Há imagens eternas que nos acompanham ao longo de todo o nosso percurso.
São, por vezes, imagens amarelecidas pelo tempo ou com os contornos pouco claros, como se o tempo no-las tivesse envolto numa neblina de anos.
Ainda assim, sempre que a mesma festividade se repete, ano após ano, recuperamo-la do baú das emoções e, na distância dos anos, tudo parece mais encantador e mágico. Não só porque foi diferente, mas também porque, no fundo, tudo muda.
Tenho o prazer de recuar mais uma vez à infância, em França, onde vivi cada Natal com o fascínio com que todas as crianças o vivem.
O meu pai costumava colocar o pinheiro com as bolas, as fitas brilhantes e as luzinhas intermitentes e coloridas no meu quarto. Sob a árvore, que gostava de adquirir, dispúnhamos as figuras do presépio, que a cada ano ia crescendo. Adquiríamos mais figuras para melhor o representarmos.
Colocávamos o pinheiro enfeitado perto de uma janela, bem juntinha à chaminé (havia uma em cada quarto), para que o Menino Jesus depusesse os presentes durante a noite. Eu bem que tentava não adormecer, mas era escusado. E na manhã do dia seguinte, lá estavam os presentes bem embrulhadinhos.
As iguarias que a minha mãe confeccionava para o Natal eram as mesmas que faziam o Natal português, acrescido com outras guloseimas francesas.
Já na altura, alguns dos meus coleguinhas de escola falavam do Pai Natal, das prendas caras, das lautas ceias. Para mim, nada disso tinha importância. O meu Natal era diferente do deles e se o passássemos na aldeia dos meus avós, em Portugal, mais diferente se tornava.
Do que eu gostava mesmo naquele país mais evoluído e com uma economia emergente, era os pinheiros de Natal (reais e em chocolate) iluminados perto das janelas dos habitantes, as decorações natalícias nas ruas, a neve e o frio, e o calor aconchegante uma vez em casa.
Gostava ainda de mirar as vitrines cheias de chocolates, bolos e outros doces, entrar numa dessas pastelarias ou "chocolateries", pela mão do meu pai, e levar imenso tempo a escolher o meu preferido e levar outros para casa. Apesar da espera, o meu pai nunca se zangou comigo.
A minha mãe era mais de ficar em casa, porventura por causa das tarefas domésticas! O meu pai, eu e depois o meu irmão saíamos para fazer compras ou assistir a um ou outro espectáculo de Natal.
Na minha família nunca deixou de se festejar o Natal. Uns foram mais mágicos do que outros.
Em 1992, ano em que faleceu o meu pai, não deixámos de o fazer, embora a sua ausência fosse muito sentida. Mas esta era também uma forma de o manter vivo e connosco, que sempre gostou do Natal.
Não sei se cheguei a ouvi-lo dizer que gostava do Natal, porém era graças a ele que tínhamos, todos os anos, o pinheiro enfeitado, perto da janela, para anunciar o nascimento do Menino Jesus.
14 comentários:
E nunca deixes de o celebrar, Natalie, seja por que motivo for. Eu celebro todos os anos, mesmo não me assumindo como católico. Mas é uma época em que a família se reúne, e há algo diferente no ar. O que eu gostava de fazer o presépio, com a minha irmã, íamos buscar musgo à floresta para o construir, os rios eram feitos com as pratas dos chocolates dos anos anteriores. Bons tempos... Beijo!
Nesta altura as memórias estão mais à flor da pele e recordamos aqueles que já cá não estão. Pena a tradição cada vez se ir perdendo cada vez mais.
Recordo um Natal quando a minha mãe me ofereceu uma ambulância que tinha uma pequena luz, e que nessa noite não dormi a brincar debaixo dos cobertores.
Bjs
Há textos que não precisam de grandes comentários pela identidade que nos transmitem.
Apenas digo que a imagem é mais do que fabulosa (grande F Nando!), e o texto representa bem o verdadeiro espírito do Natal. Natal existe para recordar e viver o amor, entre todos!
:)
Um beijinho com carinho *;)
Essa imagem é daquelas... que podes usar sempre. Nem é preciso tirar-lhe o pó!
:)
Eu também tenho algumas tradições que não quero perder. Há gente que se vai (sei o que é), mas também há gente que nasce. Não devemos deixar de fazer o nosso Natal.
:)
Só agora li o comentário do Rafeiro e tenho que partilhar isto: eu também ia com o meu irmão aos musgos na floresta. Sim, tempos em que cheirava a verde e respirava-se natureza!
:)
Natália, que texto lindo.Tocou-me imenso.Tenhos dos Natais da infância as mais caras lembranças. Minha avó um entusiasta das festas de Natal (e por ironia nos deixou numa manhã de 25 de dezembro)sempre fez questões de manter essa chama acesa dentro de nós. Posso "roubar" o texto lá para o nosso blog? Ou melhor sugiro que o poste por lá.
Querida Natalie
Envolvente o texto, numa emoção nostálgica que não deixa de convocar o presente. O meu comentário podia ser igual ao do Jorge, o amigo Rrafeiro Perfumado. Ir buscar o musgo com os meus irmãos e irmã, fazer presépios com lagos de papel prata ou um pequeno espelho, moinhos, e tantas figurinhas. Fomos crescendo, e embora sem tanta figura, retendo as essenciais e alguns enfeites, o natal foi sempre comemorado: ha magia no ar!
Há cerca de quatro anos a minha Mãe deixou-nos. Estava em meus braços. O Natal perdeu toda a luz e encanto e magia, mas lembrando-me do dor de Maria com Jesus ao colo, comigo acontecera o contrário: o Filho com a Mãe, e que egoísmo podia eu ter, nós, familia, termos, se nao comemorar ainda que timidamente o Natal numa celebraçao de recordação à Mãe, que tanta luz e bonomia irradiava, numa doçura encantadora que Deus preferiu para si.
A fé tem momentos de crise, tal como o Amor, e apesar de nao vibrarmos como outrora, nao deixamos que o espirito do Natal passe... até porque minha mae certamente se encontra nele.
Obrigado pelas tocantes e belíssimas palavras deixadas no meu canto. Grande sensibilidade, Nathalie.
beijinhos amigos
O Natal da nossa infância tem sempre um sabor mágico e diferente. Hoje é totalmente virado para a compra das prendas e já nem o Menino Jesus quer aparecer. Será que tem vergonha?
Bjs
Meus amigos,
que lindos textos escreveram a propósito do meu post.
Posso fazer uma confissão? Emocionei-me muito ao lê-los. Tenho a lágrima fácil, que se há-de fazer?
Hoje estou assim.
Beijinhos pré-natalícios.
Esta época do anos deixa-nos sempre mais sensiveis, especialmente em relação às recordações evocadas daqueles que já nos deixaram. E isso é bom, eu acho. Esta pontada de nostalgia e saudade é bom, faz-nos sentir vivos e próximos ao mesmo tempo. Também eu sempre fui apanhar musgo nos campos, e ainda vou, agora com os meus filhotes. Cá em casa o nascimento do Menino sempre foi festejado, e dos festejos faz sempre parte o almoço de Natal com toda a familia reunida, pais, irmãos, cunhados, sobrinhos. A minha mãe costumava fazer um enorme peru recheado assado no forno. Ela faleceu no ano passado, e eu e o meu marido decidimos perpetuar o hábito, foi doloroso tratar de tuso com a recordação dela tão viva, mas ao mesmo tempo foi como um testemunho de como se deve preservar a união da familia, o que ela mais prezava. Esta ano lá vai haver de novo peru para todos e tenho a certeza que ela estará junto de nós para mais um Natal.
Beijinhos Natália e boas Festas
E agora tive muitas, muitas, MUITAS saudades dos meus natais de menina. :(
Foram-se e não voltaram mais... resta-me viver os natais presentes e tentar dar aos mais novinhos as mesmas recordações que me deram a mim, dentro da mudança dos tempos.
*
Orgulho-me de entrar nesta caixa de comentários e perceber que o encontro de dia 21 de Novembro ainda está tão presente nos nossos corações.
Vocês são lindos!
:)
Beijinhos para ti, amiga :)
Recordações que saltam do baú nesta época: umas felizes, outras nem por isso. Há sempre alguém que partiu e, muitas vezes, alguém tão importante que marcou esta quadra.
Minha querida amiga,
Como gostei de ler o teu texto! Que bonito! Conhecendo-te como te conheço, não pude deixar de me emocionar.
Um grande beijinho da tua sempre amiga
Cristina
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