terça-feira, 26 de junho de 2012

XX Naquele dia...

F Nando

***

 O dia de regresso chegou. Emilie ansiava regressar a casa, já Faby não sentia vontade nenhuma.  Pela sua expressão e postura via-se que estava contrariada.  Emilie meteu conversa.
-- Como foi ontem?
-- Um sonho de tarde e de noite. Andámos de lancha no mar Adriádito, ao fim do dia levou-me a um belíssimo restaurante e depois fomos para o apartamento dele que dava para um dos canais. Era lindo.
-- Como foste encontrar um italiano tão charmoso?
-- Nem eu sei. Pensei que eram coisas que só aconteciam em filmes ou romances. Estou estupefacta.
-- Eu também estou, Faby, e não foi comigo.
-- Nunca te aconteceu?
-- Não- Pelo menos não assim.
-- Sério? Quando Émilie?
-- Há alguns anos em Barcelona. Conheci um pintor enquanto visitava a Fundação Joan Miró. Mas só fomos comer umas tapas e não passou disso.
-- Que pena!
-- Que pena que nada. Na altura era comprometida e não ia trair o meu marido. Não podia.
-- Fizeste mal, Emilie. Na altura já o teu marido te traía com umas e outras.
-- Não sou de dar o troco na mesma moeda. Conta-me mais do Napoleon.
-- Tive mais uma noite inesquecível! Ele é um amante meigo, carinhoso, intrigante e insaciável. Chegou uma altura em que já não podia mais! -- confidenciou ao ouvido de Emilie. E Emilie riu-se.
-- Bem amiga, podes deixar de procurar alimento por uns tempos.
-- Qual quê? Achas que sou de ferro como tu? 
-- E quem disse que eu era, Faby?
-- Disfarças muito mal, amiga. Digo-te que gostava que fosses diferente e aproveitasses mais a vida.
-- Isso não podes dizer. Viajo, janto fora com amigos e colegas de trabalho, vou a festas com amigos, vou a eventos sociais, exposições, cinema, teatro,
-- Estou a falar de outro divertimento.
-- Não quero complicações, Faby. Já tive o suficiente!
-- E a pessoa que te põe flores na bicicleta, grava as tua inicias num cadeado numa das pontes e não sei que mais?
-- Não interessa.
Entretanto o avião fez-se à pista e a conversa ficou por ali. Depois de levantarem a bagagem foram para o ponto dos táxis, seguindo cada uma rumo a casa.

terça-feira, 12 de junho de 2012

XIX Naquele dia...

Caffè Florian


Emilie sentia-se muito bem e muito feliz. Estava a adorar a tarde cultural. Nem se importava de ter ido sozinha ver os monumentos. Estava um fim de tarde encantador. Depois de vaguear pelas ruelas e praças de Veneza, regressou ao Caffè Florian não só para comer qualquer coisa, mas também por ser o local de encontro com Faby. Quando o garçon apareceu pediu um capuchino e uma minitarte com recheio de fambroesas e guarnições de chantilly.
Respirou fundo e observou as pessoas que se iam, os pombos e a Praça de São Marcos. Que bom estar ali, naquele café! Que privilégio estar num lugar majestoso e famoso. Por ali tinham passado Lord Byron, Charles Dickens, Marcel Proust, entre outros. Tanta gente famosa num lugar lindo. 
Faby tardava. Apetecia-lhe descansar antes do jantar. Decidiu ir até ao hotel que não era muito longe dali. Tomou um duche e deitou-se um pouco. Acabou por adormecer profundamente. Quando acordou, era já noite e estava às escuras. Acendeu as luzes e viu as horas. Eram nove da noite. Tão tarde, pensou. E nem sinal de Faby! Ligou-lhe mas a sua chamada foi parar à caixa das mensagens. Deve estar bem, pensou. Vem quando quiser e lhe apetecer.
Decidiu jantar no hotel. Comeu e logo depois subiu para o quarto. Ligou a televisão e fez um zaping pelos canais mas nenhum lhe interessou. Optou por ler uma boa narrativa de viagens. Adormeceu com o livro no colo.
Acordou às oito da manhã quando Faby lhe tirou o livro das mãos assustando-a.
-- Não te assustes. Sou eu, a Faby.
-- Que horas são?
-- Oito. -- respondeu Faby.
-- Dormiste fora?
Faby anuiu com a cabeça.
-- Com Napoleon?
-- Si.
-- Então a noite foi boa! Conta! Conta!
-- Foi uma noite espetacular. Aquele Napoleon é...
-- É!? Continua, Faby.
-- É um amante fantástico! Meigo, ardente, apaixonado, incansável.
-- Foi tão bom assim?
-- Para lá de bom! Foi excelente! Um verdadeiro deus italiano!
-- Uau! Quem diria... 
-- Acredita. Ainda nem estou em mim, Emilie.
-- Achas que hoje estás apta para ir passear?
-- Olha bem para mim, achas que sim? Não vou. Além disso, o Napoleon ficou de me vir buscar à uma da tarde. Vou dormir um pouco.
-- Sua marota! Descansa. Não te esqueças que saímos daqui amanhã cedo. Vamos apanhar o avião a Milão.
-- Ok, amiga. Desculpa lá.
-- Gosto de te ver feliz, Faby. Diverte-te. E tem cuidado.
Faby nem ouviu as últimas palavras de Emilie pois adormecera.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

XVIII Naquele dia ...



http://viagenslacoste.blogspot.pt/2010/02/veneza-galeria-de-fotos-8.html

Estavam sentadas na esplanada do caffè Florian  a comer gelatti quando o estranho de Florença se sentou na mesa mesmo ao lado. O garçon trouxe-lhe uma taça de vinho que ele levantou em direcção a Emilie e Faby. A primeira virou a cabeça; a segunda sorriu.
Como Faby sabia falar italiano acabou por responder às insistentes perguntas do italiano. Como se chamavam, de onde eram, quanto tempo ali estariam. Claro que depressa se juntou a elas dispondo-se a servir-lhes de cicerone. Com o seu charme e o seu italiano cantado e sedutor, as duas amigas concordaram.
Pouco tempo depois, Napoleon conduziu as duas amigas pelas ruas estreitas mostrando-lhe Veneza. Contou-lhes que esta tinha sido formada num arquipélago na laguna de Veneza, no golfo de Veneza, no noroeste do Mar Adriático. Perguntou-lhes se sabiam quem era o seu patrono.
-- É S. Marcos. Já estivemos na praça com o seu nome. -- respondeu Faby.
-- Hum, muito bem! -- disse Napoleon.
-- É um lugar belo, mas também o mais baixo de Veneza. -- acrescentou Emilie. -- Gostei muito do Palácio Ducal e do Campanário da Basílica.
-- A Basílica de São Marcos é um importante monumento de Veneza.
-- Majestoso, Napoleon.
-- Si, bella. -- disse voltando-se para Faby.
Faby sorriu ao ouvir o elogio e enrubesceu um pouco. Não sabia por que isso acontecia sempre que lhe dirigiam um piropo, mas nada podia fazer. Parecia timidez. A timidez que qualquer homem aprecia por se saber o causador dessa reação.
No dia seguinte, viram outros recantos da bela Veneza. Atravessaram a Ponte de Rialto, a Ponte dos Descalços e a Ponte da Academia, duas das pontes que atravessam o Grande Canal. Depois do almoço, Napoleon levou-as a ver a Ponte dos Suspiros.
-- É belíssima, não é? -- perguntou Napoleon.
-- Magnífica! É um lugar romântico e mágico.
-- Agora, Faby! Em tempos não era. -- disse Emilie. -- Há uma lenda que envolve esta ponte e que tem atravessado os séculos. É uma história triste.
-- Daí o seu nome: Ponte dei Sospiri.
-- Pois é, Napoleon. Conta-se que esta ponte unia a antiga prisão da Inquisição, que se chamava Piombi, com o Palácio Ducal e era o último trajeto que os prisioneiros faziam antes de morrer. Ora, ao atravessarem a ponte ouviam-se os seus suspiros.
-- Muito bem, Emilie. Conhece bem esta história! Agora é um dos lugares mais visitados pelos turistas.
-- E é realmente extraordinária. E agora? Vamos andar de gôndola, Emilie? -- perguntou Faby.
-- Vou visitar o Museu Correr, quero ver a Ala Napoleónica. Vão vocês. Encontramo-nos na Praça S. Marcos.
-- Ok.-- disse Faby.
-- Ciao, bella! -- disse Napoleon.
E desapareceram.