sábado, 28 de março de 2009

Sisse


Esta é a minha cocker-spaniel, com pedegree e tudo. A mãe dela viajou até Marselha para a conceber, mas a primeira tentativa saiu gorada. É que isto da concepção tem muito que se lhe diga. Da segunda vez que a mãe foi cruzada com um cocker, foi o "gentleman" que se deslocou a Portugal.
A mãe desta lindíssima cadela, a Laika, foi adquirida a uns criadores de cockers portugueses que fazem parte do Clube Português de Canicultura e do Clube Português de Spaniels, com vários Spaniels premiados a nível nacional e internacional. Na verdade, uma das irmãs da Sisse já ganhou o prémio de Puppie do Ano (há pouco tempo, um ou dois anos).
A Sisse foi uma das últimas a nascer e era tão pequenina que julgámos, eu e o meu irmão, que não sobreviveria. Mas é uma sobrevivente. Mais do que isso, requer atenção permanente. Posso-vos dizer que é muito companheira, meiguinha, doce e que se apercebe logo dos meus diferentes estados de espírito. Persegue-nos para todo o lado.
Cada ninhada de cockers é registada no Clube de Canicultura obedecendo à sequência do alfabeto. A Sisse pertence à ninhada com letra "o" e no seu registo real chama-se "Obladi Oblada", uma letra dos Beatles. Curioso, não é? Aliás todos os filhotes dessa ninhada pertencem a essa letra e têm o título de uma canção! Já a mãe nasceu sob o signo da letra "e" e aí ficou a chamar-se "Elle est Laika"!
Interessante, não é? Quem poderia imaginar que no mundo animal, neste caso canino, tudo se passasse desta forma?


Fuga


Quando a lua sobe no céu escuro, com o corpo inchado e pleno, os duendes e as fadas saem dos seus múltiplos esconderijos, para cravejarem de diamantes o infinito cósmico.
Estou a vê-los ainda agora: pequenos criadores de luzes mágicas, longínquas, saltitando de estrela em estrela ou voando no firmamento longínquo.
Não me canso de os observar, por querer ser como eles: seres etéreos, imaginários, sem sentir nada do que me atropela o pensamento e me adensa o vazio.
Se fecho os olhos, ainda que por breves instantes, sem tempo no relógio, aproximam-se de mim e segredam-me ao ouvido as palavras que a lua não me pode dizer.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Primavera



A estação mais odorífera, policroma, sensitiva, de chilreios mil chegou. É a Natureza no seu esplendor.
Já eu queria ser flor. Uma qualquer flor de um jardim qualquer. E fosse o mais efémera possível.
A propósito lembro-me de uma ode de Ricardo Reis: «As rosas do jardim de Adónis/ Essas vólucres amo, Lídia, rosas/Que em o dia em que nascem/ Em esse dia morrem.»
Para quando o meu dia?

domingo, 22 de março de 2009

As Palavras


As palavras habitam-nos, dizem-nos, aproximam-nos, acariciam-nos, siciam-nos sonhadamente histórias e pensamentos, por vezes, de outrora, porém intemporais. Porque nelas ondulam as emoções do ser, que permitem leituras múltiplas de tão essência que são!

sábado, 21 de março de 2009

Dia Mundial da Poesia


Ser Poeta


Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!


É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!


É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!


E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!


Florbela Espanca

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Os meus primeiros textos, escritos na infância, foram poemas. Infelizmente perdi-lhes o rasto. Uma tia, com quem vivi durante anos, quis ficar com eles e eu não fui capaz de lhe dizer que não. Orgulhava-se de mostrá-los às amigas.

Hoje, Dia Mundial da Poesia, em vez de ser eu autora de um texto poético, escolhi um soneto de Florbela Espanca. Ela diz tão bem o que é ser poeta que nada do que eu oudesse dizer se lhe igualaria.

Um poeta, uma pseudo poetisa como eu, sabe reconhecer que o que já foi dito de forma suprema e bela. Isso torna-nos irmãos, uma irmandade na partilha da palavra justa, filosófica e poética.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Afectos



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O mundo dos afectos é dos mais complexos. O mundo da paixão e do amor são, para além de indefiníveis, tudo menos entendíveis, tudo menos esperados. Porque sempre se toca na sensibilidade e no mundo interior do outro e nunca se sabe de que forma. Por vezes, só um dos apaixonados é que se entrega totalmente e não se importa de o demonstrar. Mesmo que um dia doa por um bom período de tempo. Se os dois estão em perfeita harmonia e sintonia parece que nada os detém. Parecem que são almas gémeas. Se é que as há! Sou uma céptica em relação à paixão e ao amor.
Há muitas e belas declarações de amor. Umas dizem-se a alta voz, outras escrevem-se, outras pensam-se e outras calam-se.
Achei as que se seguem particularmente belas, apesar da sua linguagem demasiado simples. Traduzem apenas a felicidade de se ter acreditado que o que se sentia era real. E era-o.

“Querido. Quero desejar-te uma noite repleta de sonhos doces. Saudades dos teus beijos e abraços.”

“Boa noite. Passei só para deixar um beijinho. Que o dia de amanhã seja feliz e que muitos mais te façam sorrir, sonhar e encontrar a felicidade, pois mereces.”

“Não sei se é racional ou não, se é sonho ou realidade, se é música ou poesia… Tantos ses para te dizer que os nossos momentos foram inigualáveis. Hoje tornam-me apaziguada, tranquila e feliz interiormente. Beijos doces, suaves, ternos e sempre mágicos.”

“Meu querido, obrigada por seres tão paciente comigo. Sei que sou demasiado complexa e difícil de compreender. Gostaria de te dizer que os meus dias são sempre Primavera ao teu lado.”

sexta-feira, 13 de março de 2009

Telas adormecidas

Pedro Reis Miguel, Sem Título, técnica mista
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Se encontrares umas telas adormecidas em mortalhas, escondidas nas teias do sótão, acorda-as depois de eu ter partido. Elas sempre mereceram mais a luz do que eu.

Elas é que foram Eu.

Sente-te grato por as revelares a outros olhares.

Nesse dia, viverei…




Somos
Impensada e sonhadamente
Melodias incompletas do ser
Numa pauta essencialística
A todo o momento reescrita
Na tela da vida
Buscando e acreditando em sonhos, paixões, quimeras
A realizar

sábado, 7 de março de 2009

Não estamos sós