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Aquele devia ter sido um dia especial. E parece-me que foi!
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Depois de o marido ter saído de casa para o emprego, dando um leve beijo nos lábios de Lúcia, esta saiu para a rua logo a seguir. Não iria trabalhar. Estava cansada de tomar decisões importantes numa empresa multinacional. Era uma mulher bem sucedida profissionalmente, tinha um marido que a mimava, ainda que se esquecesse de dias importantes, um moderno e grande apartamento virado para o rio.
"Não. Naquele dia não iria." dizia para si mesma, tentando convencer-se, pois era-lhe difícil faltar ao trabalho. Aliás, nunca faltara. Antes que mudasse de opinião, pegou no telemóvel e ligou para a sua secretária dando uma desculpa qualquer. Como era o seu trigésimo aniversário foi comprar prendas para si mesma. Uns vestidos e uma mala Fátima Lopes; umas calças e uma blusa António Tenente; uns sapatos e umas sandálias Fly London. Gostava de marcas. Gostava dos estilistas e das marcas portuguesas.
À hora de almoço foi almoçar à Portugália, um delicioso bife, com ovo estrelado, batatas fritas. De sobremesa comeu uma fatia de pudim de ovos. Naquele dia não havia dietas! Passeou um pouco a pé nas ruas da baixa da cidade. Depois apeteceu-lhe ir ver o mar e caminhar descalça na areia.
Como estava um maravilhoso dia de sol sem fazer muito calor, abriu a capota do automóvel para sentir a brisa do vento a acariciar os seus cabelos e para sentir logo o cheiro do mar, o que logo aconteceu pois decidiu ir pela marginal até ao Guincho. Aí estava um pouco mais de vento, mas sabia tão bem senti-lo... Caminhou na areia descalça até se aproximar do mar. Inspirou e expirou fundo várias vezes. Estirou os braços em direcção ao céu, ao sol e sentiu-se em paz, livre, feliz. Ainda mais porque não havia ali quase ninguém, só os surfistas que aproveitavam as ondas do Atlântico.
Antes de regressar a casa, ainda viu o início do pôr-do-sol. Sentia-se tão bem! Agora admirava-se como nunca roubara um dia para estar consigo e fazer o que bem lhe apetecesse.
Logo que entrou em casa sentiu algo de diferente. Ouviu alguém no duche. Não podia ser o Du, pois ele chegava sempre tarde. Também não devia ser a empregada. Foi pé ante pé até à suite. Colou-se à porta da casa de banho e pôs-se a ouvir. Depois, decidida, entrou. Era efectivamente o Du. O seu Du que a arrastou para o duche com a roupa.
Após os momentos de carinho e amor, Du ofereceu-lhe um lindo vestido preto sem costas, uma mala e sapatos, tudo Manuel Alves e José Gonçalves. E convidou-a para jantar para celebrarem o trigésimo aniversário de Lúcia. "Não. Ele não se esquecera." Desceram até à garagem, entraram no automóvel e partiram em direcção ao restaurante. Lúcia não sabia qual era, pois Du fez questão de não lhe dizer. "É surpresa meu amor".
Lúcia viu que iam para Sintra, mas nunca imaginou o que se passaria a seguir. Du conduziu até ao Palácio da Pena, correu para abrir a porta do automóvel a Lúcia e de mãos dadas dirigiram-se para o palácio. Para espanto de Lúcia este não estava fechado. Um vigilante conduziu-os até à parte de restaurante onde os aguardava aluns funcionários fardados. Sentaram-se numa mesa central e começaram por beber uma flute de champanhe. Todo o jantar pareceu um sonho a Lúcia. Daqueles que só acontecem no cinema! Mais! O restaurante estava vazio... foi só deles naquela noite tão especial!
24 comentários:
Sortuda essa Lúcia.
Podia ser o começo de um filme...
Bjs
Olá minha querida Ana Paula,
apeteceu-me sonhar com o impossível.
Beijinhos
Podia, Nando. Acho que andei a ver comédias românticas a mais...
Beijocas
A polissemia, não da palavra, mas do contexto, aqui, toma um rumo distante dos 'vazios' até então apresentados na 'Fábrica'.
Muito interessante.
Enquanto eu lia, tentava buscar 'o vazio proposto nas frases e nos cenários, e nada. Tudo muito farto e perfeito.
Você nos conduziu por um dia mágico da protagonista, e corou-a no final com um 'restaurante vazio' para dois apenas.
Nossa personagem tem sorte de ter não apenas um narrador generoso, mas certamente uma autora com muitos olhos para uma grande paixão. O amor ainda é uma possibilidade.
Inebriante, e, não nos assustemos,
verossímil.
Beijos.
Ricardo
(agradeço-lhe a visita ao "Curvas da palavra")
Que coisa boa de ver assim cheio de romantismo.Isso faz muiiiiiiiiiiiiiiiito bem,né?beijos,tudo de bom,chica
Sonhar é bom e aconselhasse. Adorei o teu texto, até eu passei com Lúcia e dei um rosto ao meu Du.
Gostei muito deste seu cantinho, voltarei mais vezes.
Beijinhos doces, Ava.
OUTRA VERSÃO DO VAZIO...ESTE VAZIO É EXCELENTE...UM VAZIO CHEIO DE SONHO...GOSTEI MUITO.
UMA SORTE PARA LÚCIA E DU...MESMO QUE SEJA FICÇÃO...
BEIJO
Que hei-de dizer? Sou uma romântica incurável. Gosto de encontros felizes, em belos cenários e um final feliz, como nas histórias que conto aos mais novos.
Obrigada pelos vossos comentários. São uns queridos.
Beijos
Como é bom encontrar um vazio repleto de amor, Natália!!
Bela narrativa!
Grata pela visita e comentário! =]
Beijo,
Ane
Não um houve um vazio romântico, o que foi bom portanto.
Olá, "Romântica Incurável"
Tb quero um "Du" !!!!
Bj
Belíssima história!!! Realmante apaixonante e deliciosa....
Beijos!!!!!
Oh como eu gostava de ser essa Lúcia! Ao tempo que ninguém me leva a jantar fora! bjs
Cada um tem o que merece... e a Lúcia também merecia um dia assim.
Mas olha que eu não queria estar n o Palácio da Pena de noite... ui que arrepio!
:)
beijinhos
Este vazio é cheio de coisas boas... e termina em sintra, esse lugar romântico!
MAs que dia!
Bjs
O restaurante estava vazio mas a história não...e o armário da Lúcia ainda terá ficado menos vazio com tantos acessórios de moda novos!
Gosto muito do que escreves e principalmente de como escreves.
Este conto, no entanto, não me encheu as medidas, principalmente no "sonho" final, pois por muito romântico que se seja, e eu acredito que o sejas, um jantar no Palácio da Pena, parece-me fora de questão, mesmo num sonho.
Gostei, isso si, e muito da parte da praia.
Este tema do abismo também não foi dos mais felizes, que os votantes da Fábrica das Letras elegeram.
Beijinho.
Tanta felicidade, dinheiro, realização profissional, amor... acho que só no teu sonho, mesmo, Natália!
Continua a sonhar. Bjs
Vou continuar a sonhar. Não sei fazer outra coisa. É isso que me anima, mesmo que tudo seja mentira.
Agora será sempre assim. A ficção ajuda-me a evadir-me e faz parte da minha vida.
Beijos.
Natália, excelente aniversário.
Gostei da audácia de permitires à Lucia ser uma mulher realizada e sem medos de ser feminina, de também gostar das futilidades próprias das mulheres.
Espero sinceramente que sejas suficientemente astuta para com este comentário ;)
Merci Louise.
Eu tenho um bocadinho de Lúcia, como todas as mulheres.
Tudo pode não passar de ficção, mas esta baseia-se sempre naquilo que conhecemos, no real, e mais ou menos no que somos.
:)
Estava a ver que ela acordava ;)
eu participei também este mês no passatempo da Fábrica. se me quiser ler é seguir a http://blog-do-otario.blogspot.com/2010/06/estava-vazio-para-fabrica-de-letras.html , peço desculpa pelo endereço tão grande. penso que teve como ideia construir algo mais elaborado e personificado eu, por outro lado, segui um caminho diferente.
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