DA VÃ GLÓRIA DOS ORGANIZADORES AO DESCONTENTAMENTO DOS PARTICIPANTES
O Concurso Nacional de Leitura já decorre há três anos e, ao contrário das expectativas criadas, nos alunos, pais e encarregados de educação, professores, de que se tratava de um evento que premiava o mérito dos jovens leitores, isso não aconteceu. A acrescer a este facto, outro viria a juntar-se-lhe, a desorganização do evento e o desrespeito por todos os participantes que vêm de todos os pontos do país.
A 1.ª edição do concurso foi no ano lectivo de 2006/2007. A final nacional estava agendada para o dia 16 de Junho e os concorrentes deveriam chegar à Reitoria da Universidade Nova de Lisboa por volta das 9:00h, com os seus acompanhantes (pais, para ceder o direito de imagem e receberem um prémio pecuniário pela deslocação, amigos e professores).
Os elementos da equipa da Mandala Produções faziam a chamada e até dado momento tudo correu bem. Depois esses elementos desapareceram.
Todos aguardavam o seu reaparecimento ou da organização do PNL. Nada. As gravações tardavam a começar. O nervosismo dos alunos (concorrentes), o descontentamento geral foi-se instalando. Ninguém da organização do PNL dava explicações.
Elas viriam muito mais tarde. Havia problemas técnicos, porque o programa, que viera do estrangeiro, tinha sido adaptado para o caso português, mas, pelos vistos, não testado com a devida antecedência. Pais e professores manifestaram a sua indignação.
As gravações iniciaram-se já a meio da tarde e logo num dos primeiros painéis, uma das perguntas feitas permitia duas respostas. A resposta do concorrente foi considerada falsa, todavia a professora que o preparara foi ter com os jurados e fê-los ver que a questão permitia as duas respostas. A pontuação foi atribuída à resposta e o aluno foi o 1.º classificado desse painel.
Nessa altura fez-se um intervalo de mais de uma hora para que o júri pudesse rever todo o jogo. Regressou-se depois ao anfiteatro e as gravações prosseguiram.
Seguiram-se outros painéis. Todavia os problemas técnicos persistiram. A pergunta não aparecia no ecrã, as pontuações finais de cada painel apareciam completamente trocadas. Então, a equipa do PNL e alguns elementos da Mandala, anunciaram que, uma vez que não estavam reunidas as condições para gravar o programa, teria de se marcar nova data para que tudo fosse revisto e aperfeiçoado. 30 de Junho foi a data escolhida.
Os protestos foram muitos, pois estava-se a 16 de Junho, final de ano lectivo, com avaliações dos alunos do 3.º ciclo e a preparação para os exames nacionais dos alunos do ensino secundário. Eram 20:00h quando de lá saímos.
Dia 30 de Junho o programa decorreu sem grande percalços, mas houve ainda demonstrações de descontentamento. Os concorrentes não gostaram que a organização tivesse ignorado as classificações da primeira participação.
A 2.ª edição do concurso foi no ano lectivo de 2007/2008, também na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa. Mas nesta edição o PNL decidiu alterar o regulamento da Final Nacional. Assim, no dia 31 de Maio os concorrentes participaram numa semi-final para apurar os 12 concorrentes do 3.º Ciclo e do Ensino Básico e os 12 do Secundário, que estariam presentes na final, logo no dia 1 de Junho.
Houve alguns momentos de pausa e espera, mas nada comparável ao ano anterior. Mas algo indignou, tal como no ano anterior, pais e professores. O formato do programa que fora criticado no ano anterior mantinha-se. Não avaliava, nem distinguia os melhores concorrentes, pois bastava ser-se rápido a clicar num botão que accionava uma luz e permitia, ao concorrente, responder.
Constatava-se que todos estavam bem preparados, mas como se tratava de um jogo que primava pela rapidez com que se tocava no botão e no cumprimento de regras a que alguns concorrentes não obedeciam, como colocar os braços cruzados atrás das costas e só responder quando a apresentadora dissesse tempo, houve muitos protestos, sobretudo de pais e professores. O apuramento dos concorrentes para a finalíssima revelou-se injusta.
Depois de tantas queixas sobre o formato do programa, neste ano lectivo de 2008/2009, a organização do PNL, com o contributo de sugestões que lhes foram enviadas via mail ou transmitidas pessoalmente, foi alterado.
Todos os concorrentes participaram e foram avaliados em todas as provas e os jurados avaliaram a prestação dos concorrentes. A semi-final decorreu no dia 30 de Maio e a semi-final dia 31.
Neste ano foram várias as competências avaliadas: “Compreensão e conhecimento”, “Leitura e expressão” (expressividade, digo eu), “Escrita e criatividade” (referindo-se sempre aos conteúdo das obras), isto na semi-final. Já na final avaliaram a “Leitura e expressão”, a “Escrita e criatividade”, a “Argumentação e raciocínio”. Parecia um formato mais justo e mais de acordo com os princípios e objectivos do PNL.
Mais uma vez nada correu como previsto. Dia 30 de Maio foi um dia muito duro para todos e, mais uma vez, houve um grande desrespeito pelos concorrentes, pais e encarregados de educação e professores.
Os concorrentes foram chegando à Associação Recreativa e Cultural da Encarnação às 9:00 horas. Os pais e os alunos foram recebidos pela produção, para assinar o termo de recolha de imagens, receber o diploma de participação e um prémio pecuniário, pela deslocação. Foram também distribuídos uns sacos com alimentos aos concorrentes (ao contrário dos anos anteriores onde havia um buffet à discrição para todos).
Às 10:00 horas deviam começar as gravações. Mas isso não se verificou. As horas foram passando e nada de haver um esclarecimento, uma palavra de estímulo. A comunicação chegou por vota das 12:00 horas. Foi dito que havia um problema técnico com os computadores. As respostas que os alunos deviam escrever numa das questões não chegavam aos computadores dos jurados e que os técnicos informáticos ainda não tinham conseguido resolver, mas que, em breve, tudo estaria pronto. Mas não foi isso que aconteceu.
Perto das 12:30 horas, um dos organizadores das Produções Mandala, deu novas explicações. Era melhor almoçar-se mais cedo, às 13:00h (?), numa sala no exterior da Associação, seguindo-se a ordem dos painéis. Em primeiro lugar, o 1 e o 2, o 3 e o 4, e assim por diante, porque as gravações começariam às 13:15, 13:30 no máximo.
Como o espaço da Associação Recreativa e Cultural da Encarnação era pequeno, as pessoas foram-se sentando nas escadas, no chão, nos poucos sofás que havia. Ia-se perdendo a paciência. Iam-se ouvindo protestos. Ia-se ouvindo que o melhor era ir embora!
Comeu-se numa espécie de pardieiro (que pertence à associação), ao contrário dos anos anteriores. Devia ser o local de ensaios das marchas populares, porque havia os enfeites no telhado. Como não havia lugares sentados para todos, havia quem comia em pé, outros sentados uns em cima dos outros.
Concorrentes, pais e encarregados de educação, amigos e professores regressaram ao espaço da associação e, tal como antes, não se viu nenhum membro da organização. As horas foram passando. A indignação aumentou, pois ninguém dizia nada. Fazia muito calor e o espaço era efectivamente pequeno para tanta gente! Eram umas centenas de pessoas!
Vieram novas explicações, que tudo começaria por volta das 15:00h e que às 19:30h tudo estaria já concluído. Mas não foi assim. As portas do cine-teatro só se abriram às 16:00h e ainda todos aguardaram uma hora para os testes finais de som. O calor era muito, pois a sala não tinha ventilação nem ar condicionado.
Com os intervalos pelo meio, a semifinal do concurso terminou às 22:30.
É um facto que a estrutura do concurso e as provas testam o conhecimento de todos os participantes, mas também é verdade que a avaliação é subjectiva. Se no 1.º e no 2.º painéis o júri foi mais rigoroso na atribuição das classificações, com o passar do tempo passou a sê-lo menos.
Foi isso que indignou os pais da Inês Rocha, a Inês e me indignou a mim (em representação da Escola EB 2,3 El-Rei D. Manuel I, de Alcochete). Especialmente na classificação da frase da Inês, que escreveu uma frase complexa com a palavra resistência tendo obtido 61 pontos, enquanto outros de outros painéis escreveram frases simples. Um concorrente de um dos painéis finais escreveu uma frase curta com a palavra fantasia e teve 66 pontos.
A Inês Rocha ficou em 13.º lugar com 141 pontos. Como boa miúda que é, acabou por levar tudo na desportiva. Já os pais nem tanto. A mãe da Inês ainda foi falar com o júri e o rigor voltou no último painel, o 7.º.
Por tudo isto, creio que muitos concorrentes, pais e professores vão repensar se devem ou não participar. No meu caso pessoal não voltarei a envolver-me no Concurso Nacional de Leitura. Não vale a pena tanto esforço. Assisti sempre à insatisfação dos pais, à sua desilusão e indignação pela forma como eles e os seus filhos foram tratados. Dou-lhes razão!
Não esqueçamos que estes alunos são bons alunos e que para além do cumprimento dos compromissos escolares, ainda vêem o seu trabalho acrescido com a leitura e preparação para este Concurso Nacional de Leitura que começa no início do ano lectivo e só termina no final, passando por várias provas eliminatórias (1- Fase Escolas; 2- Fase Distrital; Fase Final). Para terminar, além das obras de leitura obrigatória na escola, a Inês Rocha leu e analisou mais seis obras: História Breve da Lua, de António Gedeão;O Mundo em que Vivi, de Ilse Losa; Em Nome do Amor, de Megg Rosoff; Diário de Anne Frank, de Anne Frank; O Fo e Cinzas, de Manuel da Fonseca; A História Interminável, de Michael Ende, tal como deve ter acontecido a outros colegas pelo país fora.
Uma última palavra para o Júri Nacional presidido por Isabel Alçada (comissária do Plano Nacional de Leitura), Alexandra Lorena (Ministério dos Assuntos Parlamentares), Maria Carlos Loureiro (representante da DGLB – Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas) e Fernando Pinto do Amaral (coordenador do Concurso) não é assim que se formam futuros leitores! Na verdade, estes alunos já são futuros leitores. Só se pretenderem dissuadi-los!