quarta-feira, 17 de outubro de 2012

XXVIII Naquele dia...


Foto FNando

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Emilie passou a ir com frequência a casa da avó Laura e do Paulo. Essas visitas aconteciam sobretudo ao fim-de-semana. Emilie também os recebia no seu apartamento. Também saíam à noite. A avó Laura adorava teatro, ópera e bailado. Quando Emilie se ausentava a trabalho, a avó Laura sentia por demais a sua falta. Habituara-se a tê-la por perto. Era como uma neta.
Certo dia ao serão, a avó Laura, que bebia o seu chá e comia bolachinhas de manteiga, dirigiu-se ao neto:
-- Paulo, já pensaste em conhecer uma bela mulher e casar?
-- Porquê a pergunta agora?
-- Não sei. Acho que seria bom para ti. Sei que tens tido algumas relações umas duradouras, outras menos, mas não é bom estar só.
-- Mas quem disse que estou só, avozinha?
A avó pareceu surpreendida.
-- Sério!? 
Paulo riu e respondeu:
-- Nada sério. Conheci-a há uns dias.
-- Numa festa ou dicoteca, aposto.
-- E qual é o mal? É aí que as pessoas se conhecem.
-- Mas depois a relação não dura.
-- E para quê avó? Para terminar em divórcio litigioso, cada um para seu lado?
-- Bem, nisso tens razão. Mas não se pode deixar de procurar o amor. Hás de encontrar a tua alma gémea.
-- Ou talvez não! - disse rindo-se.
-- Acho que estás a esconder alguma coisa...
-- Não, avó.
-- Onde vais logo com a Emilie?
-- Com a Emilie, avó?
-- Sim, Paulo.
-- Não temos nada combinado, que eu saiba. 
-- Então, e o passeio de barco no Sena?
-- Ah isso! Ficou para sábado, pois durante a semana só sabe trabalhar! 
-- Olha quem fala! Fazes o mesmo. Só estás comigo hoje porque te sentiste febril pela manhã.
Estes diálogos eram comuns entre avó e neto. Davam-se super bem. E continuaram em amena cavaqueira até que o telemóvel do Paulo tocou.


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

XXVII Naquele dia...



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Emilie deixou-se convencer e ficou para o almoço. Há tanto tempo que não comia uma refeição tão familiar! E não era só pelas iguarias, era sobretudo pela companhia. Parecia que estava num almoço em Biarritz, só que muitos não estavam ali ou já tinham desaparecido. Ainda assim foi divertido, maravilhoso e um regresso ao passado comum. 
Paulo, a avó Laura insistiram para que Emilie ficasse para passar o resto da tarde. Emilie agradeceu e explicou que tinha mesmo de ir. No entanto, prometeu aparecer mais vezes. A avó Laura sorriu com satisfação. Adorava aquela menina. Emilie despediu-se com beijinhos e abraços. Ia despedir-se do Paulo, mas este disse que ia descer com ela porque ia à rua.
Entraram no elevador e Paulo perguntou a Emilie:
-- Consegues trabalhar depois de uma noitada?
-- Claro! Sou uma diretora com muitas responsabilidades e com muita gente sob o meu comando. Não posso falhar. Amanhã será um dia de reuniões contínuas. E ainda esta semana irei a Madrid.
-- Tens tempo para respirar?
-- Ontem e parte do dia de hoje foi a prova de que tenho. Não achas, Paulo?
Saíram do elevador, saíram do prédio e Paulo ainda perguntou:
-- Não vais desaparecer, pois não? A não ser que tenhas um namorado escondido.
-- Podes estar sossegado. Não desaparecerei.
Beijaram-se e cada um seguiu em sentidos opostos. Chegada a casa, Emilie pôs-se confortável e atirou-se ao trabalho, que prolongou até à uma da manhã.Comeu mais qualquer coisa e foi-se deitar.
Noutro lugar da cidade, na ponte dos apaixonados, alguém recolocava o cadeado com a inicial de Emilie e a sua.


sábado, 13 de outubro de 2012

XXVI Naquele dia...


Foto de FNando

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A luz entrava a jorros na divisão, pois as cortinas não tinham sido fechadas. Emilie abriu com dificuldade os olhos e olhou à sua volta. Que ressaca! Mas fora uma tarde e noite muito divertidas. Há quanto tempo isso não lhe acontecia! Subitamente, Emilie deu-se conta que não estava na sua cama, nem no seu apartamento. Onde estava então? Onde fora parar? Olhou para o outro lado da cama, mas não viu ninguém. 
Levantou-se, enrolou-se no lençol e explorou o apartamento completamente remodelado. Apesar de o exterior ser do século XIX, o interior era do mais contemporâneo que havia, com muitas peças de designers e obras de arte. Aventurou-se mais! Tinha de saber onde e com quem estava. 
Viu uma porta entreaberta e dirigiu-se para lá. Tentou não fazer muito barulho. Abriu mais um pouco a porta e viu Paulo ainda a dormir. Então estava em casa do amigo! Ainda bem. Assim, sentia-se mais segura.
Emilie sentiu fome e dirigiu-se à copa. A avó Laura lá estava, quase intemporal. Recebeu-a com abraços e beijos. Há quanto tempo não se viam! A avó Laura deu ordens para que se fizesse o pequeno almoço para a menina Emilie. Esta foi tomar banho e, de seguida,  ambas se dirigiram para a sala de refeições.
- Ah menina, como desapareceu durante tanto tempo?
- São coisas que acontecem, avó Laura. - respondeu com carinho. - Muito trabalho, viagens de negócios...
- Claro. Compreendo. Com o Paulo é a mesma coisa.
- Gostei muito de o reencontrar. Trouxe-me a minha infância de regresso! - Disse trincando um croissant. - Foi muito bom.
- Sabe, segredou-lhe a avó Laura, sempre pensámos que acabassem juntos.
- Não foi possível, avó Laura. Éramos muito jovens quando namoramos. Além disso, cada um queria seguir um caminho diferente.
Emilie olhou vagamente o que se encontrava em cima da mesa. Depois, serviu-se de mais café com leite, pão com manteiga e sumo de laranja.
- Foi uma pena! - lamentou a velha senhora.
- O que é que foi uma pena, avó?- perguntou Paulo entrando na sala, indo beijar a avó e Emilie.
- Que não tivesses acordado mais cedo para tomarmos o pequeno almoço juntos.
- Mas ainda estão à mesa, portanto estamos todos juntos.
- Como antigamente- confirmou a avó Laura.
- Não vou poder ficar por muito mais tempo.- disse Emilie. - Tenho de ir rever alguns dados para as reuniões de amanhã.
- Emilie, hoje é domingo, descanse. Almoce connosco. - Insistiu a avó Laura.
- Agradeço, mas hoje é impossível.
- Nada é impossível. - respondeu Paulo enigmático.