terça-feira, 7 de setembro de 2010

Difícil de Aceitar

Gostava tanto do que fazia no seu trabalho. Trabalhava em equipa com as colegas e amigas que , hoje, raramente vê, mas com quem se comunica, de vez em quando. Foi até trabalhar para o estrangeiro e, no regresso, logo se sentiu perdida e insegura. Ainda assim, trabalhou, sem necessidade, as férias todas. Nos momentos de maior quantidade de trabalho nem descansava, fazia directas. Era já a fase da "mania" e da "obsessão". Depressa mudaria para as lágrimas e, anos mais tarde, para os ataques de pânico, a angústia, os desmaios, as faltas de ar, a incapacidade de transpor a porta não obstante estar pronta para o fazer.
Tudo começou pelo diagnóstico de uma depressão que não foi tratada, por vontade da paciente que achou que daria conta do problema sozinha. Seguiu-se-lhe a perda total da auto confiança e pouco tempo depois teve um esgotamento que a levaria à cama por um período de sete meses. Havia cura? A família achava que sim. Aliás não compreendiam muito bem o que se passava com ela. Tinha tudo. Fisicamente estava bem! Não havia razão para estar a viver estas crises.
Porém o seu estado de infelicidade, desespero, angústia, abulia aumentava. Saía de casa para o trabalho, mas em vez disso ia chorar para a beira rio e, em casa, mantinha um diário onde contava os seus desconcertos. Até que, não aguentando mais, tentou pela primeira vez (pois haveria outras) o suicídio. O irmão socorrê-la-ia à distância e ela terminaria internada num hospital psiquiátrico.
Procurou outros médicos, outras terapias, até que lhe foi diagnosticada esta doença do foro mental: depressiva bipolar/maníaco-depressiva. Fez-se sócia da ADEB (Associação de Apoio aos Doentes Depressivos Bipolares) onde, às vezes, vai aos encontros, às sessões psicopedagógicas, às terapias de grupo.
Se a família levou anos a "acreditar" nesta doença mental e nos seus efeitos, os seus amigos nem acreditam nesta doença tão perturbadora e que causa tanto sofrimento a quem a padece. Fisicamente pode-se estar muito bem (?), às vezes finge-se, mas é na mente e nos pensamentos tortuosos que tudo acontece. Estas pessoas são seres frágeis, com alteração de humor, que cometem as maiores atrocidades (gastos excessivos; condução perigosa; abuso do álcool; destruição de objectos em casa,...)
Não há cura. Há medicação que ajuda a estabilizar estes altos e baixos e, ainda assim, nem sempre se consegue esse equilíbrio.

10 comentários:

Louise disse...

Deve ser realmente muito dificil viver com essa doença, seja ou não na primeira pessoa.

João Roque disse...

Terrível!!!!

Poetic Girl disse...

Li um livro da Danielle Steel sobre o filho dela Nick que sofria dessa doença. Um relato bastante bom, real... tenho ideia do que possa ser esse sofrimento, embora só quem vive de perto pode efectivamente ter consciência do que é. bjs

Natália Augusto disse...

Muito. No fundo, vive-se sempre sem saber como se estará e sempre dependente de químicos.
É uma doença crónica que não se vê,como a maior parte da doenças mentais.

Beijos Louise

Natália Augusto disse...

Sim, Pinguim, é terrível. Pior é quando no local de emprego se é colocada de lado por, em determinadas alturas do ano, ter de se faltar... como se isso fosse algo que se controlasse.

:)

Unknown disse...

Natália,
Q dizer q não tenhas já dito? (Re)aprender a viver dia após dia, contar até 10, ou 20, ou 100 e pensar que é uma fase que vai passar e o amanhã será diferente.
Contar com os amigos que afinal são poucos, mas bons, que é o mais importante e seguir em frente.
Bj.

Natália Augusto disse...

Na ADEB encontra-se literatura que ajuda e que esclarece pacientes e familiares. Ao início,nem o paciente sabe o que tem e como reagir. O mesmo se aplica à família e aos que estão mais próximos.
Há uma certeza, devia haver um plano nacional para quem sofre de uma doença mental.

Beijinhos

Natália Augusto disse...

ÀS vezes parece tão simples, Ana. Noutras nem por isso;sobretudo se a medicação é alterada e os efeitos secundários são desastrosos! Foi o que aconteceu a partir de julho... foi horrível.

Beijos.


Obrigada pela força.

F Nando disse...

APRENDER a viver com alguém assim e ACEITAR...
Bjs

Natália Augusto disse...

Caro Nando,

Nem sempre é fácil. Só o amor supera tanta dor...


Beijos