domingo, 7 de novembro de 2010

TRANSPARÊNCIA

Os tempos eram difíceis. Muito. Adão de 35 anos e Eva de 28 eram um casal feliz e não tinham filhos. Eram um casal moderno e bem sucedido profissionalmente. Adão era piloto numa grande e reconhecida companhia aérea. Eva trabalhava num escritório de advogados e era considerada uma fera, pois não perdia uma causa.

Porém um dia, sem aviso e inesperadamente, o avião onde seguia Adão despenhou-se no oceano atlântico. Nas notícias disseram que não havia sobreviventes. Eva ficou dilacerada com a dor. Sofreu sentidamente o desaparecimento do homem que tanto amava. Porquê? Não havia resposta... nem corpo para ser velado. Dor imensa que nunca viria a desvanecer-se.

Deixou de aceitar tantos casos no escritório de advogados. Perdeu muitos. Chorou no tribunal perante todos. No escritório, aconselharam-na a tirar umas férias para descansar. Estava com um esgotamento...
Antes da morte de Adão tudo parecia tão certo, tão completo, tão tudo. Agora restava-lhe o vazio liso e transparente. A ausência física do homem original provocava-lhe tremores ou febres flébeis de morte. Até que um dia, depois de uma noite a beber sozinha o fel da sua amargura,se zangou consigo mesma por estar naquele estado tão deplorável. Bebeu até cair para o lado. Bebeu para voltar a estar sóbria e renascer de novo para a vida e, quem sabe, um dia, para a transparência do amor.





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Esta é a minha participação de Novembro para a Fábrica das Letras.

9 comentários:

Gonçalo disse...

Olá Natália, já há data e local para o encontro desde há umas semanas e a teu gosto. Sintra e na noite de dia 11 de Dezemebro, ou seja, perto de Lisboa e ainda distante do Natal :)

Conto contigo, começa a divulgar e participa em conjunto com todos :)

Beijinhos***

Unknown disse...

Pois é Natália... Por vezes temos tudo tão certinho, tão arranjadinho na nossa vida, tão transparente e de repente aparece um furacão, vindo do nada, e zás!! toma conta de tudo, nada lhe resiste. Eu sei...
Bjs

Poetic Girl disse...

Quantos de nós não encerram dores parecidas dentro do peito! lindo, bjs

Natália Augusto disse...

Que bom Gonçalo! Vou divulgar o encontro e "arrastar" comigo outros bloguistas.
Sintra é um local fantástico.

Beijocas

Natália Augusto disse...

Minha querida Ana,
Eu sei que sabes... Ambas sabemos... E continuamos a lutar, a permanecer, a durar, como diria Fernando Pessoa.

Beijnhos

Natália Augusto disse...

Olá Bela,
como tens razão. Onde há felicidade, há também dor ou se não há ela vem subrepticiamente.

Beijinhos.

Gonçalo disse...

Faz isso por mim e por todos os que querem um Natal feliz :)

Beijinhos e até breve :)

Natália Augusto disse...

Este é o verdadeiro espírito de Natal. Estarmos juntos, partilharmos experiências e sermos felizes, nem que seja nesse momento.

João Roque disse...

Devia haver mais "Evas" assim.