quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Pablo Picasso

Pablo Picasso, Les Demoiselles d' Avignon


Le pays
de Pablo Picasso
respire
le corps et l' être
des femmes

Si elles
sont sages
il les touche avec ses mains
de peintre et d' homme
pour leurs faire l' amour
sur les toiles
où le feu
n' a pas de cendres

***


Poema escrito em Auxerre (31/07/99)



segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Natal transmontano



Há um frio branco nevado

que veste de novo a grande e bela paisagem

que faz o Dezembro outra vez o Inverno de infância

numa sempre e tradicional anunciação

do Natal deliciosamente Natal

domingo, 28 de dezembro de 2008

Férias de Natal Inesquecíveis

sábado, 20 de dezembro de 2008

Robert Doisneau



“Quand on est prisonnier de l’image, cela vous donne toutes les audaces.”

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Absence




J’ ai envie de toi
Besoin de tes mains e de tes lèvres
De tes tendrèsses
*
Embrasses-moi
J’ ai urgence que mon être et ton être
Soit un seul
*
Ton désir et mon désir
Est fou, torride, sans frontières
Sans heures
*
Nous sommes deux amoureux
Attendant avec impatience
Nos nuit blanche d’ amour
*
Nos absences sont si aigue
Si rêvement invraisemblable
Et à chaque jour moin justifiées

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Perfume de Mulher

As gotas do perfume
que gosto que toquem
a nudez
da minha pele ebúrnea, quente e macia
deixa na brisa
o aroma e a essência
da minha presença diáfana
feminina e intensa
Novamente te pediste que inventasses
o dia claro no sentir
ainda de nevoeiro

Desceste a calçada sem pressa
olhando os (des)conhecidos que por ti passavam
supondo-os personagens de um acto único

O que os moveria
A pressa de chegar ao seu retiro ou o cansaço
de serem ainda a rotina

Eram seres de um viver metálico
metódico fastidioso irreversível sem surpresas
numa paisagem de concreto

Não farias nunca parte desse drama
Habitava-te a ousadia de sondares o insondável
como quem sabe a essência do ser

Quantas vezes o triunfo de prefigurares
as suas fragilidades tão transparentes afinal
te sabia a tempestade

Por isso procuravas nesse instante
a claridade lúcida das palavras
com que havias de dizer a magia de se ser





Au danseur Christian Bourigault


L' homme
créateur et interprète
de la liberté fragile
exprimes les métaphores de la vie...
***
Il danse comme un
devineur d' énigmes et de vérités simples
inspiré
par une petite voix
jaillisante
silencieuse
***
Il fragmente son corps trop humain
il le réinvente dans l' espace
d'un temps présent
***
Il est lumière vérité passion
pour une nouvelle écriture
du mouvement
insaisissable
*****
Este texto foi escrito depois de ter assistido a um solo, na Escola de Belas Artes em Auxerre, no dia 24 de janeiro de 1997.
Este e outros textos que escrevi naquela altura estiveram perdidos. Agora apetece-me recuperá-los.






domingo, 14 de dezembro de 2008

I'll never fall in love again

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Passeio por Barcelona




Sábado passado prometia muita chuva. O céu estava de um cinzento chumbo ameaçador.

À chegada a Barcelona chovia. Por sorte, à tarde, a chuva deixou-se ficar nas nuvens, como que a dar uma trégua e as boas-vindas aos turistas.

Em todo o fim-de-semana não choveu mais. Na verdade, o sol foi fazendo a sua aparição, mais ou menos prolongada. Só o frio e o vento enregelador nos fazia lembrar que estávamos cada vez mais perto do Inverno. Contudo, era um frio diferente do nosso. Um frio realmente frio, cortante, como se estivesse a nevar.

Os bairros de ruas estreitas, com a roupa no estendal, as praças, os monumentos, as largas avenidas com fachadas sumptuosas, os cheiros fortes e intensos das especiaciarias dos kebabs, as tapas, a multidão evocavam cenas de um qualquer guião de um filme.

As iluminações de Natal, que magicamente se acendiam mal a cidade ia ficando imersa nas trevas da noite, ainda mais fria, davam outro encanto às Ramblas.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Sem título


O que conquistas todos os dias
na hora em que és
o infinito
conhece a alquimia
que se desprende das tuas mãos
sempre que tocas
a página em branco

Os enigmas que desvendas
na forja do sentir
são a paisagem de outras paisagens
de indizível lucidez

A tua ausência sempre anunciada
não te ameaça nunca
porque o milagre de seres
sussurra-te as imagens aladas
que anunciam a existência
secreta
desse teu olhar-anjo

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Experiência ficcionista 1



Estava sentado na esplanada de um café quando te vi surgir ao longe. A princípio quase não te reconheci, todavia à medida que te aproximavas, as dúvidas foram-se desvanecendo. Mudaras o corte do cabelo, o estilo da roupa, mas não os gestos. Esses eram indestrutíveis e o meu ponto de referência nesse momento. O modo de andar, o balançar suave do corpo, o mexer das mãos, que todos julgavam ensaiado, continuavam os mesmos. Não sabia se deveria abordar-te ou se, pelo contrário, deveria deixar-te partir como acontecera alguns anos atrás. Fosse como fosse, eu não sairia dali para te falar. Terias de cruzar o meu caminho, pois só assim saberia que ambos estávamos inexplicavelmente, inexoravelmente ligados um ao outro.
E se atravessasses a rua e mudasses de passeio, sentiria ainda vontade de pronunciar o teu nome, de o gritar elevando a minha voz, transformando-nos no centro das atenções? E porque não? Na verdade, valia a pena sermos o centro das atenções, por tua causa. A ideia ainda há pouco pouco consistente, ainda que surreal, agradava-me. Imaginei-me então a gritar bem alto o teu nome, erguia-me e fazia-te um gesto com a mão. Os outros homens que desfrutavam também da frescura da esplanada, voltariam o rosto para o fim do meu chamamento. O teu nome gritado não iria além de ti, porque só a ti pertencia e a mais ninguém. Só tu o vestias e transformavas na sua individualidade, distinguindo-te de todas as mulheres com outros e o mesmo nome. Tu, única portadora do teu nome, reconhecendo-o no meu grito, olharias para mim que o fizera nascer e corresponderias ao meu aceno com um sorriso. E continuarias a avançar para encontrar o novo criador. Para me dizeres que nunca antes o ouviras dito assim.
Não mudaste de passeio e caminhavas na minha direcção aproximando-te cada vez mais. Quando passaste perto de mim, sem me ver, nada disse. Não fui capaz de te chamar. O teu nome morreu-me na garganta. Afinal não era tão impulsivo como pensava, nem tão decidido. Nem te vi afastar porque estava de costas voltado para o vazio que tu deixaras sem saber.

sábado, 8 de novembro de 2008

23 de Setembro de 2008


Estou como sempre estive, em outros locais, numa outra fase da minha vida. Escolhi, num dos meus passeios solitários, tal como outrora, o meu pequeno retiro.
Sentei-me numas escadas de granito que dão para uma praia fluvial. Daí vejo a outra margem. Desde Lisboa a Vila Franca de Xira.
Mais perto, ondulam no Tejo pequenas embarcações dos pescadores e barcos de recreio.
Hoje está um dia de luz nítida, vento desassossegado sem soprar demasiadamente forte. Vagas de um castanho constante vêm em direcção à praia de areia, pedras e seixos.
Sabe-me a sonho estar aqui, mais tranquila, num mutismo absoluto. E o silêncio que não é de todo silêncio, é a voz do rio, o canto de pássaros e o grasnar de gaivotas, o ruído dos automóveis que passam na estrada calcetada e as picaretas dos calceteiros que concertam o passeio.
Tudo o resto que os meus olhos abarcam é maior que tudo. É a paisagem marítima, no primeiro dia de Outono.

sábado, 1 de novembro de 2008

O sorriso de Mona Lisa

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Há tanto tempo
que este fundo silêncio
não é
o silêncio
mas a tua ausência

Sabemo-la
todos os anos, meses, dias
até as flores que eram tuas
a sabem
porque é infinita


quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Reminiscências do nosso jardim

Ainda sinto o perfume
das manhãs claras no jardim
quando me pegavas na mão
e me levavas
a ver as rosas

Eu deixava-me guiar obediente
para depois te deixar
inadvertidamente
e correr além-horizonte

Era então que o teu olhar-mar
se toldava de névoa
por me saber tão sonhadamente
rebelde

Mas eu corria sempre na tua direcção
depois de desafiar
a tua autoridade
porque o sol te inundava suavemente



quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A meu pai, Armindo Augusto

Deixaste que fosse pássaro
para que o céu e todo o espaço
me desse de beber
tragos de sentir e sopros de ser
no colo dos sonhos
contra qualquer ameaça

***

Deste-me a força e a agrura das fragas
para que essa semente
frutificasse em solo fértil
sem desesperança e muita convicção
na flor da sensibilidade
no delírio justo da criação

***

Tudo me deste para eu ser grande
Mas não fui forte como querias
porque anteciparam a tua partida
e no meu luto de anos e anos
fiz-me cativa do meu desespero
***
Não
Não quero que os teus amorosos olhos
azuis mar céu tranquilidade
se vistam de mágoa líquida
pois voltei a ser pássaro
e a sonhar os nossos sonhos

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Charles BAUDELAIRE, Les fleurs du Mal


Tristesses de la lune

Ce soir, la lune rêve avec plus de paresse ;
Ainsi qu'une beauté, sur de nombreux coussins,
Qui d'une main distraite et légère caresse
Avant de s'endormir le contour de ses seins,

Sur le dos satiné des molles avalanches,
Mourante, elle se livre aux longues pâmoisons,
Et promène ses yeux sur les visions blanches
Qui montent dans l'azur comme des floraisons.

Quand parfois sur ce globe, en sa langueur oisive,
Elle laisse filer une larme furtive,
Un poète pieux, ennemi du sommeil,

Dans le creux de sa main prend cette larme pâle,
Aux reflets irisés comme un fragment d'opale,
Et la met dans son coeur loin des yeux du soleil.




quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Duas identidades



Tenho duas identidades, dois sentires que, de tão opostos, por vezes, nem me reconheço. Não fui eu a sua criadora. Foram as circunstâncias.
A minha identidade verdadeira, a que me diz e é autêntica é, sem dúvida, a primeira. Porque sou verdadeiramente eu: nome, data, local de nascimento.
A segunda identidade, da qual só tomei conhecimento aos 11 anos, altura em que foi necessário utilizar o bilhete de identidade, tomou-me de assalto. Senti-me incrédula, injustiçada e, ao mesmo tempo, uma estranha.
Natália Jesus Seixas Augusto não era eu. Como podia digerir tamanha usurpação de identidade? Não a digeri. Nunca. Mas também nunca exigi que a verdade fosse reposta. Para quê?
Assim, não me é necessário criar outros eus, porque, quis o acaso, que tivesse pelo menos dois! Ainda que muitos outros me apareçam!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Infância

Sabes
ainda rego as rosas odoríferas
inventadas a cada gesto preciso
no jardim
que era secreto e só nosso

Ainda as olho, toco e trato com paciência
como me ensinaste
e acarinho-as
com o mesmo olhar
cândido e ingénuo

Nesses momentos
roubados criteriosamente a qualquer relógio
volto a ser a criança
feliz
que brinca sob o teu mar e céu

Ainda oiço o timbre da tua voz
nas suas pétalas-veludo
porque os zéfiros ma sussurram
nesta hora
que se transformou num agora
sempre sem ti


sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Aos meus amigos


Hoje,

Quero apenas desejar-te um bom dia.

Quero que recebas agora um sorriso meu, ainda que invisível a teus olhos.

Quero deixar de dizer o que te possa magoar.

Quero calar-me para te ouvir melhor.

Quero pedir-te que esqueças os meus muitos defeitos.

Quero também pedir-te desculpa pelas lágrimas que não soube ocultar.

Além disso, quero que saibas que me vejo no teu amanhã,

Porque te guardo no meu coração e nos meus pensamentos.



Nathalie


sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A meu pai

O piano de Chopin
interpreta
melodias que são o anúncio
da harmonia
cósmica


Nessas horas lentas
de notas sensíveis
soçobram
vozes silenciosas
de seres
maiores do que nós
que andam invisíveis
ao nosso lado


Pedem-nos
que tenhamos os olhos
de sol e lua
e que caminhemos a seu lado
com o Indizível
no nosso olhar




quarta-feira, 17 de setembro de 2008

In no distant sea



To be back isn't bad after all. There is always something new to discover and something pleasant to remember. No matter what.
I feel i'm returning home. And that is, indeed, difficult to understand or describe because i don't live in Alcochete. I simply work there!
The fact is, i' m happy to work in such a lovely, quiet and melodious village as Alcochete. It is, probably, one of the most remarkable, poetic and impressive places not far from Lisbon.
It's so easy to imagine possible tales of mystery and travels... adventures far and away, in no distant sea. I have in me its sounds: the song of waves and wind, the voices of sea-gulls, the enchanted murmur from the shore.
This is a village where i would wander if i might from dewy morning to dewy night, and have no one with me wandering.

Auxerre


Nas manhãs brancas de Inverno
descias
as escadarias que davam acesso ao pátio
interior
do liceu Jacques Amyot.

Inalavas a longos tragos
o ar gélido.
Fixavas o olhar esplêndido
nas copas frondosas das árvores
que te traziam reminiscências de ouro.

Depois, caminhavas
em direcção à salinha de música
onde entre adágios, allegros e nocturnos
compunhas as melodias do sentir.

Outras vezes, visitavas Marie Noel
e, num mudo diálogo,
ouvias-lhe os seus poemas,
que ecoavam ainda
quando entravas
tranquila
na catedral Saint-Etienne.

Mas o que mais te fascinava
era saberes-te tão grande e inteira
numa cidade estranha
onde o acaso te deixara ir.










quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Essência




Sei de um reino... Um reino maravilhoso! É um reino real e honesto! É um daqueles reinos em que os habitantes conhecem a sua verdadeira essência, ainda que os existencialistas defendam que a essência precede a existência.
Existir pode ser a primeira instância, todavia a mais importante é o SER. Porquanto SER é a individualidade e o sentir de cada um, único e irrepetível...
Por mais questões que nos coloquemos, o mais honesto é sermos justos connosco e com os que cruzam o nosso caminho, fazermos parte do universo pessoal de cada um, sem constrangimento ou falsas aparências, criar laços e reconhecer no outro uma pequena centelha de nós mesmos. Porque somos agora - sobretudo agora , felizes desconhecedores do ainda por acontecer - criação, sonho, realidade e emoção.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Passeio pelo Porto


Estava uma manhã quente de início de Agosto. O Porto brilhava ao sol. Iluminava-se, ao contrário de outros dias e estações. As ruas tinham alguns transeuntes, muitos deles turistas, descobrindo a cidade.
Caminhava com um propósito. Procurava a Livraria Lello. Demorei algum tempo a encontrar o edifício. Encontrei-a entre os Clérigos e a Avenida dos Aliados. A fachada imponente fez-me sentir um friozinho no estômago. Depois de transpor a porta de entrada, a sensação manteve-se e outra se lhe veio a associar: maravilhamento.
O interior é de uma beleza e preciosidade raras. A imponente e trabalhada escadaria de madeira, que dá acesso ao segundo andar de onde o olhar abarca todo o espaço, é uma verdadeira obra de arte.
No tecto existe um vitral que deixa passar uma luz coada e que dá à Livraria a rara beleza de lugares mágicos e imaginários. Mas é tudo bem real! A atestá-lo temos as estantes de madeira cheias de livros e relíquias publicadas pela Lello Editoras, que antecedeu esta Livraria do século XIX.
A Livraria Lello ainda hoje me parece surreal, um mundo fantástico, inebriante. Saber que Guerra Junqueiro esteve presente na inauguração ainda mais!

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Livraria Lello - Porto

quinta-feira, 24 de julho de 2008

João Barbosa: um poeta na escola



João Lopes Barbosa é docente de Ciências Físico-Químicas do 3.º Ciclo, na Escola EB 2,3 El-Rei D. Manuel I. A maioria dos seus colegas e alunos desconhecem que este professor de ciências é um poeta, com uma crescente obra publicada na editora “Apenas Livros”.
João L. Barbosa começou a escrever poemas era então uma criança. Porém, o rapaz que estabeleceu a relação com o mundo através da poesia, optaria pelo ensino das ciências. Com efeito, João L. Barbosa consegue conciliar na perfeição a sua paixão pela poesia e pelas ciências, tal como Adolfo Correia da Rocha (Miguel Torga), Rómulo de Carvalho (António Gedeão), António Lobo Antunes e tantos outros autores portugueses.
Cedo escreveu poemas, letras para canções e ganhou alguns prémios literários. Ninfa (2004), Eros (2005), Tejo (2005), O Movimento do Pêndulo (2007) são alguns dos títulos da sua obra poética. Recentemente, alguns dos poemas do seu livro de cordel Tejo (2005) foram traduzidos para asturiano (uma das línguas faladas em Espanha). Tal facto foi noticiado na imprensa, mais precisamente no LLetres do diário La Voz de Asturias, Oviedo.
No presente ano, Abril de 2008, publica Memória da Terra, uma colectânea de poemas dedicados a sua mãe. São poemas de uma intensidade dramática e de um sentir pleno. Aí estão as suas raízes, as suas memórias, a sua essência, a sua grandeza poética, o homem, a sua ligação telúrica com o universo.
Dessa colectânea deixo-vos um poema que de tão simples é de uma grande força e beleza inigualável.

nasci

nessa manhã de Dezembro
à lareira

o corpo, a dor,
a liturgia da luz

tudo
foi de ti

fui de ti
mãe!

João L. Barbosa é um professor atento, dedicado e ciente das suas responsabilidades na formação dos jovens na área científica, não descurando nunca a vertente experimental da ciência! Quem com ele convive de perto, descobre o seu apurado sentido estético e a sua sensibilidade intrínseca.
João L. Barbosa é um homem criativo, crítico, mas discreto e modesto. Só alguns dos amigos próximos conhecem esta vertente, porquanto só com eles consiga partilhar essa sua paixão.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Terça-feira, 11 de Serembro de 2007

Não sabemos nunca onde as palavras nos levarão. Primeiro são palavras. Palavras a vogar na nossa mente à espera que as deixem ser ideias. Umas são boas, outras más, porém belas quando transformadas em histórias que dizem o que somos e sentimos.
Quem não procura a palavra certa e honesta? A palavra pura e cristalina? A palavra de se ser aqui, agora, até um dia?
As histórias existem silenciosas, mudas, persistentes, que não nos abandonam nunca! Deixamo-las ao abandono, desamparadas até um dia. Depois damos-lhes vida e permitimos que nasçam.
As palavras que escrevi outrora foram telas de poesia. As palavras que escrevi há pouco tempo são narrativas de magia e encantamento. Uma dessas narrativas está reproduzida em dois mil e dez exemplares. Aguardam, num espaço do escritório, pelo encontro solar com os leitores, o que acontecerá muito em breve.
O cheiro a papel, tinta, cola, impressão recém-aparecida inundam o espaço.
Esta aparição de tão concreta unge-me de felicidade. Mas por quanto tempo?

12 de Junho de 2007


Há momentos em que me supero. São poucos, bem sei.

São aqueles em que uso a palavra escrita. Elas, as palavras, dizem-me por inteiro: o que sou, sinto, sei, imagino, sonho, quero, desejo e penso. Que importa tudo o resto? Nada.

Nunca me peçam para calar tudo isso. Seria matar o que há de mais nobre em mim…

terça-feira, 15 de julho de 2008

Liberdade


Há dias em que me afasto de todos e opto por um passeio solitário. Há nesses momentos um grande desejo de isolamento, quase como se me fosse insuportável estar no local onde me encontrava.
Vagueio pelas ruas sentido a brisa e o sol no rosto. Deixo também que os pensamentos corram velozes, porque não quero aprisioná-los.
Observo atenta o que me cerca e sei que nada será igual no momento seguinte. Nem eu mesma, que sou a inconstância em pessoa!

domingo, 29 de junho de 2008

Sem título




Sim, existimos.

Por quanto tempo?

Enquanto somos.

Somos...

Perturba-te o não-ser?

Persiste sempre a interrogação
sobre o estarmos aqui e a nossa infinita invisibilidade.


quinta-feira, 26 de junho de 2008

"Quero ser Bailarina"



A BAILARINA


ESTA MENINA
TÃO PEQUENINA
QUER SER BAILARINA
***
NÃO CONHECE NEM DÓ NEM RÉ
MAS SABE FICAR NA PONTA DO PÉ
***
NÃO CONHECE NEM MI NEM FÁ
MAS INCLINA O CORPO PARA CÁ E PARA LÁ
***
NÃO CONHECE NEM LÁ NEM SI
MAS FECHA OS OLHOS E SORRI
***
RODA, RODA, RODA COM OS BRACINHOS NO AR
E NÃO FICA TONTA NEM SAI DO LUGAR
***
PÕE NO CABELO UMA ESTRELA E UM VÉU
E DIZ QUE CAIU DO CÉU
***
ESTA MENINA
TÃO PEQUENINA
QUER SER BAILARINA
***
MAS DEPOIS ESQUECE TODAS AS DANÇAS
E TAMBÉM QUER DORMIR COMO AS OUTRAS CRIANÇAS
*
Cecília Meireles
*
(Poema de abertura do espectáculo declamado por Teresa Bonito)




"Quero ser Bailarina"


Os alunos da Escola de dança D. Manuel I apresentaram o espectáculo "Quero ser Bailarina", no dia 20 de Junho, no Fórum Cultural de Alcochete.
As meninas e um menino, entre os três e os treze anos de idade, transportaram os espectadores para o mundo do belo. As performances que apresentaram evocaram a beleza dos seres, a poesia da música, a harmonia da cor, a magnitude do movimento.
Estes pequenos intérpretes e a sua professora, Ana Calafate, apresentaram um espectáculo onde magia, sonho e música se fundiram. Tudo foi de uma beleza simples. Sem artifícios. Pureza, encanto, leveza dominaram.
As composições de Beethoven, Tchaikovsky, Michael Nyman, Mozart e Louis Armstrong revelaram as pequenas estrelas que escolheram a dança como expressão artística.
Professora e alunos estão de parabéns!

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Memórias de ti

Costumavas levar-me contigo na minha infância de frutos silvestres. Levavas-me nos teus passeios pela cidade e compravas-me os mais belos presentes. Não me negavas nada.
A princípio, sem poder compreender, vi-me saparada de ti, da mãe e do meu irmão. Chorei dias a fio. As noites tornaram-se muito tenebrosas. Fiquei sem o teu, o vosso amor.
Mantiveste-te longe tempo de mais. As férias de Verão eram mágicas porque tu estavas. Éramos a família de outrora: tranquila, alegre, feliz. Mas as tuas partidas eram dolorosas.
Certo dia, vieste e ficaste connosco. Era eu uma adolescente. Vieste e foi mágico, de novo. Sonhámos juntos. Sonhaste com a tua família. Eu sonhei contigo. Soubeste e compreendeste a minha paixão pela leitura, pela escrita e a minha necessidade de solidão.
Se não tivesses sido tu, não teria vindo estudar para Lisboa. O teu consentimento foi decisivo. Sabias que precisava de muito. Deixaste-me voar. Deixaste-me ser livre.
Nas férias de Páscoa, de Verão e de Natal contava-te como era fantástico aprender novas coisas, ter novos amigos. Sonhávamos com o momento em que acabaria a licenciatura e começaria a trabalhar.
Era-me urgente começar a trabalhar. Queria dar-te o mundo tal como mo tinhas oferecido : límpido, honesto, tranquilo, promissor.
A última vez que fui ter contigo à nossa quinta, senti uma angústia enorme e um nó na garganta. Procurei-te e chamei-te, porém não obtive resposta. Senti um estranho medo. Como se não existisses. Acabei por te encontrar. Viria a perder-te algumas semanas depois.
Partiste cedo de mais. Para sempre. Da forma mais dolorosa. Faz hoje dezasseis anos.
Durante nuito tempo, deixei de me reconhecer. Durante muitos anos deixei que a dor, o desespero, a raiva tomassem conta de mim. Fui durante muito, muito tempo errante. E, por isso, traí muitos dos sonhos que sonhámos. Menos um: nunca abandonei a escrita.
Deixaste-me ser quem hoje sou, porque me deixaste ver o mundo, com os olhos ávidos por novidade.
Nunca deixei de te amar. Nunca. Mas, por largos anos, o meu amor foi doente. Muito. Agora confesso-te que já não.
Neste momento é a minha vez de te deixar partir. Vai. Eu estou melhor. Muito melhor. Fica sabendo que sei que estarás sempre comigo.
Adeus, pai.

domingo, 16 de março de 2008

Contos do Mundo



Sementes de Vento - Contos do Mundo, de Tim Bowley, é uma belíssima colectânea de contos.


O seu sabor é único! As histórias são encantadoras e chegam-nos de diferentes partes do mundo: Japão, Índia, Inglaterra, Rússia, Médio Oriente.


Agora, que me anima ser contadora de histórias, confesso que estes Contos do Mundo surpreendem os ouvintes. Mais que isso... são sempre apanhados desprevenidos.


Este livro pode ser adquirido na Escola Superior João de Deus, em Lisboa.


segunda-feira, 3 de março de 2008

A Fernanda Azevedo

No perfume luminoso das chamas cintilantes
habita a magia e o (im)possível
na paleta fantástica
nas mãos da criadora

Representam-se imagens aladas
na folha neve de hoje
e contam-se histórias de amanhã
em policromias concretas
na limpidez preciosa e clara
do mundo do belo

Nessas ondulações artísticas
nascem poções
de cores encantadas
de seres mágicos
num espaço onírico
de gestos atentos e tranquilos
na invenção do ser

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Sabor a Mundo


O mundo é muito mais do que os nossos olhos abarcam. É, desde sempre, mais do que o mundo físico! Pois além do mundo físico, há todo um mundo interior, invisível aos olhos, muito maior que o primeiro. Esse revela o sentir total de todos os seres humanos dos mais recônditos lugares no planeta terra, desde tempos imemoriais.
A sua grandeza surge-nos das mais diversas formas. Basta atentarmos nas pinturas rupestres, nas ruínas que assinalam a sua passagem pelo mundo, os mitos, as lendas e os contos populares, que alguém soube converter em texto, os romances, os vários documentários, a multiplicidade de películas cinematográficas que atestam a sua existência.
O sabor do mundo chega-nos de todos os continentes, de todos os países, de todas as civilizações, de todos os povos. Maior que tudo também é a sua sabedoria, o seu sentir pleno, a sua história, a sua geografia.
Todos os testemunhos que nos legaram têm um sabor próprio, que só alguns conseguem apreciar. Com efeito, a liberdade de aceitar o outro como ele foi e/ou é, com qualidades e defeitos, semelhanças e diferenças, não os impede de revelar a sua cultura ancestral, a todos os que os rodeiam.
Captar o pulsar do homem desde a sua origem até aos dias de hoje é uma exigência para todos os que têm como missão educar na diferença, para que a diferença seja respeitada e aceite.
O desafio de todos é degustar estes sabores a mundo tão diferentes! Não esqueçamos que a diferença torna tudo mais autêntico, mágico e encantador.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Representação do amor: beijo roubado

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Palavras Andarilhas



Beja: Setembro de 2007


Escola EB 2,3 El-Rei D. Manuel I - Alcochete: 28 de Novembro de 2007


Escola Básica Hélia Correia - Mafra: 29 de Novembro de 2007


Biblioteca Municipal de Oeiras: 13 de Março de 2008


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Digressões


É em noites de trovão, vento e chuva que se ouvem melhor as vozes dos elementos. Acordam-nos. Dizem-nos que não lhes cabe assistirem-nos, mas apenas provar que existem como nós, entre nós, além de nós. Por milénios e milénios!
Mas nem todos sabem que essa é a voz primordial que nos poderia sagrar de melodia divina...
Há tantos que não a conhecem, que não a sabem. Andam desatentos e só eles dormem um sono sossegado, que é já a manifestação do seu contentamento inconsciente.

Sem Título

***

Se não fosses escritor, que serias?

Sê-lo-ia sempre,
que a natureza de um iluminado não deixa nunca de ser
a magia de dizer o incrível que o habita.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Atonement


Quando a criatividade e a fantasia se tornam realidade, todos os limites são transpostos. Complexo? Sensações puras, apenas.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Homenagem a Niels Fischer



Em 2005 comemorámos o Bicentenário do Nascimento de Andersen, um dinamarquês que ficou, para sempre, ligado aos seus escritos, sobretudo a arte de narrar contos. Muitos ouviram ler e/ou leram na infância as suas narrativas.
É que não podemos esquecer que há autores que se tornam universais, clássicos, imortais. Deixam de estar fisicamente no mundo e, todavia, continuam connosco, nas suas palavras.
Estamos em 2008 e, mais uma vez, este nosso encontro acontece por Andersen ter sido um menino, um rapaz, um homem que, como nos disse Niels Fischer, «queria ser actor, cantor, bailarino». No entanto, não conseguiu realizar todos esses sonhos. Contudo, ainda assim, podemos dizer, pelo que puderam ver na exposição e nesta gala, que Andersen foi um artista multifacetado.
Andersen, como todo o artista, mostrou-nos o belo e o macabro, que aparecem, outrora como agora, em recortes e escritos. Podemos dizer que nessas suas manifestações artísticas persiste a compreensão do mundo, inequivocamente e sempre igual, ao longo dos tempos. As dicotomias bem e mal, justiça e injustiça, realidade e sonho permanecem.
Hoje, nesta noite, celebramos, sobretudo, o belo, o sonho, a alegria, de diferentes formas. São manifestações artísticas variadas; umas singulares, outras colectivas. Poderão encontrar na Exposição Hans Christian Andersen, na peça «As Flores da Idinha» e nas danças, que se lhe seguiram, a nossa forma de compreender e sentir Andersen.
Os que aqui estiveram aqui, neste palco, são ainda pequenos e jovens "aprendizes do fingir". Temos a certeza que quer os mais pequeninos, quer os mais crescidos, apesar da responsabilidade, se sentiram felizes de estar aqui. Não os assustou trabalhar os sentimentos e os possíveis eus que habitam cada um de nós.
Hoje fomos nervos, insegurança, receio para mostrar que somos, ainda, inocência, beleza, fantasia, poesia e liberdade.
Se Andersen nos pudesse ver! Se Andersen soubesse o que consegue decorridos dois séculos da sua existência! Se Andersen nos conhecesse e conhecesse um dos seus conterrâneos mais generoso e querido!
Pois é! Andersen não teve esse privilégio. Nós, sim. Por causa do projecto TUDO DANÇA, conhecemos um homem de uma grandeza fora do comum e de uma bondade inigualável, que, não sendo português, se apaixonou em Portugal e se apaixonou por Portugal.
Esse homem inigualável é Niels Fischer, que tem divulgado Andersen de norte a sul de Portugal e também nas ilhas.
O seu encanto natural, a sua coragem e vitalidade; o seu amor a Andersen, em particular, à arte, em geral, e ao ensino humanista; o seu propósito de estar connosco e com outros meninos e meninas, jovens, pais, educadores, professores, tornam-no, a nossos olhos, muito especial.
Rudolf Steiner, um pedagogo austríaco, afirmou que «A nossa mais elevada tarefa deve ser a de formar seres humanos livres que sejam capazes de, por si mesmos, encontrar um propósito e uma direcção para as suas vidas.» Também Niels Fischer nos faz sentir que é assim!
Muito obrigada!
(Fórum Cultural de Alcochete - 19 de JAneiro de 2008)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Outrora e agora

Outrora esta paisagem, que não era bem a mesma, apaziguava-me. Ficava horas, não sei bem quantas, enquanto esperava o autocarro, a olhar para o rio Tua e para as suas margens. Como o tempo fluía suavemente. Por vezes, acompanhada de um bloco, desenhava ou escrevia trechos narrativos ou poemas. Nessa altura, já me sabia só. Nessa altura, buscava a solidão. Nessa altura, era jovem e sonhava.
Hoje a paisagem ainda me fascina. Sobretudo o rio. Assim como os jardins e as zonas verdes, que nasceram de um lado e do outro das margens. Mas tudo o resto é doloroso. Fugi dali antes da tragédia, porém ela cairia sobre nós implacável, mudando, para sempre, o nosso sentir.
Minha mãe saiu daí por essa altura. No entanto, acabaria por regressar. Entendo-a. É o seu berço natal. Tem ali as irmãs e os irmãos. Tem também a sua casa. Todavia, como não foi o meu berço, não consigo encontrar-me aí.
Lugares de eleição transformam-se em paragens de desencanto e dor. Evitam-se para esquecer tudo o resto: a tortura, o desespero, a mágoa.
Não, não fiz as pazes com o norte transmontano, que desconhece o meu sentir tudo e o meu desejo de esquecimento.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Ano Novo





Manda a tradição que, ao som das doze badaladas, se comam doze passas e se formulem desejos. Quantos desejos silenciosos, repetidos, ano após ano, não serão ditos? Há sempre crentes! Bons crentes, que formulam os seus desejos para um ano de 366 dias, porque este ano é bissexto, que esperam ver concretizados.
Num novo ano podemos realizar novos projectos, concretizar alguns sonhos adiados, reatar laços perdidos, mas é pouco provável que iniciemos algo de inesperadamente novo. Há projectos que foram construídos no pretérito e que não podemos, nem queremos abandonar.
É um facto que a desesperança acompanha a existência de milhares de seres humanos pelo planeta; outros, inabaláveis nas suas convicções, esperam por uma nova oportunidade. Diz a voz da sabedoria ancestral "Ano novo, vida nova". Como se isso fosse possível! Só se apagássemos todo um percurso que já foi realizado, para o bem e para o mal.
Porém, é esta capacidade, de pedir o impossível e sonhar com o improvável, que projecta o ser humano no tempo e potencia a sua longevidade.