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Sentia uma fraqueza interna que a mantinha num desassossego inquietante. Tinha de sair dali. Deixar tudo para trás como se não mais fosse voltar. Tinha de voar para bem longe, para outro lugar, conhecer-se até melhor. Talvez nem fosse necedssário! Sabia como era. Demasiado sonhadora e louca. Louca a ponto de ter chamado a si o abismo, por várias vezes. Agora que acontecia de novo, tinha uma só certeza. Partir. Era tudo demasiado real e atroz. Precisava de outros sonhos. Queria só ser feliz. E só podia ser noutro lugar. Quem a ouvisse, diria que continuava a fugir do real, da vida, como sempre fizera.
Não queria conhecer novas paragens. Queria revisitar aquelas onde fora feliz ou cujas memórias se apagavam já. Queria sentir o cheiro do mar de Biarritz, comer croissants em Montpellier, ostras suculentas em Cannes, apetitosas saladas em Nice, comer um Crêpe Suzette acompanhado de um khir numa terrasse de Paris. Sentia vontade de se passear nos jardins e avenidas deLondres, revisitar a Tate Gallery, o London Eye, beber champanhe rosé a meio da tarde, num pub de um requinte sem par.
Sentia também saudades de ouvir falar italiano, aquela língua melódica e cantante que um dia quisera aprender. Rever Roma, a Fonte di Trevi, as catacumbas, o coliseu... Estar de novo em Florença e visitar os museus e aí fazer, de novo, compras. Andar numa gôndola e nas ruas estreitas de Veneza. Comer fruta variada, fresca, que os vendedores ambulantes apregoavam. Hum, que delícia! Ir também a Siena e rever a praça redonda e inclinada, onde se fazem corridas de cavalos.
Não viajara muito. Mas sentia que deixara um pouco de si em cada um desses lugares. Não só por os ter visitado, mas também por ter vivido uma ou outra peripécia.
Tinha de partir. Sim! O mais depressa possível...