sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

XXIV Naquele dia ...


Foto de FNando

*******

Faby chegou derrotada e foi aninhar-se nos braços de Emilie a chorar. Para evitar olhares indiscretos, foram para o apartamento de Emilie. Depois de um bom banho relaxante, seguiu-se o jantar que Emilie confecionou. Faby pouco comeu. Também pouco falou, pois as lágrimas não paravam de correr pelo rosto. Emilie tentou confortá-la conversando com ela e tentando animá-la. Por uma vez, conseguiu um sorriso da amiga.
Nenhuma das duas dormiu durante a noite. Conversaram muito. Faby contou-lhe toda a sua estadia em Veneza e o quanto tinha sido feliz. Sabia que o marido fazia algo de ilícito pelos telefonemas cifrados, só não sabia o quê. Agora era de tempo de virar a página. Recomeçar por cima da dor. Emilie pô-la à vontade e disse-lhe que podia ficar com ela o tempo que quisesse. Faby agradeceu.
A vida vertiginosa de Emilie continuou. Por vezes, Faby ia ter com ela para almoçarem juntas. Embora esta tivesse um bom pecúlio acrescido da herança do falecido, decidiu-se a trabalhar. Com os conselhos de Emilie e da avó Laura, que lhe emprestou um espaço lindíssimo na Rua Faubourg Saint-Honoré, abriu uma galeria de arte. Durante meses também andou numa roda viva. Contou com a ajuda de Paulo que conhecia arquitetos, empreiteiros, e todo um conjunto de trabalhadores. 
Certo dia, à porta de casa de Emilie, ao fim do dia, uma mulher abordou-a.
- Bonsoir madame.
- Bonsoir madame - disse Faby.
- Deixe que me apresente. Chamo-me Cristhine Valois e sou artista plástica. Soube que vai abrir uma galeria de arte pela minha amiga Laura.
- Sim, de facto.
- Já tem algum artista plástico para abrir o espaço ao público?
- Já tenho alguns portefólios, mas ainda estou na fase da análise.
- Posso entregar-lhe o meu? Trago-o comigo e peço desde já desculpa por me apresentar assim.
- Não faz mal. Pode dar-me o seu portefólio, sim. Será analisado como os outros.
- Obrigada. Fico-lhe muito agradecida. Muito prazer.
- O prazer foi todo meu.
Faby entrou no prédio com o portefólio, chamou o elevador e saiu no sétimo andar. Quando entrou, Emilie estava nervosa e não parava de andar de um lado para o outro. Praguejava irritadíssima. Faby perguntou-lhe o que se passava, pediu-lhe que se acalmasse e fê-la sentar indo buscar um copo com água. Já mais calma, levantou-se e foi buscar o cadeado que deixara de estar na ponte dos namorados. Continuava a ter a inicial do seu nome e vinha acompanhado por um pequeno sobrescrito com uma missiva amorosa e sem assinatura. Havia tanto tempo que nada disto acontecia e Emilie até se esqueceu destas surpresas indesejadas! 
Faby pediu-lhe que não se irritasse por algo que não podia ter tamanha importância. Era uma mera brincadeira de algum desocupado. 
O cadeado e o envelope com o bilhete amoroso foram parar ao caixote do lixo. Emilie prometeu não dar mais importância a algo insignificante. A sua vida era preenchidíssima e ela era uma uma mulher realizada. Faby aplaudiu e as duas riram-se com vontade.

Sem comentários: