sábado, 12 de janeiro de 2013

XXV Naquele dia...


Foto de FNando

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Era fim-de-semana e, finalmente, Emilie podia regressar às caminhadas e desta vez na companhia de Faby. Tomaram um pequeno-almoço ligeiro, muniram-se de água e saíram para a rua. Gostavam de correr ao longo do rio Sena e foi para lá que se encaminharam. Passaram por várias ruas, cruzaram-se com outros atletas, alguns de alta competição, atravessaram a Ponte de Napoleão e no local dos cruzeiros no rio, desceram as escadas e caminharam, então, ao longo do curso do rio.
Estava um agradável dia de sol. Nem muito quente, nem muito ventoso. A paisagem era bela. À beira rio havia uma exposição de estátuas em ferro forjado. Figuras femininas, o famoso herói D. Quixote, estruturas abstratas. O rio corria tranquilo. Nas margens havia barcos habitação e, frequentemente, passavam por elas os barcos cruzeiro cheios de turista que fotografavam tudo o que viam no percurso. As várias pontes, as margens habitadas pelas embarcações casa, e no fim do passeio aparecia a bela Catedral de Notre Dame.
Faby, que não estava habituada a longas caminhadas, pediu a Emilie  para pararem um pouco. Acabaram por fazê-lo alguns metros depois. Sentaram-se nas escadas perto da água a observar a sua corrente.
- És fraquinha, Faby!
- Não estou habituada a estas caminhadas de horas. Gosto mais de ir ao ginásio.
- És uma comodista. Andar ao ar livre é muito melhor. Não vou dizer que é mais saudável, porque estamos na cidade e há muito trâfego e poluição sonora.
- Pois é. Mas até que estou a gostar. Só não aguento tanto como tu. - lamentou-se Faby.
- Com o tempo chegas lá, se me quiseres acompanhar, claro.
- Quero pois. Temos de manter a boa forma, Emilie.
- Vaidosa!
- Olha quem fala! - acrescentou Faby rindo.
- Vamos?
- Vamos. Preciso de um bom banho e de relaxar. E tu também claro.
Levantaram-se e fizeram o caminho para casa ainda a caminhar, mas mais em jeito de passeio. Mais devagar. Olhando para as montras, por vezes. Antes de subirem para o sétimo andar, sentaram-se numa esplanada ao sol. Faby pediu um capuccino e Emilie uma infusão e um chaussons aux pommes.
- Não estavas a fazer dieta? - reparou Faby.
- E estou. Mas isso não significa privar-me de tudo.
- Gulosa!
- Bem sabes que sou!
Ainda ficaram ali algum tempo a apanhar sol. Depois foram para casa tomar banhos reconfortantes e relaxantes e trocar de roupa. À tarde iriam passear e ver as obras na futura galeria de arte de Faby. Com o passar dos meses e com este projeto, Faby ia reencontrando um rumo para a sua vida. Por cima da futura galeria, havia um apartamento também da avó Laura, que acedeu em lho alugar. 
A pouco e pouco, uma janela nova abria-se-lhe. Podia voltar a ser uma mulher realizada e feliz, mesmo que não conseguisse esquecer totalmente o passado com Napoleon, em Itália. Nada é para sempre. A vida é um somatório de episódios que nada tem de linear. No entanto, só assim as pessoas se reerguem e aprendem que os reveses são obstáculos para as fazer seguir em frente e mudar a vida.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

XXIV Naquele dia ...


Foto de FNando

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Faby chegou derrotada e foi aninhar-se nos braços de Emilie a chorar. Para evitar olhares indiscretos, foram para o apartamento de Emilie. Depois de um bom banho relaxante, seguiu-se o jantar que Emilie confecionou. Faby pouco comeu. Também pouco falou, pois as lágrimas não paravam de correr pelo rosto. Emilie tentou confortá-la conversando com ela e tentando animá-la. Por uma vez, conseguiu um sorriso da amiga.
Nenhuma das duas dormiu durante a noite. Conversaram muito. Faby contou-lhe toda a sua estadia em Veneza e o quanto tinha sido feliz. Sabia que o marido fazia algo de ilícito pelos telefonemas cifrados, só não sabia o quê. Agora era de tempo de virar a página. Recomeçar por cima da dor. Emilie pô-la à vontade e disse-lhe que podia ficar com ela o tempo que quisesse. Faby agradeceu.
A vida vertiginosa de Emilie continuou. Por vezes, Faby ia ter com ela para almoçarem juntas. Embora esta tivesse um bom pecúlio acrescido da herança do falecido, decidiu-se a trabalhar. Com os conselhos de Emilie e da avó Laura, que lhe emprestou um espaço lindíssimo na Rua Faubourg Saint-Honoré, abriu uma galeria de arte. Durante meses também andou numa roda viva. Contou com a ajuda de Paulo que conhecia arquitetos, empreiteiros, e todo um conjunto de trabalhadores. 
Certo dia, à porta de casa de Emilie, ao fim do dia, uma mulher abordou-a.
- Bonsoir madame.
- Bonsoir madame - disse Faby.
- Deixe que me apresente. Chamo-me Cristhine Valois e sou artista plástica. Soube que vai abrir uma galeria de arte pela minha amiga Laura.
- Sim, de facto.
- Já tem algum artista plástico para abrir o espaço ao público?
- Já tenho alguns portefólios, mas ainda estou na fase da análise.
- Posso entregar-lhe o meu? Trago-o comigo e peço desde já desculpa por me apresentar assim.
- Não faz mal. Pode dar-me o seu portefólio, sim. Será analisado como os outros.
- Obrigada. Fico-lhe muito agradecida. Muito prazer.
- O prazer foi todo meu.
Faby entrou no prédio com o portefólio, chamou o elevador e saiu no sétimo andar. Quando entrou, Emilie estava nervosa e não parava de andar de um lado para o outro. Praguejava irritadíssima. Faby perguntou-lhe o que se passava, pediu-lhe que se acalmasse e fê-la sentar indo buscar um copo com água. Já mais calma, levantou-se e foi buscar o cadeado que deixara de estar na ponte dos namorados. Continuava a ter a inicial do seu nome e vinha acompanhado por um pequeno sobrescrito com uma missiva amorosa e sem assinatura. Havia tanto tempo que nada disto acontecia e Emilie até se esqueceu destas surpresas indesejadas! 
Faby pediu-lhe que não se irritasse por algo que não podia ter tamanha importância. Era uma mera brincadeira de algum desocupado. 
O cadeado e o envelope com o bilhete amoroso foram parar ao caixote do lixo. Emilie prometeu não dar mais importância a algo insignificante. A sua vida era preenchidíssima e ela era uma uma mulher realizada. Faby aplaudiu e as duas riram-se com vontade.