quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

André no Reino das Palavras Falantes


O Verbo e o André, da ilustradora Fernanda Azevedo


***


Esta é uma história contada na terceira pessoa, mas não me coube a mim o papel de contá-la. Desempenho outras funções! Quase que posso afirmar que sou eu o verdadeiro protagonista. Bom... para ser justo, eu, ainda que muito pontualmente, e outras personagens, que, espero, sejam do vosso agrado.
A narradora deu-me vida própria ao transformar-me num ser falante. Ela concebeu-me há mais de dez anos, com a colaboração de uma amiga. Na altura, pensaram escrever esta narrativa em conjunto, por isso alguns dos primeiros capítulos foram escritos a duas mãos... Creio que é melhor dizer a duas mentes, ainda que a mente não escreva. No entanto, é aí que nascem as ideias e se criam mundos. Depois, por circunstâncias várias, esqueceram-me, até que há bem pouco tempo uma dessas amigas, desafiada por outra amiga, que resolveu dar-me forma na paleta das cores, me ressuscitou. Por vocês! E sinto-me muito feliz com isso.
Sou e serei sempre ficção. Nesta aventura, sou de carne e osso, todavia, queridos leitores, todos sabem que a minha existência depende dos outros. Para já, não vos vou dizer de quem. Seria antecipar-me e retirar algum do mistério que me envolve, ainda que apenas nas primeiras páginas. Eu sei que vocês apreciam uma certa espera, revelações surpreendentes, uma guinada inesperada na intriga. Desculpem-me a linguagem! É que a vossa mente para além de demonstrar abertura ao novo, ainda não ergueu barreiras ao inusitado. Há todo um imaginário rico e prodigioso que vos habita desde tenra idade. Bem hajam!

Ah! Já me esquecia! Espero que se divirtam tanto quanto eu!

Verbo


***


Apresentação da narrativa pelo Verbo, uma das personagens do volume 1, da colecção Os Caçadores de Gramatífagos

sábado, 24 de janeiro de 2009

O perfume das palavras



Cedo senti o valor e o poder das palavras. Com elas aprendemos a aprendê-la e mais tarde a ensiná-la; com elas criamos laços, expressamos o que sentimentos; com elas sonhei e inventei outras.
Sem as palavras parece que tudo se perde e que todos têm muito a perder. Mesmo para aqueles que nasceram sem poder ouvi-las e articulá-las. O mundo das palavras é todo um universo de alfabetos, sílabas, sons, sentidos.
Nasci para amar as palavras. Por elas construí mundos só meus e a que ninguém podia aceder. Ainda hoje isso acontece. Com elas construí outros que partilho. Deixo-as ir como “sementes ao vento”, à espera que frutifiquem.
Com o passar do tempo, descobri-lhes o sabor. Encontrei-as amargas e ácidas e doentes, de tantos atropelos, de tantas atrocidades sofrerem. Também me chegaram doces e cintilantes nos momentos sonhadamente poéticos. Devolvi-as ainda mais doces e solidárias, numa irmandade original.
Há relativamente pouco tempo chegou-me o seu perfume: doce, quente, carmesim, intemporal, único. Senti-o quando comecei a narrar histórias. Assisti ao olhar brilhante e expectante dos ouvintes, ao sorriso simples e honesto dos mais pequenos, à partilha da experiência de contadores apaixonados pelas narrativas.
As palavras assim ditas e/ou lidas são a expressão de sensações e o despertar para o enamoramento por elas. Quem as ouve não as esquece nunca e quem as diz, originais ou não, permite olhares diferentes sobre essas sementes sempre prontas a desabrochar.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Sentir



Sê grande
ainda que sintas que o não és
pois só sentir
plenamente
e buscar o indizível
te é permitido

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Ainda e sempre Paris




Depois do regresso a Lisboa
perguntei-te
Estás satisfeita com a tua obra
***
Não me respondeste
Nem me olhaste olhando o Mar da Palha
mas sem o veres
sem sequer o tentares reconhecer
***
Tudo era ainda e sempre Paris
***
A cidade estava em ti
iluminava-te
e roubava-te em absoluto
da realidade previsível do hoje
***
Continuavas a passear-te
pelos boulevards
de onde vias os bateaux mouches
percorrendo o Sena
***
Tranquila bebias tragos de kir royal
numa terrasse dos Campos Elíseos
num qualquer fim de tarde
revendo os teus papéis
***
Outras vezes ias até à Fnac
na Grande Arche de la Défense
onde folheavas por horas intermináveis
romances, peças de teatro, poesia
que devolvias às estantes ou compravas
***
Nessa desejada estadia
o romance que ali iniciaste e terminaste
continua a ser esse teu silêncio
sem edição prevista

domingo, 18 de janeiro de 2009

Momentos estéticos

Pedro Reis Miguel, Sem título (acrílico sobre tela)
***
No grande silêncio
de momentos solitários
ouviram-se
músicas de um outrora
proferiram-se
palavras vestidas de cetim
pintaram-se
telas de paixão

sábado, 17 de janeiro de 2009

Páginas do ser



Não cerres os olhos
à paisagem humana
que te anuncia
as viagens de tempestade
na sua vida de insinceridades

Não te revejas nas mentiras
que criaram para ti
que mais não são do que não-verdades
de todos os outros

Nem sempre quem lê as tuas páginas
te sabe autêntica e honesta
porque a inocência e a ingenuidade
só são para os que conhecem o mistério
de se ser

Nem te perguntes porquê e não aches as respostas
além de ti

Revelações do Eu

O que conquistas todos os dias
na hora em que és
ainda
conhece a alquimia
que se desprende das tuas mãos
sempre que tocas
a página em branco
*
Os enigmas que revelas
na forja do sentir
são a paisagem de outras paisagens
de indizível lucidez
*
A tua ausência sempre anunciada
não te ameaça nunca
porque o milagre de seres
sussurra-te as imagens aladas
que anunciam a existência
secreta
desse teu olhar-anjo

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Blogue de Ouro

Recebi este selo da minha amiga Fanny (http://suavesmurmurios.blogspot.com/) que escreve com o a alquimia da sua alma luminosa.

Sensações



Estava uma manhã tranquila azul. Caminhava descalça numa qualquer praia solitária. Por uma vez, a praia era só minha. Inalava os tragos de maresia que me embriagavam os sentidos. Fechei os olhos, caminhando e sentindo ainda mais o que sempre me fora familiar. Deixava que o sol me tocasse, ouvia o marulhar das ondas, sentia a humidade da areia, visualizava as rochas que se erguiam, ainda longe, à minha frente e as árvores que ficavam atrás de mim.
Estava ali para ver, ouvir e sentir. Como nunca me haviam permitido, por receio do que pudesse fazer-me. Todavia, tudo me pacificava. A angústia, o desespero, a tristeza tinham-me finalmente dado tréguas. Não corria perigo. Na verdade, nunca correra perigo. Ainda que poucos acreditassem. Porque tentara não-ser noutras alturas.
Abri de novo os olhos, sob o chapéu de abas largas. A túnica semi-transparente abria-se revelando as minhas pernas ligeiramente bronzeadas. Continuei a caminhada. Para melhor sentir o sol e a brisa marítima tirei a túnica. Deixei-a onde caiu. Mais adiante tirei a parte superior do biquíni, acto já normal. Deixei-o também ao acaso, por ali. Lá mais à frente, decidida a entrar no mar, tirei a parte inferior. E entrei no mar.
Primeiro deixei que me acariciasse as pernas, as coxas e o ventre. Sempre que a água aí chegava sentia um ligeiro e delicioso arrepio. Só depois me decidi a mergulhar. O mar tocou a nudez do meu corpo envolvendo-me no seu longo abraço líquido e salgado.

Nunca até então fora tudo tão e só eu... ainda que o teu rosto ainda ausente me acompanhasse.

*****

Texto dedicado a Vítor Carvalho, um amigo muito especial


domingo, 11 de janeiro de 2009

Estações...



A folha em branco
aprisiona
as folhas
colhidas
antes do Inverno



Rouba-lhes
sonhadamente
os contornos do ser

e a paleta dos tons



Só que entre o olhar cativo
e o sopro divino

elas reacendem-se
quimericamente

anunciando
a sua Primavera


sábado, 10 de janeiro de 2009

Pour Sophie


L’amitié, l’ art suprême des coeurs tendres et simples, donne un sens à la vie. Elle est la plus grandiose voix que les êtres humains possèdent. Mais elle ne s’ insinue que dans les âmes plus éveillés et sincères. J’ ose dire que c’ est grâce à elle que l’ amour, l’ espoir, la joie, le bonheur peuvent être réinventés.

(16/03/97)

*****


J' ai connu Sophie em 1997, à Auxerre. Nous étions professeur au Lycées Jacques Amyot. Elle enseignait Histoire et Géofraphie et moi Portugais. On habitais ensemble avec Wendy (une étudiante anglaise) et Nina (une autr étudiante allemande) dans un appart au lycée.
Quelle année super!




sexta-feira, 9 de janeiro de 2009


Sempre que enfrento a página
sem rosto
enamoro-me da sua inexistência
porque me permite
aparecer
nos seus contornos
de Sonho e Éden



domingo, 4 de janeiro de 2009

Aqui e Agora











O teu Reino é a tua sensibilidade
é a tua interioridade feita de imagens
e sensações múltiplas

***
Sente que és Aqui e Agora
no silêncio dourado
verdade integridade paixão

***
Não te deixes prender
no Outrora
que mais sublime
é saberes o sentido único
da tua existência


há qualquer coisa - Poesia a catorze

2000 - Editorial Minerva

Depois de um primeiro prémio de poesia, recebido em 1997, arrisquei, anos mais tarde, dar os meus poemas a ler. O editor gostou e publicou-os.
Este foi o meu começo, mas, para que isso acontecesse, tive de contribuir monetariamente para a sua edição. Eu e mais treze autores.
Chamei aos poemas publicados "Telas de Poesia" e os primeiros poemas remetem para duas temáticas: uma mais filosófica e outra para a pintura.
***
A essência do ser
palpita
no silêncio das grandes vozes
solitárias
que habitam o nosso corpo
que contam a nossa existência

* * *

O dia não tem horas.
Tem estações claras
de cores proferidas em silêncio.

* * *

A tempestade das cores
instalou-se na tela
e dela nasceram relíquias do ser sensível que nos conta

***
Depois, ainda que não deixasse de escrever, não publiquei mais nada. Quero dizer, poesia. Ultimamente voltei a escrever ou a reescrever os poemas que guardei para, um dia mais tarde, transformar em livro. Projecto, não obstante, adiado em prol da colecção Os Caçadores de Gramatífagos, para o público infanto-juvenil.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Enganos


Ouvi-te

Ainda ouço o eco distante
das palavras que me disseste
nas horas de vento e água

Imprevisivelmente descobri que não me sabias

Como podia ignorá-lo

Mas ignorava-o
como o mar ignora que a ânfora
existe

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

(In)discrição

Gustav Klimt, O Beijo
***
Velas aromáticas
tornam o espaço carmim
acolhedor quente mágico íntimo

No tapete que cobre o chão
repousam displicentemente almofadas
deixadas ao acaso
sempre convidativas à aventura

Há numa jarra de design arrojado
belas e lânguidas rosas
de veludo e acetinado pérola e carmim
no anúncio de uma chegada
prevista

Por todo o espaço suavemente iluminado
dormem cromaticamente
pétalas de outras rosas
num convite ébrio
à luxúria e ao despertar dos sentidos

Na hora chegada
após uma certa espera
bocas sequiosas e corpos ávidos
encontram-se
por fim
nos abraços do prazer
reinventado, intenso, de descoberta


No espaço carmim e odorífero
ondulam
sussurros, beijos, frémitos,
confidências rubis
de puro, secreto, roubado, proibido
amor carnal

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Robert Doisneau

Jeux de séduction... de passion dans les rues d'une quelque ville... l'amour qui ne peux pas se perdre dans le silence...

Rencontre de tendresse... de petit grand gestes entre les amants... un sourire, un baiser... une déclaration passionné...

Imaginer que quelqu' un qui est toujours lá pour vous, vous dit «Attrape-moi... si tu m'aimes.» Que feriez-vous?