É na Primavera que a aldeia da minha mãe (Chelas - Mirandela) ganha cor e vida. Cor por estar rodeada por montes e vales onde abundam as flores e vegetação diversa. Vida por coincidir com a Páscoa e com a vinda de emigrantes e de gente que se fixou nas grandes cidades.
A pequena aldeia, com mais ou menos vinte habitantes residentes, encontra-se situada no alto de um monte e entre o rio Rabaçal do lado esquerdo e o rio Tuela do lado direito. Os dois rios fundem-se num só depois de alguns metros de terrenos agrícolas nascendo aí o rio Tua.
Há já alguns anos que as casas estão a ser reconstruídas, mantendo os materiais da zona: o xisto e o granito. É agradável constatar que o património se vai preservando, ainda que às vezes não seja possível pois as casas originais já eram construídas noutros materiais.
Algumas destas belas casas são casas de férias ou de fim-de-semana. Os emigrantes regressaram e investiram o seu pecúlio numa casa, no entanto depressa voltaram a emigrar por causa da crise no nosso país. A maioria encontra-se em França. Tal como aconteceu aos meus pais que na década de sessenta também emigraram para lá.
No Verão a aldeia enche-se dos seus filhos pródigos. Apesar do calor, pois estamos a falar da Terra Quente, muitos sentam-se à sombra das varandas e alpendres. Põem a conversa em dia, recordam os momentos bons, bebem cerveja bem fresquinha que têm no frigorífico, fala-se da crise que atingiu toda a Europa. O tom é de descrença quanto à recuperação do euro, mas há sempre outras vozes dissonantes que acreditam que tudo vai mudar, pois não é só a Europa que está em crise, é o mundo inteiro.
No dia da festa da padroeira da aldeia, Santa Maria Madalena, a terra enche-se de gente. A festa tem lugar a 22 de Julho. Além dos autóctenes, dos emigrantes, dos que moram em Mirandela, vêm também alguns curiosos e turistas que se encontram no parque campismo, não muito longe dali.
A igreja é ricamente ornamentada com flores e rendas em todos os altares. A igreja chega a ser pequena para tanta gente. Faz-se também uma pequena procissão à volta do santuário. Depois cada um, com os seus convidados, vai para sua casa degustar as iguarias transmontanas que preparou para este dia.
Há muitos anos que deixei de ir a esta festa. Prefiro uma breve estadia no Inverno, digo breve porque a Terra Quente é também gelada no Inverno, e eu sofro com o frio. Não consigo sair de casa. Prefiro demorar-me por lá na Páscoa. Gosto de ver o campo verde e florido, os pessegueiros com frutos ainda pequenos, sentir uma mistura de odores, ouvir o zumbir das abelhas e o canto do cuco e de outras aves. Sinto saudades de ouvir o som da água a correr nos fontanários, que foram deixados ao abandono.
O da fotografia fica ao fundo das escadas da casa da minha mãe. Lembro-me como se fosse hoje, de ir lá encher os cântaros e transportá-los com dificuldade, em criança, para casa da minha avó, que fica a poucos metros de distância. Já mais crescida as bicas deixaram de correr. Íamos então buscar água ao rio Rabaçal. Levávamos uma rodilha e o cântaro de quinze litros. Descíamos uma encosta para a voltar a subir com o cântaro à cabeça. Quantas vezes eu e minha mãe fizemos esse trajecto. Lembro-me bem, muito bem. Assim como me lembro de lavar a roupa no rio.
Anos depois, muitos anos depois veio a água canalizada. Anos depois o saneamento. Depois as ruas em terra batida passaram a ser empedradas.
Tudo evolui com o tempo. No caso de Chelas, para melhor.
Para uma estadia confortável pode-se sempre ficar na Quinta Entre os Rios. Se tiverem curiosidade espreitem o site http://www.quintaentrerios.pt.vu/