domingo, 31 de maio de 2009

Raízes


Algo lhe ficou do norte. Mais a ele do que a mim, diga-se de passagem! Aliás, ficaram-nos memórias diferentes: ao meu irmão, o gosto pelo cultivo de frutos, ervas aromáticas e hortaliça. A mim, o gosto por observar paisagens campestres.
Sempre que chega extenuado do trabalho, ali vai ele para a sua "horta", onde renova as suas forças, num encontro mágico com a terra. Por vezes, também me aproximo. Mas pouco faço!
Mas lembro-me bem de, todos nós, em momentos de muito trabalho na quinta de meu pai, trabalharmos. Ainda que houvesse muitos trabalhadores a fazê-lo! Sempre ajudámos.
Éramos todos felizes nesse tempo! Porque meu pai estava connosco! Depois tudo mudou... sobretudo o meu Sentir.

Desassossego

Foto de Fernando Cardoso
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Na paisagem
das abstracções sempre possíveis
voluntárias
ondulam magoadas
notas de um poema
na página anjo do SER

Nascem de um estado de lucidez
de um olhar perdido
desassossegado
angustiado mas atento às sensações

Incapaz de conter a tempestade
tem de imperiosamente
converter
as palavras da sua dor resignada
em mergulhos vacilantes e angustiados
ao seu mundo interior
Tudo desmorona à sua volta...
Agora, sabe-lhe o Momento a nada
desde que se reconheceu e soube
Outra

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Foto de Fernando Cardoso
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«A esperança no amanhã faz o entardecer mais bonito.»
(autor desconhecido)
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Experiência ficcionista


Foto de Fernando Cardoso
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Saímos no teu carro. Deixámos a Grande Cidade, em direcção ao sul. Não fazia a mínima ideia onde nos ias levar. Por mais que te questionasse, não me revelavas as tuas intenções. Mantinhas-te alegre, divertida e misteriosa, como noutras alturas. Ao passarmos por uma placa, cheguei a pensar que íamos para uma vila piscatória, de várias colinas, muito conhecida, e que atraía muitos turistas no Verão. Demasiados para os pequenos areais!
Passámos em várias povoações que ambos conhecíamos, mas tu continuavas a andar. De certos sítios, passado algum tempo, via-se o oceano prolongar-se no infinito da nossa visão. Em breve, estávamos no campo a percorrer uma estrada estreita em direcção, agora sim, podia dizê-lo porque o via, ao Cabo Espichel.
Ao chegarmos, contornaste o que restava do convento e foste estacionar bem perto do penhasco.
Saímos. Eólo soprava as suas nortadas frias, revoltando-te o cabelo longo e solto. Nem tive tempo de me aproximar de ti. Correste na paisagem em direcção à falésia. Havia um aviso a alertar todos os visitantes para a possibilidade de as rochas se desprenderem, mas tu ignoraste-o. Desafiavas as regras de segurança, aproximando-te do precipício, o mais que podias.
Às vezes, gostavas de correr certos perigos, contaste-me um dia. Parecia-te que em certos momentos podias ultrapassar todos os limites, que nada de grave te acontecia. Uma vez, vieste do Norte e fizeste a A1 entre os 150 e os 180 Km, embora, em fracções de segundo, tivesses chegado aos 200. Ultrapassaste todos os condutores que se afastavam para a faixa da direita, logo que se apercebiam da tua aproximação. Ouvi-te e pedi-te que não brincasses com a vida . Tranquilizaste-me explicando-me que nem sempre devemos cumprir as regras. Há que ir além dos limites impostos por lei. A lei podia ser infringida. A vida era para ser vivida, pois era uma breve passagem.
Compreendia porque falavas assim. Tudo mudara depois da morte acidental do teu pai. Tu foras a que mais mudaras e isso assustava-me...
Enquanto olhavas extasiada o mar, aproximei-me de ti, envolvi-te pela cintura e demos uns passos atrás. Não era necessário desafiar os elementos da natureza. Jamais os igualaríamos!
O mar é lindo visto daqui! Só se vê água e mais água. Fico sem fôlego quando aqui venho!
Hum... Hum... estou a ver.
Não concordas comigo, Eduardo?
Concordo, desde que não te aproximes de mais do penhasco.
Consigo aproximar-me sempre mais um pouco. Adoro ver o mar lá no fundo, as ondas do mar a quebrarem-se nas rochas e a desfazerem-se em espuma.
Pode ser lindo, mas arriscado. Pode sempre haver um acidente...
Nada temas...
A tua voz soou sumida e eu senti um leve arrepio nas costas. Não. Não atentarias contra a tua vida! Não podias!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Sabor a liberdade

Foto de Fernando Cardoso
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Abriram todas as portas de ouro e marfim
que anos e anos
mantinham cativa
uma alma triste e desolada de outrora
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Ela então
soltou-se do desassossego de anos
fundiu-se nos laivos da noite
e banhou-se na luz pura e redonda da Lua
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Depressa se sentiu corajosa e plena!
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Hoje
bebe a liberdade
na brisa do vento, no colo de qualquer onda, na luz de outro amanhecer
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Quando quer
dispersa-se e voa,
sem raízes a aprisioná-la de novo,
ao encontro do belo infinito

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Regresso

Foto de Fernando Cardoso
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Passos solitários. Passos de um corpo pesado. Certamente a caminhada, longa ou curta, não fora fácil. A atestá-lo temos a profundidade dos passos gravados na areia. As botas enterravam-se e o caminhante sentia dificuldade em caminhar.
Vinha do mar. Da vida que o mar quase engolira. Sempre a mesma: dura, penosa, cheia de sacrifícios e renúncias. O avô e o pai também tinham sido homens do mar. O mesmo mar salgado, sob um sol que a todos crestara o rosto e as mãos!
Ele tinha tido outros sonhos, em rapaz. Certo dia, a mãe, mais doce no trato, disse-lhe:
- Olha, Toninho, assim que fizeres o exame de quarta classe, passas a acompanhar o teu pai. O teu avô já não pode e não há ninguém que queira esta vida. Só podemos contar contigo.
Quis argumentar, porém sabia que não valia a pena. Não queria ser pescador. Queria continuar a estudar como o Zezinho, o filho do doutor da vila. Queria ter outra vida.
Ainda tentou chamar à razão o pai, talvez ele o compreendesse por andar naquela luta constante contra o mar. De nada lhe valeu. Foi pescador e pronto.
Sobreviveu ao naufrágio que lhe tirou o pai e onde outros companheiros quase morreram. Nessa altura, ainda jovem, amaldiçoou a força bruta do mar e recusou-se durante meses a pescar. Depois regressou. Como agora regressava de ver apenas o mar, porque os barcos não tinham saído para o mar!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Alquimia



Foto de Fernando Cardoso



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A tua praia
extasias
com as imagens do teu rosto
com a alquimia do teu Ser
que adivinha
o vento e a maresia
o sonho e a fantasia
na música longínqua de Orpheu

No lastro da Terra


Foto de Fernando Cardoso
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Invariavelmente a noite chega
e só então o sol
se anuncia
num outro horizonte longínquo

Aí outro poeta
ouve
a música da Terra
que tão bem conhece
de tão próximos
que andam
por serem energia essencialística

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Paisagem de um mito





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Os belos e longos dedos de Orfeu
tiram notas da lira que pacificam os seres
e os elementos


Soltam-se sons de jasmim
na música mágica que sagra de grandeza mítica
o Universo


Ondas de opala e orquídeas
crescem nessa crescente paz tranquila


Eurídice
emudecida e enamorada
está deitada a seus pés
cingida por um cendal de pérola


As notas da lira de Orfeu
siciam o seu amor e acariciam os decifráveis contornos
do ser amado
que lhe devolve
em sorrisos
a harmonia das esferas


sexta-feira, 8 de maio de 2009

Era uma vez...

Interior da livraria "Aqui há Gato", em Santarém


Numa noite em que a lua redonda
se exibia toda
beijando a terra de luz
ouviram-se histórias fantásticas
acabadas de inventar

Duendes irrequietos
e gnomos cor de limão
passeavam pela floresta animada
à procura de um cofre
com uma pequenina preciosidade

Ninguém sabia onde encontrá-la

Percorreram planícies azuis
vales de todos os sabores
riachos de vozes de framboesa
revistaram todas as grutas emudecidas
e nada

Pensaram desistir

Então a voz mágica de um cavalo alado
sussurrou-lhes ao ouvido
um segredo intemporal

O cofre que procuravam
era o seu caminho pessoal
e a pedrinha preciosa
o amor

domingo, 3 de maio de 2009

O Beijo

Gustav Klimt, O Beijo (pormenor)
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Encontrou-a. Encontrou-o. Encontraram-se. Como? Não sabiam explicar e não queriam saber. Sentiam a mesma atracção, a mesma química, a mesma energia.
A noite era de luar e tudo à volta de ambos era e foi mágico, intenso, quente. Os gestos foram lentos, doces, carinhosos e as palavras sussurradas prometiam outras. Porque nelas havia ainda outras a dizer e outros sentimentos a partilhar.
Trocaram olhares mágicos e de poesia por tempos infinitos. As suas mãos tocaram-se ao de leve. À primeira carícia ela retirou a mão. Depois deixou que a sua permanecesse sob a dele. Mais tarde os seus dedos entrelaçaram-se. Deram as mãos para nunca mais se separarem, apesar de saber que dali a pouco teriam de o fazer.
Mas não se ficariam por ali. Houve um beijo no rosto. Mas os lábios dele foram descendo da pele macia do rosto até beijar ao de leve os lábios dela. O beijo repetiu-se e ela permitiu que os seus lábios se entregassem. O beijo foi a perfeita união de lábios. As bocas tornaram-se urgentes, ávidas e sequiosas de conhecer o sabor uma da outra. Depois voltaram aos beijos rápidos e suaves apenas e só nos lábios.
Naquela noite Cronos pareceu acelerar-se. Foi difícil separarem-se. Disseram-se adeus! Porém antes que cada um fosse para o seu retiro, beijaram-se incontáveis vezes.

sábado, 2 de maio de 2009

Autres lectures

Pablo Picasso, La Lecture
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La peinture donne une forme au vide et la poésie à nos pensées. Elles sont la suggestion de ce que nous sommes. Toujours ! Le peintre et le poète peuvent être les devineurs d’ énigmes, les sauveurs du hasard. Ils transforment pour faire se qui doit être. Ils ont des petites voix jaillissantes comme les fontaines. Même les ténèbres deviennent lumière. Et la solitude une force créatrice.
Il y a de la poésie dans les couleurs et des couleurs dans leurs écrit. Quelles belles histoires ils racontent. Il y a des métaphores et paradoxes créer par le pinceau et la plume. L’ impossible deviens réalité, oeuvre d’art, témoin de l’ être sensible.
Le moment créatrice est un sentier solitaire mais plein de sens et de beauté qui fini au moment d’ être partagé avec les amants de l’ art.