domingo, 11 de abril de 2010

Ó cuco da ribeira


Estive oito dias no nordeste transmontano, em casa da minha mãe que mora numa pequena aldeia a dois quilómetros de Mirandela. Normalmente nunca passo lá mais do que três a cinco dias, mas não vou falar sobre as razões que me levaram anos e anos a optar por uma brevíssima estadia. Na verdade, acho que já falei sobre isso num outro post.

A aldeia, pequena, com poucos habitantes (não mais de vinte), fica no topo de um monte entre os rios Tuela do lado esquerdo e Rabaçal do lado direito. Os dois rios fundem-se num vale à vista da aldeia e é aí que nasce o rio Tua, bem no início do Parque de Campismo da Maravilha (a transbordar a partir de Junho!). As ruas são calcetadas, muitas casas estão a ser reabilitadas, outras são construídas de raíz e há ainda a Quinta entre os Rios, que foi reconstruída há alguns anos e que recebe
eventos e turistas, por se tratar de uma casa de agro-turismo.

Mas a razão deste post é para vos contar outras experiências e tradições ou crenças populares. Lembrei-me delas quando, nesta estadia, perguntei à minha mãe se já tinha ouvido o cuco cantar. A minha avó materna costumava dizer que se não se ouvisse cantar o cuco na Primavera isso queria dizer que o fim do mundo estava perto. Isso assustava-me bastante!

Lembro-me que eu e as minhas primas e amigas, entre os doze e dezasseis anos, fazíamos uma pergunta engraçada que também nos fora ensinada pelas avós.

Acreditava-se também que se se perguntasse ao cuco sobre a nossa vida amorosa, ele teria a resposta. Incrível! Como é que uma ave podia determinar a idade com que iríamos casar!? Mas eu e as minhas primas e amigas acreditávamos piamente no que nos diziam. Afinal tínhamos entre os treze e os dezasseis anos! E éramos, comotodas as adolescentes, umas sonhadoras...

Bastava-nos perguntar bem alto, para que ele nos ouvisse, «Ó cuco da ribeira, quantos anos me dás de solteira?» e a seguir contar as cantadadelas do cuco e adicionar o número obtido à nossa idade e assim teríamos a idade em que seria a boda. Parava-se de contar assim que o cuco parasse de cantar.

Para algumas das minhas primas e amigas o cuco parava pouco tempo depois de ter iniciado o canto (seis, dez, doze). No meu caso, cheguei a contar trinta cantos, quarenta e mais, o que me levou a desistir. Nessa altura não imaginava que, afinal, não casaria, enquanto as minhas amigas e primas o fariam.

A tradição popular tem destas singularidades que, às vezes, coincide com a realidade. Engraçado, não é?

Nesses dias em Trás-os-Montes, passeando pela aldeia com a minha mãe, voltei a ouvir o canto do cuco e senti um misto de nostalgia e felicidade.
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Nota: foto de F. Nando de uma das casas da "Quinta entre os Rios"

11 comentários:

Rafeiro Perfumado disse...

Então e se o cuco ficasse calado, a pessoa tinha de correr para a Igreja? ;)

Beijocas!

Natália Augusto disse...

Não! Ficava triste, pois isso significava que não casaria...

Poetic Girl disse...

Adoro mirandela. todos os anos passo aí sempre alguns dias também que são dividos entre a cidade e uma pequena aldeia (valongo das meadas)... é sempre relaxante, se bem que depois vêem as saudades da minha cidade.... beijocas

Adorei a partilha dessa crença tradicional, e a verdade é que ás vezes essas crenças não estão assim tão erradas... beijo

Natália Augusto disse...

Conheço perfeitamente Valongo das Meadas. O meu pai e a família dele eram de lá. Tenho lá primos.

Acho que tens razão. A voz do povo tem sempre um fundo de verdade. Também é sabedoria, feita sobretudo de experiência.

Olga Mendes disse...

Adoro as crenças populares, são cheias de magia. Talvez o cuco queira dizer que não te casas no papel, que sejas uma mulher de paixões. Afinal o que é casar de papel passado? Casar com o coração é que vale! Adorei! Beijinhos.

Natália Augusto disse...

Casar de papel passado não quer dizer nada. O amor que se sente é que é importante, de facto.

Beijocas

F Nando disse...

São curiosas essas tradições e/ou lendas pena algumas se irem perdendo...
Bjs

Natália Augusto disse...

Olá Nando,

É bem verdade. Mas acho que ainda posso fazer alguma coisa. E há também quem faça.


Bjs

Unknown disse...

Adoro o Norte. Afinal tenho não sei quantas costelas lá de cima...
E quanto às crenças...
Bj

Natália Augusto disse...

Pois é, Ana. Crenças são crenças, efectivamente. Masnão deixam de ser engraçadas...

:)

Colar de Pérolas disse...

Novidade na blogosfera, vale a pena conhecer:http://lukesi-colardeperolas.blogspot.com/