Não sei que dia era. Não sei se estavam orgias de luz e poalha ou apenas nuvens plúmbleas. Também não sei nada do dia da semana, mês, ano.
Naquele dia o tempo, que teima em condicionar a vida humana, não tinha qualquer importância. Simplesmente não existia. Não o deixaria existir. Porque sim. Apenas.
Deixei-me entrar na minha própria mente, tantas vezes febril, apática, adormecida e passeei-me por ela com uma curiosadade faminta de mim. Só que tudo o que era orgânico, físico, psíquico não existia mais. Eu era outra. Melhor, eu era outras. Outras duplas de rostos iguais, mas sentires difversos. Talvez não fossem duplas. Talvez fossem clones. Não, não podia ser! Os clones são o aperfeiçoamento do que é considerado original mas imperfeito e ali não havia perfeição. Que absurdo!!!
O absurdo deste absurdo era estar absurdamente encantada com os meus clones imperfeitos. Mexiam-se como autómatos, deitavam-se de borco no chão e aí ficavam estáticos à espera de não se sabe o quê. Eram todos carecas! Por que seria? Ah, sim, lembrava-me... Num dia lunar, cortei o cabelo às tesouradas e depois tive de rapar o meu cabelo. Eu e eles tínhamos alguns momentos de vida comum ainda que não parecesse e poucos soubessem, desconfiassem ou acreditassem. Vivíamos no limiar da insanidade, à beira do precipício e à espera que tudo tivesse um fim. Até as deambulações.
Gostávamos de passear sem destino e por dentro de tudo. Não bastava ver uma escultura, tínhamos de sê-lo também. Estávamos sempre representados nas telas, porquanto ninguém soubesse. Éramos a partitura de algum músico. Sentíamos cada palavra escrita por tantos escritores.
Senti-me enjoada de mim. A minha mente regurgitava-me! Como? Porquê? Acordei num leito estranho, numa sala estranhamente branca, fétida de medicamentos e de morte cerebral.
14 comentários:
Isso parece-me o resultado típico de uma saída em que se abusou dos copos... ;)
Beijoca!
Tudo é possível, Rafeiro Perfumado.
;)
Será sonho? Será real? a verdade é que a nossa mente por vezes prega-nos partidas... bjs
A loucura é um estado perturbador e infelizmente todos nós temos os nossos momentos e felizmente a maior parte conseguimos sair deles. Beijinhos.
Ah se pregam, Poetic Girl!
Beijinhos
E ainda bem que conseguimos. Que a loucura nos dê para a genialidade e não para a imbecilidade (como a dos que nos governam).
Beijocas
;)
Creio que não há loucura maior do que ser aprisionado numa!
Parabéns pela participação!
Abraços renovados!
É bem verdade! Loucura é loucura.
Obrigada pela visita.
Cheguei a pensar que seria a tua contribuição para o tema deste mês da "Fábrica das Letras", que é sobre a loucura.
Porque o não mandas para lá?
Está muito adequado.
As loucas divagações do nosso subconsciente.
E o texto está fantástico!
bj
O texto foi já enviado para a "Fábrica das Letras". Adivinhei o tema sem querer, por isso não coloquei o selo da Fábrica.
Ainda assim, obrigada pela tua sugestão e pelas tuas palavras.
;)
Ainda bem que gostou MZ.
;))
Muito show!parabéns.bjs
Obrigada, Soninha.
Beijos
Enviar um comentário