Manhãs de neblina húmida a anunciar um dia frio de inverno. Mais um entre muitos. O nevoeiro surge, instala-se e é o rei da terra.
Em pleno campo, o pastor e o seu rebanho fundem-se no nevoeiro denso. São silhuetas que se recortam, por breves momentos, numa luz opaca e lisa.
Habitam-no ideias de outros dias, de outros tempos, de outras circunstâncias. Caminha com dificuldade tropeçando nas fragas. Os anos pesam. Setenta e oito anos como pastor e sempre. sempre o mesmo inverno, a mesma neblina.
Leva o farnel às costas e pesa-lhe tanto como as suas ideias e os seus setenta e oito anos. Queria ser jovem e não sentir nunca o frio que hoje lhe entra nas carnes. Estremece! Não adianta acender uma fogueira porque o rebanho não pára. Anda sempre à procura de pasto, tanto faz a estação do ano e a temperatura.
Depois de encerrar as ovelhas na corriça, regressa a casa por volta das dezassete. Janta pouco tempo depois e ainda cedo vai para a cama! Tem de ser. No dia seguinte levanta-se às cinco da manhã. A rotina repete-se com ou sem neblina. Pastor e rebanho calcorreiam os montes. O primeiro entrega-se às suas ideias. O segundo, inconsciente, segue o instinto da sua condição de animal doméstico.
Depois de encerrar as ovelhas na corriça, regressa a casa por volta das dezassete. Janta pouco tempo depois e ainda cedo vai para a cama! Tem de ser. No dia seguinte levanta-se às cinco da manhã. A rotina repete-se com ou sem neblina. Pastor e rebanho calcorreiam os montes. O primeiro entrega-se às suas ideias. O segundo, inconsciente, segue o instinto da sua condição de animal doméstico.
Em casa, a mulher do pastor faz o queijo de ovelha. Coloca a coalhada num aro e vai espremendo o soro até obter um queijo ainda por curar. Do soro, que coloca ao fogão numa panela, faz requeijões de que todos gostam.
Tudo aparece nos dias frios e húmidos e invernosos numa casa de campo.
***
Autor da foto: F Nando
11 comentários:
Uma história simples mas tão intensa pela dureza da vida de pastor...
Um relato de quem, estando longe, sente a falta das origens.
Gostei muito.
Menos o D. Sebastião...
Pois é Fernando, a vida dos pastores é dura, muito dura.
Beijo
Gosto do campo. Das gentes do campo e da sua árdua labuta. Lembrei-me de um tia meu e escrevi este texto.
Bj
Ó Rafeiro, o D. Sebastião anda noutras andanças!
Beijos e festinhas
Vidas difíceis...
Vidas difíceis...
Muito e que merecem todo o nosso respeito!!!
;)
Adorei a história, senti-me até transportada para o campo a viver aquela vida simples que também conheço. Beijinhos.
Olá Olga,
ainda bem que gostaste deste texto. Quem viveu no campo acaba por se identificar com ele.
Beijos
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