Capa de um dos livros da minha biblioteca pessoal, que me foi oferecido por uma amiga inglesa, em 1996, quando ambas nos encontrávamos a leccionar num colégio em Auxerre.
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Não nascemos leitores mas tornamo-nos grandes leitores se o gosto pela leitura for incutido desde tenra idade. A leitura é como se fosse uma espécie de fome que nos leva a devorar todo o tipo de livros.
Acho que já fui, noutros tempos e noutros momentos da minha vida, uma grande, curiosa e ávida leitora. Agora, por circunstâncias várias, leio menos do que gostaria.
Em criança lia sobretudo contos de autores franceses e banda desenhada. Desse tempo ficou-me o gosto por todo um imaginário povoado por gnomos, duendes, princesas, fadas, bruxas e unicórnios.
Certo dia, vi-me em Portugal, longe dos meus pais e do meu irmão, e sem os meus livros. A minha biblioteca ficou lá atrás no tempo e no espaço, para sempre perdida. Na casa das tias e tios, por onde fui saltitando, ou não havia essas preciosidades ou não podia tocar-lhes.
Já em casa da minha avó materna, descobri outro tipo de livros de páginas amarelecidas, manchadas e gastas pelas mãos que tinham folheado aquelas páginas e pela inexorável passagem do tempo. As temáticas eram vávias, todavia predominava a religiosa.
Para além da Bíblia, dois livros chamaram também a minha atenção. Não me recordo dos títulos. Um era sobre a vida dos Santos, as suas vidas, os sacrifícios e martírios por que tiveram de passar, até se tornaram Santos. Outro era sobre a interpretação de sonhos. Qual o significado de determinadas paisagens, animais, e muito mais.
Aos treze anos, o meu pai ofereceu-me o primeiro romance, em dois volumes: A Morgadinha dos Canaviais, de Júlio Dinis. Recebi os dois volumes, que lhe tinham pertencido, e li-os num ápice. Reli-os várias vezes na minha adolescência. Foi a partir daí que descobri os clássicos.
Já no Secundário li outras obras e conheci outros autores nacionais e estrangeiros. Nas férias de Verão costumava reler os livros que tinha adquirido ao longo do ano lectivo e/ou que as minhas amigas me emprestavam. Gostava de os levar comigo para o campo, deitar-me nos tufos de erva e lê-los e relê-los até à exaustão. Depois dava comigo a olhar para o céu e as nuvens, a imaginar as personagens, os ambientes, o desenlace.
A Universidade abriu-me ainda mais os horizontes e o gosto pela leitura. Hoje, para além de ler em francês e português, leio também em inglês.
Confesso que amo ler nessas três línguas e, por vezes, quando estou sozinha, estirada no meu sofá, leio excertos em voz alta para ouvir a sua sonoridade e para saborear cada sílaba, palavra, frase, em busca do seu lado expressivo.
Há já alguns anos que tenho o vício de sublinhar passagens, expressões de que gosto. Se me identifico com o que leio, escrevo pequenos comentários na margem do texto ou no início ou fim dos capítulos.
Gosto de ler em quase toda a parte, excepto na praia. Por causa do vento, nos dias de ventania; por causa da areia, que teima em ficar dentro do livro; por causa do protector solar, que mancha as páginas.
Creio que não me vou alongar mais. Seria prolongar o sofrimento dos possíveis leitores deste texto. Confesso que antes de o redigir, desconhecia que era uma leitora com tantas manias na hora de ler!
Termino apresentando mais uma. Hilariante ainda por cima! Houve uma altura em que sublinhava alguns dos meus livros utilizando na mesma página vários lápis de cor. Para quê? Para dar cor ao livro e para... não me perder. E olhem que não me perdia. Inseguranças da Natália que a Nathalie nunca teve... nem nunca terá.
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Nota: Tema de Outubro proposto pelo blogue Vou de Colectivo.