Foto de F Nando
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A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.
Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.
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Esta composição que apelido de literário-estética, e que a máquina fográfica do artista captou, foi espontâneamente conjugada. Importavam os elementos e como eles interagiam uns com os outros sendo tão distintos.
Eu conto-vos. Há uma história que os une: o amor à literatura, à arte em geral, à paixão pela essência do ser.
Não sei ao certo se Fernando Pessoa gostaria de anjos ou se acreditaria nesses mensageiros invisíveis e amáveis. Creio que iria gostar deste, já que tem no colo um livro aberto que pode bem ser a compilação deste autor maníaco-obsessivo e, talvez por isso, genial.
Sim, onde quer que estejam terão conversas literárias e filosóficas sobre a fragmentação do eu. Talvez todos se encontrem a dialogar em torno de um cálice de um excelente e centenário Vinho do Porto (embora Pessoa preferisse outras bebidas mais fortes e que lhe provocassem sensações fortes.
Todos! Quem? Fernando Pessoa ele próprio; o seu primeiro pseudo-amigo Alexander Search; Bernardo Soares o seu alter-ego; o mestre dos heterónimos, Alberto Caeiro; o clássico Ricardo Reis, o futurista até à vertigem ou o melancólico Álvaro de Campos que não passava sem o seu ópio. Que "drama em forma de gente"! Mas quem mais foi tão múltiplo, tão fragmentado e genial?
Talvez ninguém. Talvez os autores dos livros de encadernação gasta pelo tempo de que, com certeza, Fernando Pessoa gostaria e guardaria no seu baú de memórias, baú da "criança que foi" feliz na casa onde nasceu, ali bem perto do Teatro São Carlos, não é mais.
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A Criança que fui chora na estrada
A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.
Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.
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E as velas, perguntarão? Pessoa acendia-as nas longas noites de insónia quando escrevia num jacto vários poemas que guardava, por vezes, no baú.
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4 comentários:
Singelo o texto, minha cara. E o poema, de quem é? Pois o apreciei deveras.
Grande abraço,
Gostei da tua estética neste encontro de palavras - sentidos - emoções - sensações - devaneios...
Absolutamente surpreendente!
Bjs
Parabéns a ambos, a ti, pela ideia e palavras e ao fotógrafo que tão bem captou as diversas figuras.
Nathalia,
Excelente postagem,saio feliz daqui,levando uma leitura reflexiva,
Boas energias,
Mari
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