sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Amor(es) proibido(s)


Foto de N Augusto
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Todos os dias passava por aquela casa. Era, de facto, uma belísssima moradia. No entanto, sem desprimor da bela construção, o que mais a cativava era aquela janela.
Aquela janela era mágica. Gostava da grade de ferro forjado que a protegia de possíveis invasores, com imensos corações desenhados. Bom, era isso que ela via e queria ver! Gostava também de, na Primavera, ver os vasos pendurado, cheios de belas sardinheiras carmim. Que contraste cromático encantador! Sim, gostava muito daquela janela.
Imaginava que noutros tempos, bem longínquos, a janela já fosse assim e que uma bela rapariga da vila lá morasse e que se tivesse apaixonado por um forcado vindo de uma terra distante. Mas como a família não aprovava tal namoro, tinha ali colocado aquela separação entre os amantes, tendo enviado a rapariga para o Minho, para casa de uns parentes. O romance acabaria com o passar do tempo.
Imaginava também que morava ali uma família brasonada e que a filha mais nova se havia enamorado por um pescador da vila. A noite escura era a protectora dos seus encontros naquela janela. Através dela fizeram juras de amor eterno, trocaram prendas e deram o primeiro beijo. Só que, certa noite, a mãe acordou a meio da noite e descobriu o que se passava. Nada disse. Porém algo deve ter contecido porque, a partir daquela noite, o pescador desapareceu. A bela jovem, entre lágrimas, esperou em vão pelo seu amado.
Imaginava também que uma família rica, possuidora de várias herdades, tivesse como único filho um varão. Era um homem alto, espadaúdo, olhar sedutor. Não viria nunca a casar-se por ser como era. Conquistava todas as belas moças da vila, prometia-lhes este mundo e o outro e elas, ingénuas e apaixonadas, acreditavam.
De entre todas as suas conquistas, só uma delas, passados largos anos, lhe bateu à porta. Ele, arrogante, abriu-lhe a janela. Ela não temeu aquele olhar. Disse-lhe tudo o que engolira durante anos. Terminou a conversa dizendo-lhe que merecia a solidão e a pobreza que se abatera sobre a sua família! Não soubera nunca amar. Nem nunca tinha sabido deixarse amar por pura luxúria! Ele mandou-a embora e ela foi feliz.
Quantas histórias ela imaginava a partir daquela bela janela. Quantas histórias poderia ainda criar a partir dela.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Um pouco tarde...






Sempre gostei de escrever. Creio que não restam dúvidas desse meu gosto pessoal. Tinha sete ou oito anos quando escrevi as primeiras quadras sobre a Primavera. Uma tia materna, com quem vivia na altura, ficou com elas e o tempo fez com que desaparecessem. Estavam escritas numas folhas de caderno, a lápis.

Durante anos escrevi em caderninhos que o meu pai me trazia, em guardanapos de papel, ou noutro material qualquer.

Nessa altura gostava apenas de escrever e sentia tudo o que escrevia. Além disso, os professores elogiavam, liam em voz alta ou pediam-me a mim para ler em voz alta os meus textos. Lia-os timidamente, apesar de saber que os meus colegas não usavam o vocabulário que já usava.

Sempre lera muito! Lia, escrevia e a minha mãe e tias contavam-me muitas histórias. Havia todo um imaginário poderoso dentro da minha mente.

Sempre gostei de escrever nos cadernos onde aprendi caligrafia. Na escola francesa, os cadernos eram não só para escrever, mas para treinar a caligrafia! Tinha uma letra linda: redondinha, certinha, perfeita.

Hoje a minha letra já não é como naqueles anos de ouro, mas compro sempre esses cadernos quando vou a França. É aí que escrevo poemas, pensamentos, onde copio citações ou apontamentos sobre vários assuntos.


Às vezes não sei o que faça com o que escrevo! Acho que não digo nada do mundo, nada do mundo que é e que os outros são!


Ainda assim vou escrevendo, porquanto as histórias, poemas, pensamentos invadem a minha mente doentemente febril e meu ser angustiado. Às vezes não me econheço nas palavras que escrevi. Deve ser outra. Outra que mora num mundo tão distante deste, onde nada de mal acontece, sobretudo aos que eu amo e quero tanto proteger.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Respondendo a um desafio



A Olga, do blogue "Pensamentos, Ideias e Sonhos" ( http://pensamentosideiasesonhosblogspot.com/ ) desafiou-me a responder a algumas questões. Vamos ver se consigo... até porque hoje não estou nos meus melhores dias...



As 10 questões são as seguintes:


1- Dois truques de beleza: estar sempre glamourosa (roupa, cabelo e maquilhagem). Tive que acrescentar mais um. "Sorry".

2- Duas prendas que gostas de receber: jóias e perfumes.

3- Local preferido para fazer compras: Paris.

4- Dois defeitos: nervosa e pessimista.

5- Duas qualidades: meiga e sincera.

6- Dois produtos de beleza recomendados: desmaquilhante da Vichy, creme refirmante da Avène.

7- Três manias: estar sempre a mexer no cabelo, arrumar sempre os livros nas estantes mesmo que precise deles no dia seguinte, ser perfeccionista.

8- Três características que não suportas nas pessoas: mentirem, deixarem de me falar depois de terem sido simpáticas, fazerem-nos sentir inferiores.

9- Três características que adoras nas pessoas: pessoas meigas, carinhosas, sinceras.

10-Pessoa especial para ti: o meu amor, o meu irmão e os meus verdadeiros amigos. "Sorry" mais um vez. Tenho várias pessoas especiais!

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Passo o selo a 5 pessoas muito queridas:

Teresa

Ana

Ana Paula

Eli

Fatucha


Entrem no desafio, pois até que é giro! Obrigada à Olga porque depois de ter respondido às 10 questões sinto-me mais alegre.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Uma rosa é sempre uma rosa


As rosas são indubitavelmente as minhas flores preferidas. São belas e perfumadas, parece que têm coração, há-as de mil cores e são efémeras. Em suma, as rosas são belas e efémeras e, talvez ,por isso me fascinem. Além disso, inspiraram e continuaram a insperar poetas, romancistas, pintores, escultores.

Rosa costuma ser um nome próprio feminino. Rosa Lobato de Faria era, de facto, uma rosa: linda, com um grande coração e muita sensibilidade. Já não está fisicamente mais entre nós, mas continua connosco, na nossa memória.

Rosa Lobato de Faria é intemporal: nos seus livros, nas suas participações na televisão e no cinema. Mulher de corpo inteiro e de alma grande. São assim os seres com uma aura de divindade.



O teu amor absoluto
O teu amor absoluto
é como a hera que envolve as paredes da casa.
Quero ser a casa
e que arranhes a cal da minha pele
e te aninhes nos meus ouvidos fenda
e perturbes a porta da minha boca.
E por fim
procures o perigo das janelas
e enfrentes os meus olhos
infinitos de mágoa
noite e assombração.
Rosa Lobato Faria
(1932-2010)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Reencontrei as palavras

Meu Amado


Perdi as palavras. Muitas palavras que não conheces e que não quero que conheças. Elas não fazem parte deste nosso encontro com o Amor, que veio ter connosco quando menos esperávamos. No nosso primeiro abraço, nosso primeiro beijo, no passeio à beira rio, nasceram-me outras palavras. Reeencontrei-as lavadas pela luz da lua.

Apareceram-me outras palavras nesse e nos outros meses que se seguiram. As palavras tornaram-se solares e passaram a dizer sentires que desconhecia por completo. Tudo o que eu imaginara durante anos de encantamento e sonho e nada mais que sonho, tornou-se realidade. Não duvidei, não pûs nada em questão. Havia tantas coincidências felizes, sintonias inesperadas mas já imaginadas, que não podia, nem queria fugir de ti, de nós.


As palavras que te disse e escrevi, que ainda digo e escrevo surgem-me tenuemente, numa melodia poética, como seres alados, deixando nas rosas as gotas de orvalho deste enamoramento . Todas elas nascem no coração. Todas elas são únicas e intemporais. Muitas delas são irrepetíveis.
Amo-te. Sim, amo-te. Não me canso de repetir o quanto eu te amo. Amo-te de paixão, quero-te muito e para sempre.
Muitas foram as palavras escritas para definir o amor. Poetas, romancistas, dramaturgos não se cansaram de o fazer e não deixam de o fazer.
Eu estou a descobrir e a viver o nosso amor.
Beijos e abraços doces

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Cartas de Amor


Não, não tenho medo de falar de sentimentos. Na verdade, sou uma romântica e uma sentimental e a minha sensibilidade de ver para além do aqui permite-me antecipar tanta, mas tanta coisa.

Não poderia deixar de passar o dia de hoje (amanhã) em branco. Não lerão um texto meu, mas um texto que todos conhecem e que é intemporal.

Foto de F Nando

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Cartas de Amor

Todas as cartas de amor são ridículas.

Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,

Como as outras, ridículas.

As cartas de amor, se há amor,

Têm de ser ridículas.

Mas, afinal,

Só as criaturas que nunca escreveram

Cartas de amor

É que são ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia

Sem dar por isso

Cartas de amor ridículas.

A verdade é que hoje

As minhas memórias

Dessas cartas de amor

É que são ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,

Como os sentimentos esdrúxulos,

São naturalmente ridículas.)

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Autor: Fernando Pessoa

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ídolos

Foto de F Nando
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Uma belíssima mulher
Sensual, elegante, com um olhar de feiticeira
Um ídole, um ícone, um mito
Uma diva, uma estrela, uma mulher
A paixão por homens possíveis e
impossíveis
E uma morte precoce
Envolta em mistério
Assim ficou na história do cinema
Marylin Monroe

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Entre o sonho e a realidade

Ela tinha um sonho. Na verdade, muitos sonhos e sabia que não poderia realizar muitos deles. Ainda assim continuava a sonhar. Sonhava os seus próprios sonhos e realizava muitos deles também em sonhos. Gostava de voar num balão. Sonhava com o dia em que isso aconteceria.
Nesse dia não estaria vento. Veria o balão ser estendido no chão de um qualquer parque, veria também montar todos os apetrechos no interior que segurariam o cesto e a bomba que inflaria de ar quente o balão. Depois de o balão estar pronto a subir nos céus de Outono, entraria e a viagem teria início.
Um dia revelou esse sonho amigos, enquanto todos falavam em realizar aventuras mais radicais: voar de asa delta; fazer paraquedismo; andar num carro de fórmula 1. Tantos sonhos. Todos radicais. Fora das suas vidas rotineiras e comuns.
Todos riram no fim das suas pequenas loucuras. Mas houve um desses sonhos que se realizou. O sonho que ela tanto desejara: voar num balão. O grupo organizou-se de forma a que ela não suspeitasse de nada. Procuraram na net as empresas ou associações que faziam esses voos, fizeram a marcação e, uns dias antes do seu aniversário, começaram a fazer insinuações. De que ela ia adorar a prenda, que não iria adivinhar o que era, mas que já alguns meses falara nisso. E ela não conseguiu adivinhar, claro! Sabia que a viagem não era propriamente acessível. Por isso nem se lembrou.
Então, no dia do aniversário, entre outras prendas, foi-lhe entregue um envelope. Quando o abriu nem queria acreditar! Que felicidade.


Tudo aconteceu como imaginara. Chegar ao local e ver o ritual de inflar o balão. Senti-lo encher aos poucos até poder entrar, quando cheio, no cesto com dois amigos e o piloto. E a pouco e pouco o balão foi flutuando cada vez mais alto e mais alto ao sabor do vento e de acordo com o piloto.
O silêncio não era total. Apesar de se afastarem da terra, ouviam-se os sons da terra, sobretudo as vozes dos animais domésticos (galos, ovelhas, cabras). A terra vista do ar, de longe, era magnífica. Poder ver em tamanho pequeno os vilarejos, as quintas, o comboio deixaram-na feliz e estranhamente calma e tranquila, como se sempre tivesse sido uma " balonista".
Pousaram bem longe do local de onte tinham saído. É que os balões flutuam ao sabor do vento! Não foi muito dramático pousar o balão. Todos eles sentiram um forte abanão quando o cesto tocou o chão. Para terminar bem o voo, o piloto e o seu ajudante abriram uma garrafa de espumante bem fresquinho! Afinal aquele era o baptismo de voo num balão para os três.


Fotos de Nuno Martins

domingo, 7 de fevereiro de 2010

«A Pirâmide Invertida"

Museu do Louvre
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Nem sempre reparamos no que nos cerca. Às vezes, são necessários dias ou novas visitas para vermos melhor o que nos cerca.
Há descobertas espontâneas. Parece que são elas que enfeitiçam o nosso olhar. Outras há que são indicadas por certos livros, reportagens, revistas.
O Museu do Louvre não é um museu qualquer. Para além das diferentes alas, há vários átrios que podemos visitar e onde até nos podemos perder, na verdadeira acepção da palavra.
Depois de ter visitado o Museu do Louvre por várias vezes, só depois de ler o livro O Código Da Vinci, de Dan Brown é que passei a ter curiosidade em ver "ao vivo e a cores" a "pirâmide invertida". Como me passara despercebida, eu que sou tão atenta a tudo, chegando mesmo a descobrir pormenores que ninguém antes tinha reparado ou visto?
Mas logo que pude, fui certificar-me que existia. E não é que existia mesmo? Não era ficção...

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Casa do silêncio

Foto de F Nando
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O silêncio abriu a porta da casa da duna e instalou-se como se fosse sua. Entrava e confirmava que era o único ali. E era! Nada se movia. Nada! Nada! Nem os cortinados com o vento que entrava pelas frestas das janelas. Nem as portas se abriam ou fechavam. Nem as chávenas de porcelana tilintavam nos antigos guarda-louça, nem as plantas estremeciam com a luz. Não havia gatos,nem cães.
O silêncio era sepulcral, ainda que não fosse ameaçador. O silêncio era indefinível. Não era como outros silêncios: acusadores, sentenciosos, de desprezo e preconceito..
O silêncio tinha entrado na casa para, simplesmente, continuar as suas leituras! Entrara ali uma vez e descobrira uma biblioteca valiosíssima. Desde então, sempre que os donos se ausentam, ele entra e põe-se a ler, sentadinho numa poltrona.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Expiação



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ARTE LISBOA 2009
Foto de F Nando
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FIL

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Vozes do Mar

Foto de F Nando
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Este silêncio de Inverno feito de vendavais, nevões, chuvadas torrenciais, dias e dias de céu de cores de chumbo e quase azul escuro são o anúncio dos gritos mudos do mar. O mar tem voz e é das mais belas: pode ser tempestuosa, melódica, tranquila e diz tanto sobre o que sente. Tem um sentir inimaginável que se perde na distância e fusão de todos os Oceanos.
Agora anda enfurecido. Muito. Atira-se contra as escarpas dos promontórios, as vagas crescem enormemente e os areais ficam à sua mercê.
O mar é um poeta. É no silêncio que escreve os mais belos poemas nos corais, nos tesouros que ainda alguém há-de descobrir. Há tantos mistérios no silêncio fundo do mar!