conta dela, desligou o televisor e foi para a cama. No dia seguinte já não sentiria essa sensação.