quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Sem Título e só Universo

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Esta é a minha participação para a «Fábrica das Letras» neste mês de Setembro de 2010, que agora se inicia. O tema é LIVRE!

Quando em Agosto entrei no meu escritório/biblioteca na casa da minha mãe, em Trás-os-Montes, toquei e abri alguns livros, revi álbuns de fotografias e reli alguns papéis escrevinhados há anos.

Deixo-vos com uma carta. Tem um destinatário imaginário: sem idade, sem rosto, sem credo ou raça. Na altura em que a escrevi andava demasiado ocupada com as minhas leituras e outros escritos.


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Carvalhais, 14 de Fevereiro de 2001


ESSÊNCIA DA MINHA ESSÊNCIA


Depois da ausência inesperada, finalmente o reencontro infinitamente adiado... Sei que devia ter chegado antes, ter-me manifestado, porém retiveram-me onde eu já não era há tanto tempo... E ninguém sabia!

Como soubeste que me aprisionavam? Como conseguiste encontrar-me? Saberei ou saberás dizer-me como chegaste até mim?... Confesso-te que não sei... Pedes-me que te conte o que me habita... Só que é demasiado doloroso lembrar que na altura eras só essência e eu a sombra de mim mesma.

Fui Eurídice para que tu fosses Orpheu e me resgatasses das profundezas que me tragavam. Mantive-me atenta para sondar o mistério, para ouvir a melodia ténue das esferas, para te ouvir. Soube esperar e tu vieste. E não olhaste para trás como ele.

Foi a tua voz divina, sussurrada em silêncio que me devolveu o SER. Ouvi-a veladamente, mas soube que eras tu. Deixei então que me levasses para onde eu seria novamente.

Soçobram em mim, em ti tantos momentos sonhadamente oásis que a Hora não poderá nunca apagar... porque a poesia que nos habita é indecifrável... porque só na nossa exsitência azul o sabemos. Nós conhecemos o indizível.

Temos o mesmo olhar de opala, claro, límpido, como outrora. É de ouro a claridade que nos une, porque tudo em nós é paisagem... etérea. Somos impensadamente melodias do SER. A ESSÊNCIA que somos poucos a sabem. A maioria desconhece-a nós não, porquanto saibamos que antes do reencontro houve duras provas a enfrentar. E que provas dolorosas conhecemos, meu amor...

Agora somos indefinidamente SEM TÍTULO e só UNIVERSO. Somos na nossa grandeza a anunciação da aurora sagrando de eternidade os que se amam.


Sempre.

Marília

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Nota:

1- Mantive o nome imaginário do remetente.

2- Se não puder participar com este texto por ser de 2001, logo, logo participarei com outro.

8 comentários:

Poetic Girl disse...

Também eu escrevia cartas assim, aliás ainda hoje escrevo. Para ninguém em especial e ao mesmo tempo para toda a gente, adorei a partilha. bjs

chica disse...

Linda, intensa e muito bem escrita carta!

Bela participação!

um beijo,tudo de bom,chica

João Roque disse...

Este tema livre é muito interessante, pois permite-nos escolher textos muito pessoais, mais interiorizados e que nos ajudam a desabafar o que nos vai na alma.

Sandra disse...

Universo é tudo o que temos a nosso favor amiga.
Parabéns pelo tema livre. Escrever nos inspira a voar pela imagnação.
Amo escrever. Por isso meu tema é Vida de Poeta.
Interação de amigos também está participando. Vou te esperar por lá.
http://sandrarandrade7.blogspot.com
este é um momento onde todos trocam experiências.As coletivas aproximam as pessoas.
Carinhosamente,
Sandra

Briseis disse...

Lindo! Tão intenso e, ao mesmo tempo, tão óbvio... =)

Anónimo disse...

Olá, Natália! Primeiro, venho agradecer sua visita ao meu blog: muito gratificante. E quero parabenizar-lhe pelo blog: está muito bom. Gostei deveras de seus textos, que chamo de crônicas. Lembram-me muito as de um escritor, cronista brasileiro chamado Rubem Braga, conhece-o? Ele "cronicava" com o mesmo certo lirismo e simplicidade que notei em suas crônicas. Vocês está de parabéns.
Grande abraço,

Olga Mendes disse...

Muito bonito. Acho que encontrar assim uma carta escrita há algum tempo e escrita como para o "universo" dá sempre aquele frio na barriga, só realmente pessoas de grande sensibilidade para o fazerem. Adorei a carta! Beijinhos.

Brown Eyes disse...

Bom encontrar um pouco do nosso passado. Linda carta mas foi fificil encontrá-la no teu blog. Podes concorrer com temas antigos mas deves pôr o endereço do post que aparece na barra superior depois de clicares no título do post.
Beijinhos