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O céu plúmbleo, as nuvens prenhes de água, o rio aparentemente calmo como um espelho estático, o horizonte tão ou mais de chumbo gritavam, na sua assumida e perene resolução, que a estação invernosa viera, indubitavelmente, para ficar.
Este dia quatro de Janeiro, do recém-nascido 2010, tal como os dias anteriores, mostrava-se triste, cinzento, frio e chuvoso. A chuva ora lenta ora brusca inundava o cais dos pescadores e toda a vila. Só o vento não era tão forte. Nem tão destruidor.
Dias antes, nada nem ninguém duvidara da sua capacidade de arrastar consigo, para as profundezas das trevas do Hades, tudo o que o ser humano possuía.
Porém, neste início de semana e de regresso à rotina, pairava uma tristeza fria e difusa, omnipresente, espelhenta na paisagem invernosa. Ainda assim não se podia dizer que fosse uma tristeza completa e infelizmente infeliz. Havia uma beleza pura, natural, quase mágica e onírica.
Até as gaivotas de tão estáticas pareciam petrificadas na paisagem! Mas não! Pelo contrário... Eram das poucas que tinham o privilégio de olhar o vazio e desconhecer o tédio, a monotonia dos dias, a rotina e a penumbra nebulosa de dias e dias de invernia.
Até as gaivotas de tão estáticas pareciam petrificadas na paisagem! Mas não! Pelo contrário... Eram das poucas que tinham o privilégio de olhar o vazio e desconhecer o tédio, a monotonia dos dias, a rotina e a penumbra nebulosa de dias e dias de invernia.
Quão pequenos somos perante a Natureza! O nosso poeta Camões havia de acertadamente, numa passagem de Os Lusíadas, apelidar os homens de "pequeno bicho da terra", contra quem a força dos elementos tudo pode e todos, sem excepção, nada podem fazer a não ser que a tormenta passe e que novos dias e novas esperanças ressurjam das entranhas.
4 comentários:
Que lindo texto escreveste, Natália! O tempo estava mesmo assim, triste e prenhe de água, na 2.ª feira.
Acho que conheço essas gaivotas e essa ponte.
Bjs
Como sempre um belo texto!
Bjs
Teresa,
claro que reconheces as gaivotas e a ponte!
São-nos muito familiares.
É curioso como as condições meteorológicas nos influenciam e inspiram de maneiras diferentes. Tens o dom da escrita bela!!!
Parabéns!
:)
Ah! Gosto muito do novo aspecto do tue blogue! Já tinha reparado nele antes, mas tinha-me esquecido de frisar este pequeno grande pormenor!
:)
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