Estive oito dias no nordeste transmontano, em casa da minha mãe que mora numa pequena aldeia a dois quilómetros de Mirandela. Normalmente nunca passo lá mais do que três a cinco dias, mas não vou falar sobre as razões que me levaram anos e anos a optar por uma brevíssima estadia. Na verdade, acho que já falei sobre isso num outro post.
A aldeia, pequena, com poucos habitantes (não mais de vinte), fica no topo de um monte entre os rios Tuela do lado esquerdo e Rabaçal do lado direito. Os dois rios fundem-se num vale à vista da aldeia e é aí que nasce o rio Tua, bem no início do Parque de Campismo da Maravilha (a transbordar a partir de Junho!). As ruas são calcetadas, muitas casas estão a ser reabilitadas, outras são construídas de raíz e há ainda a Quinta entre os Rios, que foi reconstruída há alguns anos e que recebe
eventos e turistas, por se tratar de uma casa de agro-turismo.
Mas a razão deste post é para vos contar outras experiências e tradições ou crenças populares. Lembrei-me delas quando, nesta estadia, perguntei à minha mãe se já tinha ouvido o cuco cantar. A minha avó materna costumava dizer que se não se ouvisse cantar o cuco na Primavera isso queria dizer que o fim do mundo estava perto. Isso assustava-me bastante!
Lembro-me que eu e as minhas primas e amigas, entre os doze e dezasseis anos, fazíamos uma pergunta engraçada que também nos fora ensinada pelas avós.
Acreditava-se também que se se perguntasse ao cuco sobre a nossa vida amorosa, ele teria a resposta. Incrível! Como é que uma ave podia determinar a idade com que iríamos casar!? Mas eu e as minhas primas e amigas acreditávamos piamente no que nos diziam. Afinal tínhamos entre os treze e os dezasseis anos! E éramos, comotodas as adolescentes, umas sonhadoras...
Bastava-nos perguntar bem alto, para que ele nos ouvisse, «Ó cuco da ribeira, quantos anos me dás de solteira?» e a seguir contar as cantadadelas do cuco e adicionar o número obtido à nossa idade e assim teríamos a idade em que seria a boda. Parava-se de contar assim que o cuco parasse de cantar.
Para algumas das minhas primas e amigas o cuco parava pouco tempo depois de ter iniciado o canto (seis, dez, doze). No meu caso, cheguei a contar trinta cantos, quarenta e mais, o que me levou a desistir. Nessa altura não imaginava que, afinal, não casaria, enquanto as minhas amigas e primas o fariam.
A tradição popular tem destas singularidades que, às vezes, coincide com a realidade. Engraçado, não é?
Nesses dias em Trás-os-Montes, passeando pela aldeia com a minha mãe, voltei a ouvir o canto do cuco e senti um misto de nostalgia e felicidade.
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Nota: foto de F. Nando de uma das casas da "Quinta entre os Rios"